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Movimento centralizado ou descentralizado?

1 de julho de 2014
5 min. de leitura
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Anteriormente escrevi sobre grupos horizontais e verticais, no qual, destaquei algumas vantagens nos movimentos de base horizontal para tomada de decisões e principalmente no desenvolvimento coletivo e individual de cada um envolvido neste contexto. Agora gostaria de escrever sobre outro aspecto na organização dos grupos, a centralização ou descentralização destes.

Como resolver o problema da exposição dos ativistas nas manifestações?

Basicamente, quando decidimos lutar contra qualquer fonte de opressão, seja ela dentro ou fora do movimento de libertação animal, sozinho ou em grupo, tanto faz, é muito importante pensar nas formas com que serão atuadas essas causas. A partir do momento em que nos colocamos a frente destas bandeiras, a maneira de atuação e o tipo de organização(interna) escolhida será muito importante para o futuro e até mesmo para segurança do mesmo.

Grupos centralizados geralmente possuem organização vertical, ou seja, grupos que centralizam as tomadas de decisões e suas ações em grupo principal/pessoa e depois estendem essas decisões para seus braços/apoiadores. Geralmente assistimos nesses grupos cargos e hierarquia e isso gera maior exposição.

Grupos descentralizados quase sempre utilizam o método horizontal de organização, observa-se a ausência de dependência da informação/autorização que inicia uma ação e o uso/incentivo da autonomia livre local. Esse fator faz com que cada parte do grupo ou célula, próximas ou distantes, que se conheçam e/ou mantenham contato ou não possam avançar em determinadas atividades sem ter que antes passar pelas avaliações do grupo central e, automaticamente, gera menos exposição individualizada.

Mas afinal, quais os problemas nas maneiras centralizadas?

A primeiro deles é com a exposição e segurança.

Centralizar e verticalizar as atividades de um grupo significa atrair as atenções das atividades para o centro da cadeia organizadora. Dependendo do nível de atuação e das ferramentas utilizadas pelos grupos e, os métodos aplicados por estes, os indivíduos querem atuar mas não gostariam/deveriam se expor de determinadas formas ou até mesmo se responsabilizar totalmente por algumas atividades, traduzindo, se o alvo a ser intervencionado tem poderes para responder (E o fará) ele virá automaticamente sobre a cadeia vertical do grupo ou dos centros organizados deste, ou seja, diretores, presidentes, assessores etc.

Essas pessoas, Presidentes, Diretores, Assessores e afins, nem precisam participar do ato, se os apoiadores representarem esse grupo como um todo frente a determinada atividade, quem responderá será a hierarquia e seu centro não os apoiadores em si.

Não é preciso pensar e nem estou considerando ações ilegais para exemplificar este pensamento. Em uma ação simples de panfletagem ou batucada, se um grupo organizado, centralizado e uniformizado promove qualquer atividade, onde o alvo, empresa, pessoa ou o exemplo em questão decidir e poder contrabater sobre aquela atividade, irá contrabater exatamente sobre a cadeia vertical da hierarquia do grupo, se ele é uma braço de um grupo centralizado, o alvo contrabaterá o braço e também chegará (facilmente) até o centro do grupo (sede central ou grupo central, Presidentes, Diretores etc).

Exemplificando: Se um grupo “A” é centralizado, e seu centro organizador se encontra no Amapá, um braço ou célula do grupo em Recife faz uma manifestação local(até mesmo com autorização do grupo central) em frente a uma grande empresa multinacional e, cheia de advogados como sempre são, mesmo uma ação pacífica e dentro da lei irão revidar. Este alvo decide contra-atacar e não contra-atacará somente este grupo (braço local), mas chegará facilmente no seu centro em Amapá e este, poderá sofrer pressão ou retaliações por conta dessa ou dessas manifestações.

Centralizar significa colocar o grupo em maior evidencia, aumentar a área de contato e expor os indivíduos desses grupos de maior forma. Atenção, não estamos falando de práticas ilegais, não estamos escondendo nada, estamos considerando perseguições do tipo política, familiar, comercial; Demissões de ativistas por participação em manifestações, ameaças de diversos tipos por parte das empresas/pessoas alvos, discriminação vindas de colegas de trabalho, familiares, sociedade, vizinhos etc. Há diversas formas de perseguição por parte de quem recebe essas atividades/manifestações. Dependendo da atividade desenvolvida, é conveniente aos manifestantes manter sua identidade preservada e do ponto de vista do grupo, mais seguro que ninguém conheça a estrutura do mesmo. Lembrando! Até mesmo as manifestações pacíficas de panfletagem e batucada acarretam perseguições brandas ou não aos participantes.

Mas é possível atuar sem centralizar?

Sim, um grupo pode ser organizado, ativo, uniformizado, pacífico mas descentralizado, uma coisa não tem nada a ver com a outra. As informações podem correr normalmente sem nomear responsáveis, cada atividade montada e pensada em grupo, executada coletivamente, respondida lateralmente e horizontalmente.

Mas por que descentralizar? Há necessidade?

Descentralizar retira a exposição dos indivíduos inseridos e garante sua segurança contra represálias, perseguições e ataques. Os grupos podem continuar atuando nas mesmas áreas que atuam hoje, na mesma intensidade e quantidade mas com tal caráter.

Há também a necessidade, se é ou não é necessário garantir a exposição dos membros, tudo isso deve ser avaliado pelas ações do grupo antes de praticadas.

O maior exemplo de grupo descentralizado talvez seja a Frente de Libertação Animal. Não existe sede nem grupo organizador, as atividades são autônomas mas sempre realizadas, se legais ou ilegais não é esse o ponto, mas o caráter discutido é a que não existe um responsável ou hierarquia principal a ser procurada quando uma atividade é perseguida, se um braço receber contra-ataques por conta de seus intervencionados quem irá responder? Este grupo tecnicamente não existe mas ao mesmo tempo está lá!

Um grupo organizado, formalizado, uniformizado e pacífico pode se apropriar deste conceito no sentido de não oferecer informações sobre quem está afrente da organização deste grupo, o grupo todo não poderá responder por nada se não houver cadastro de pessoa jurídica envolvido nas atividades e se os intervencionados não obtiverem nenhum nome de ninguém do grupo não poderão realizar indicações.

Este não é um convite a atividades ilegais, é sim um alerta a segurança e exposição das pessoas que praticam ativismo, a informação pode chegar até quem deve ser chagada e este método pode servir como segurança a exposição de ativistas envolvidos. Ser ativista neste sentido é muitas vezes não concordar com os parâmetros estabelecidos e, participar destas manifestações exige certo grau de exposição. Se um grupo centralizado adotar tal causa e maneiras de manifestar-se colocará em exposição a hierarquia do grupo e quem responderá serão estes. Se este mesmo grupo abraçar esta causa e mantiver sua base descentralizada, os membros não estarão tão expostos, saberão que existe um nome, um grupo (O bom seria nem ter) mas não saberão a quem contatar, quem responsabilizar ou a quem dirigir-se.

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