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Zoo e tráfico de animais

26 de outubro de 2011
6 min. de leitura
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Há algum tempo, para boa parte da população, os zoológicos não atraem mais. A razão desta falta de atração de um modo geral se dá pela percepção de como estes animais vivem dentro de um zoológico. Ao contrário da vida natural, em que estes animais se mostram magníficos, com a exuberância específica de cada espécie, nos ZOOs estes animais possuem uma aparência depressiva e apática, e até aqueles que não se preocupam muito com a vida desses animais percebem que não é a mesma coisa observá-los em espaços como estes, onde os animais não possuem um comportamento natural e aparentam tristeza, ao invés de alegria.

Várias atividades que usam animais estão chegando ao fim, como: touradas, rinhas em geral, rodeio, circos, entre outros; pela percepção e conscientização que elas são um luxo inútil e desnecessário para os humanos, mas que em contrapartida prejudicam e muito a vida de outros animais, com o zoológico não será diferente.

Hoje é muito mais atraente observar estes animais na natureza, por meio de programas de televisão, que já existe inclusive em canais abertos do que enclausurados dentro de um ZOO. Também já é questionada a criação do chamado zoológico virtual, que por meio de um programa de computador reproduz em um espaço físico um mundo selvagem real, com animais virtuais livres na natureza.

Os pequenos espaços, pouco enriquecimento ambiental dos recintos, tratamentos não específicos e de boa qualidade são responsáveis por muitos dos insucessos do zoológico e a degradação da vida animal que lá estão.

Em minha opinião, só estes fatores já eram suficientes para o fim do ZOO, a transferência desses animais para um santuário e criação/adaptação de outras formas éticas de se observar o mundo selvagem, que com a evolução tecnológica de hoje não seria um grande desafio.

Entretanto, com relação aos ZOOs no Brasil acontece outro problema que é muito grave – a contribuição para o tráfico de animais -.

Primeiro não posso generalizar que todos os ZOOs no Brasil fazem parte desse esquema de corrupção, mas posso afirmar que este esquema existe, e para comprovar estes fatos colocarei o link do Relatório da CPI de Biopirataria, realizado pela Câmara dos Deputados em 2006, que investigou os ZOOs de Brasília – DF e de Goiânia – GO, onde no segundo foi identificado a existência de uma quadrilha de tráfico de animais.

Segundo gostaria de lembrar o leitor que o tráfico de animais é o terceiro maior tráfico do mundo, ficando atrás somente do tráfico de drogas e de armas. E que de dez animais retirados da natureza apenas um sobrevive. Isto demonstra a tamanha crueldade com estes animais e que são retirados, na maioria dos casos, ainda filhote da natureza, o que ainda demonstra a grande perda de biodiversidade ocasionada por este tipo de crime.

O ZOO tem contribuição no tráfico de animais, pois existem algumas falhas, tanto no sistema de controle como na legislação que deixa algumas brechas: 1) Sistema de controle de entrada e saída de animais dos ZOOs é totalmente ineficiente, eles ainda utilizam caderno de anotação à lápis para controlar quem entra e quem sai, um documento facilmente adulterado, portanto facilmente pode ser inserido no plantel de um ZOO um animal ilegal retirado da natureza e no momento seguinte já se tornar um animal legalizado do ZOO e 2) Lei dos Zoológicos que permitem a venda do excedente exótico para outros ZOOs e criadores comerciais e permuta e venda entre ZOOs do excedente de fauna nativa.

Então é a partir daí que o esquema tem o palco de atuação livre e tranquila.

Basicamente, o que ocorre é o seguinte: os traficantes de animais pegam os animais na natureza e levam para os ZOOs, como não existe nenhum controle concreto de que animal entra e que animal sai, eles facilmente inserem esses animais no plantel e depois desses animais se tornarem oficialmente do ZOO vendem para outros Zoológico e criadouros.

Na verdade é um esquema com diversos atores envolvidos, mas resumidamente, a partir do estudo do Relatório da CPI de Biopirataria é que tanto os Diretores dos ZOOs como os criadouros ganham muito dinheiro com esse esquema que é chamado vulgarmente como “esquentar animais”, que significa tornar legal um animal adquirido ilegalmente.

Segue o link do relatório da CPI da Biopirataria de 2006. Todas essas informações são retiradas de lá, e mais uma vez digo, não temos provas do envolvimento de todos os ZOOs brasileiros, mas que este esquema existe isso pode ser conferido neste relatório.

Link Relatório CPI da Biopirataria de 2006:

Relatório Final Aprovado

http://www2.camara.gov.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-temporarias/parlamentar-de-inquerito/52-legislatura/cpibiopi/relatoriofinal.html

A CPI da Biopirataria investigou tanto o ZOO de Brasília como o de Goiânia. Como resultado da investigação em Brasília: houve mudança do diretor após a investigação (que estava na direção há mais de 15 anos), entretanto, poucas irregularidades foram comprovadas lá.

No ZOO de Brasília encontram apenas uma falha, mas ela acaba remetendo ao tamanho descontrole sobre que animais estavam lá dentro. Foi o caso de um animal que tinha atestado de óbito, mas estava vivo. Mas o trânsito de animais entre os dois ZOOs era muito grande –Goiânia-GO e Brasília-DF.

Já o caso do ZOO de Goiânia é vergonha nacional! Ele é a maior prova de todo esse esquema de corrupção e captura ilegal de animais existe. Não faltam manchetes nos jornais comprovando as irregularidades e a precariedade deste ZOO. E pasmem! As mesmas pessoas continuam lá dentro.

O Relatório da Biopirataria de 2006 fala de todo esse esquema de esquenta de animais e venda para criadouros no estado de Goiás, no relatório você pode ver os nomes destes criadouros e o relatório ainda sugere que o esquema de corrupção extrapola os indivíduos que representavam (e ainda representam) a Diretoria do ZOO e os donos dos criadouros, chegando a esferas de órgãos públicos que deveriam estar fazendo a proteção da fauna, como o IBAMA do estado de Goiás.

E o pior é que o ZOO de Goiânia está fechado há algum tempo por causa destas irregularidades e nem acesso aos animais as entidades de proteção e público em geral têm, não se sabe em que situação estão estes animais.

O que se sabe e que continua na mídia é que os animais lá dentro continuam a morrer!

Algumas entidades de proteção animal, como a Animal Defenders International, foram questionar o IBAMA sobre porque do controle de entrada e saída de animais nos zoológicos ser tão falho. A resposta foi que desde 2006 estão discutindo um novo sistema e que cinco anos depois ainda não saiu do papel, está claro que este novo sistema não se torna oficial porque existem interesses maiores contrários a eficiência de tal sistema.

Acredito que a defesa animal no Brasil tem vários assuntos urgentes para resolver e o zoológico é um deles, pois no momento, ao invés de representar uma oportunidade de conhecimento do mundo animal, o ZOO tem atuado como fomentador de tráfico de animais no Brasil. Além de ser mostrar como uma prática recreativa ultrapassada, assim como o uso de animais em circos.

Não vá a zoológicos. Faça seu papel de cidadão denunciando se souber de irregularidades. Precisamos pressionar para o fechamento do ZOO de Goiânia e transferência desses animais para um lugar seguro.

Para mudança desse quadro terrível há necessidade urgente de implementação de um novo sistema de controle de animais no zoológico e em longo prazo extinguirem os zoológicos e remanejamento desses animais para santuários mais condizentes com o mundo natural de cada espécie. E para isso as entidades de proteção animal precisam se unir e pressionar conjuntamente os órgãos públicos encarregados da proteção da fauna.

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