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Pesquisadores estudam o papel das nuvens no cenário climático

1 de julho de 2020
5 min. de leitura
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Imagem de poluição saindo pelos dutos de uma fábrica
Pixabay

Os piores cenários de aquecimento global podem precisar de uma nova revisão para uma melhor compreensão do papel das nuvens, disseram os cientistas.

Dados recentes de modelagem sugerem que o clima é consideravelmente mais sensível às emissões de carbono do que se acreditava. Especialistas disseram que as projeções podem ser “inacreditavelmente alarmantes”, embora eles tenham enfatizado que mais pesquisas são necessárias para validar os novos números.

Os resultados da modelagem de mais de 20 instituições estão sendo compilados para a sexta avaliação do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que deverá ser lançada no próximo ano.

Comparado com a última avaliação em 2014, 25% apresentou uma mudança crescente na sensibilidade climática de 3 ºC para 5 ºC, a quantidade de aquecimento projetada para a duplicação do dióxido de carbono atmosférico do período pré-industrial de 280 partes por milhão.

Isso chocou muitos observadores veteranos, porque as suposições sobre a sensibilidade climática mantem-se relativamente inalteradas desde a década de 1980. “Essa é uma grande preocupação”, disse Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para a Pesquisa de Impacto Climático. “A sensibilidade climática é o Santo Graal da ciência climática. É o principal indicador de risco climático. Por 40 anos tem sido aproximadamente 3 ºC. De repente, estamos começando a ver grandes modelos climáticos nos melhores supercomputadores, mostrando que as coisas podem ser piores do que pensávamos.”

Ele disse que a sensibilidade climática acima de 5 ºC reduziria o escopo da ação humana para reduzir os piores impactos do aquecimento global. “Não teríamos mais espaço para um pouso suave de 1,5 ºC (acima dos níveis pré-industriais). O melhor que poderíamos almejar é 2 ºC”, disse. As projeções do pior caso acima de 5 ºC foram geradas por vários dos principais órgãos de pesquisa climática do mundo, incluindo o Met Office Hadley Centre, do Reino Unido, e o EU Community Earth System Model (Modelo Europeu do Sistema Terrestre).

Timothy Palmer, professor de física climática na Universidade de Oxford e membro do conselho consultivo do Met Office, disse que o número elevado deixou os cientistas nervosos. “Foi muito além das estimativas anteriores. As pessoas perguntaram se havia algum erro no código”, disse. “Porém, tudo se resumiu as mudanças relativamente pequenas na forma como as nuvens são representadas nos modelos.”

O papel das nuvens é uma das áreas mais incertas na ciência climática, porque elas são difíceis de medir e, dependendo da altitude, da temperatura da gotícula e de outros fatores, podem desempenhar um papel tanto de aquecimento quanto de resfriamento.

Durante décadas, este tem sido o foco de ferozes conflitos acadêmicos. Relatórios anteriores do IPCC tendiam a supor que as nuvens teriam um impacto neutro, porque os feedbacks de aquecimento e resfriamento se cancelariam. Porém, no último ano e meio, um conjunto de evidências tem mostrado que o efeito resultante será o aquecimento.

Isso é baseado nos modelos de computador de resolução mais fina e microfísica de nuvem avançada. “As nuvens determinarão o destino da humanidade: se o clima é uma ameaça existencial ou um inconveniente com o qual aprenderemos a conviver”, disse Palmer. “Os modelos mais recentes sugerem que as nuvens piorarão as coisas.”

Em um artigo recente da revista “Nature”, Palmer explica como o novo modelo da Hadley Centre, que produziu o valor de +5 ºC na sensibilidade climática foi testado ao avaliar sua precisão na previsão do tempo de curto prazo. Essa técnica de teste expôs falhas em modelos anteriores, mas, no último caso, os resultados reforçaram as estimativas. “Os resultados não são tranquilizadores, eles apoiam as estimativas”, escreveu. Ele está pedindo que outros modelos sejam testados de forma semelhante.

“É realmente importante. A mensagem para o governo e para o público é, vocês devem levar essa alta sensibilidade climática a sério. Devemos reduzir as emissões o mais rápido possível”, disse.

Espera-se que o IPCC inclua o valor na sensibilidade climática de +5 ºC em seu próximo relatório sobre a gama de resultados possíveis. Os cientistas advertem que este é um trabalho em andamento e que as dúvidas permanecem, porque um número tão alto não se encaixa com os registros históricos.

Catherine Senior, chefe de compreensão da mudança climática no Met Office Hadley Centre, disse que mais estudos e mais dados seriam necessários para entender completamente o papel das nuvens e aerossóis. “Este valor tem o potencial de ser incrivelmente alarmante se estiver certo”, disse. “Como cientista, minha primeira resposta é: por que o modelo fez isso? Nós ainda estamos na fase de avaliar os processos que conduzem a resposta diferente.”

Apesar de reconhecer a contínua incerteza, Rockström disse que os modelos climáticos ainda podem estar subestimando o problema porque eles não levaram totalmente em conta os pontos de inflexão da biosfera. “Quanto mais aprendemos, mais frágil o sistema terrestre parece ser e mais rápido precisamos nos mover”, disse. “Isso dá argumentos ainda mais fortes para sair dessa crise de Covid-19 e mover-se a toda velocidade para a descarbonização da economia.”


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