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O poder da liberdade

29 de setembro de 2015
3 min. de leitura
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Era uma vez um grupo de cães, todos resgatados das mais diversas situações de descaso e violência. Durante muitos anos tiveram um grande terreno para morar, como refugiados, mas prisioneiros. Seus tutores passaram de socorristas carnistas para ativistas veganos, num processo de amadurecimento e reflexão sobre o papel de cada um nessa sociedade especista.
Cães que passaram de vítimas de maus tratos a prisioneiros de quintal. Inicialmente eles passeavam com seus tutores, num campo ao lado da casa, mas logo os vizinhos começaram a reclamar, e foram impedidos de correr, cheirar e brincar em lugares diferentes. De volta à prisão, sem sequer poderem olhar para a rua, ou uivar para a Lua.
Muitos morreram nessa condição, membros de uma matilha forçada, disputando poder entre muros, como os prisioneiros humanos. As consequências emergiram em seus corpos e mentes, fruto da angústia do confinamento. Quando buscavam extravasar uivando um pouco, expressando o comportamento natural da espécie, eram censurados pelos tutores, por causa dos humanos do entorno. Seus tutores também compartilhavam dessa angústia e stress, mas com o diferencial de terem a liberdade de ir e vir, mesmo que limitada. Um stress total.
Chega um dia em que esses cães conseguiram se mudar com seus tutores para um lugar mais afastado. Não conquistaram liberdade total, mas puderam correr, cheirar, brincar, latir, uivar, entrar na água, sem censuras. Pararam de brigar entre si, a saúde melhorou, todos se tranquilizaram. Cães antes divididos em setores, em função dos conflitos, hoje vivem juntos.
A liberdade é tão poderosa que sanou muitos dos seus problemas. Alguns não puderam gozar disso tudo a tempo, pois faleceram antes que pudessem usufruir o novo espaço.
É isso que fazemos com os animais ditos “de estimação”. Ou os deixamos livres nas ruas, mas também expostos a vários riscos, em situação de abandono, ou os retiramos dessa condição e os aprisionamos a vida toda, com as melhores das intenções, humanas. Uma exceção são os animais comunitários, esses sim são os privilegiados, indivíduos livres nas cidades com cuidadores humanos, que os amparam em situações de risco. “Liberdade de ir e vir” que precisa ser garantida por lei, como foi conquistado no Paraná pelos ativistas junto à Assembleia Legislativa.
Porque somos animais humanos, daqueles que acham que o resto é resto, que os outros seres são menos, são coisas, são pets, o ciclo retroage. Escolhemos alguns para cuidar ou para que cuidem do quintal, escravos em correntes e canis. Escravos da polícia, ensinados a atacar humanos considerados “fora da lei”. Ou ainda, escravos “de raça”, objetos de luxo, fruto da exploração comercial de vidas, procriação forçada, estupro das mães, desespero dos bebês expostos à venda, vítimas de doenças herdadas pela procriação entre semelhantes, enfim, morte de seus espíritos. Se existe uma superpopulação de cães e gatos nas ruas, ela é fruto de toda essa lógica mantida pelo consumo de animais.
Mas ao menos para esse grupinho de cães, o que começou a história, agora as coisas vão bem, a alegria ressurge a cada amanhecer, a cada corrida, a cada pulo na água, a cada soninho tranquilo, a cada banho Sol.

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