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Especialista em vida selvagem narra viagem ao Brasil em busca de grandes mamíferos

6 de setembro de 2013
5 min. de leitura
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Por Claudia Doppler (da Redação)

*Esta é a primeira de uma série de matérias de Chriss Moss, que viaja com a empresa especialista em vida selvagem Naturetrek,  sobre os “Cinco Grandes” mamíferos do Brasil: anta, tamanduá gigante, lobo-guará, ariranha e onça-pintada. As matérias foram publicadas no Telegraph, nas datas de 06, 14, 22 e 30 de agosto.

O grande prêmio seria espionar uma onça-pintada, o terceiro maior felino do mundo. (Foto: Reprodução/ Telegraph)
O grande prêmio seria espionar uma onça-pintada, o terceiro maior felino do mundo. (Foto: Reprodução/ Telegraph)

O Pantanal é o país das maravilhas da vida selvagem do Brasil. Na esquina sudoeste do país, acotovelando Bolívia e Paraguai, é um sistema de pântanos de mais de 200 bilhões de quilômetros quadrados, que toma a maioria do estado de Mato Grosso do Sul e uma seção do estado de Mato Grosso. O nome “Mato Grosso” significa “mato denso” e será familiar para qualquer um que leu sobre as explorações do Coronel Percy Fawcett, explorador excêntrico nascido na cidade britânica de Torquai, que desapareceu em 1925, próximo ao Rio Xingu, enquanto procurava a misteriosa Cidade Perdida de Z. Mais do que 15 anos atrás viajei de trem entre Campo Grande e Corumbá, em linha ferroviária – hoje não mais usada – que corta o Pantanal. Lembro-me como a floresta densa se espremia, as folhas das árvores roçavam nas janelas. Passava horas olhando para fora, esperando capturar os olhos intensos de um gato selvagem, o salto de um macaco-prego ou o lampejo verde do bico de um tucano. Retornarei à riqueza de espécies do sul do Brasil esta semana, mas desta vez com uma boa chance de ver algumas destas espécies – e muitas outras além. Mamíferos nos encantam porque são parte de nossa família, e porque eles são raros. A América Latina não é mais um continente seguro para mamíferos grandes e muitos são vulneráveis ou estão ameaçados. Isto é que faz esta viagem tão especial. Espero ver – a pequena distância  – todos os “Cinco Grandes” mamíferos do Brasil. Os dois primeiros são amigáveis e estranhos na região nasal: a anta brasileira e o tamanduá gigante.

Foto: Reprodução/ Telegraph
Foto: Reprodução/ Telegraph

O terceiro é esquivo, mas também famosamente encantador: a ariranha gigante. O quarto me intriga mais do que qualquer outro: o lobo-guará, um animal solitário que na verdade se parece com uma raposa com pernas de pau. E, finalmente, o grande prêmio seria espionar uma onça-pintada, o terceiro maior felino do mundo e principal predador das florestas da América do Sul. Deveria também ver o jacaré-de-papo-amarelo e a capivara, as duas mais claras espécies marcantes da região, e um bom número das mais de 350 espécies de pássaros – incluindo talvez, a arara jacinto, ou arara azul, de 1 metro de comprimento. Ficaria encantado em ver os macacos-prego. A sucuri e a jaguatirica seriam grandes bônus. Mas não necessariamente toda vida selvagem é bem vinda. Em uma expedição, Fawcett teve um conflito com uma venenosa e potencialmente fatal tarântula e foi incomodado por morcegos, que mordiam as pessoas que dormiam em seu acampamento e sorviam seu sangue. Em sua última carta para sua filha, Nina, datada de 1925, ele escreve: “A tentativa de escrever é  repleta de dificuldade, graças a legiões de moscas que incomodam do amanhecer até o anoitecer – e às vezes durante a noite toda! As piores são as pequenas, que são menores do que a cabeça de um alfinete, quase invisíveis, mas ferroam como um mosquito. Nuvens delas estão sempre presentes.” “Milhões de abelhas se adicionam à praga, e outros insetos abundantes, horrores dolorosos que atingem a mão inteira de alguém. Mesmo as redes da cabeça não os mantêm fora, e quanto às redes de mosquito, as pestes voam através delas!  É bastante irritante.”

Foto: Reprodução/ Telegraph
Foto: Reprodução/ Telegraph

Tenho viajado ao redor da América do Sul por duas décadas, mas apenas recentemente estive ciente que as cidades e vilas pelas quais estava viajando estavam à margem de reservas encolhidas de vida selvagem ou parques nacionais que eram meramente pequenos pedaços de terra verde no mapa. O compasso excitante do desenvolvimento do Brasil colocou mais pressão do que nunca em suas áreas selvagens e é difícil estimar onde vida selvagem e natureza se encaixam no grande plano. Minha primeira parada – em busca do lobo-guará – é em outro local de biodiversidade, ao norte de Mato Grosso: O Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba. Estive de vigília em busca do lobo por duas vezes, com sucesso limitado. Uma viagem no meio do inverno a Zamora, Espanha, produziu ulceração, longas esperas em estradas sujas e a grande soma de zero avistamentos. Minha próxima tentativa, na Colúmbia Britânica, foi frustrada pelo clima de inverno moderado: vi apenas a parte traseira de um lobo, enquanto ele corria para a floresta. Desta vez, espero que as longas pernas do lobo-guará assegurem que ele apareça acima da vegetação rasteira. E que as nuvens de quaisquer pestes presentes em minha tenda não me impeçam de atualizar este blog.

*Chris Moss é autor do livro Patagonia: A Cultural History ( Patagônia: Uma História Cultural, Signal, 2008)

(Continua)

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