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Como o carnismo transforma fãs da ciência e do ceticismo em ferrenhos opositores de ambos

17 de fevereiro de 2015
4 min. de leitura
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São comuns, em diversos lugares da internet, pessoas que, “adeptas” de alguma outra forma de irreligião, se dizem entusiastas das ciências naturais e exatas e do ceticismo científico. Mas quando o assunto é veganismo e Direitos Animais, são tão anticientíficas, antilógicas e falaciosas quanto os religiosos fanáticos aos quais vivem declarando oposição. O caso desses indivíduos mostra como o apego carnista à zona de conforto moral-cultural do consumo alimentar pode tornar gente autodeclarada “muito pensante” em negligenciadores e até opositores da razão, da lógica, da ciência e da ética, das quais tanto se dizem defensores.
Não é nada raro ver, em fóruns, redes sociais, blogs e vlogs de ciência, filosofia, ceticismo e ateísmo, discussões sobre veganismo em que cientófilos conhecidamente refutadores de “pseudociências”, religiões e crenças falsas tornam-se exatamente aquilo que tanto “combatem”.
Sua postura, quando a intenção é defender a liberdade de consumir os produtos de origem animal que quiser, torna-se oposta aos seus autoarrogados princípios. Regurgitam falácias lógico-argumentativas, ataques e desqualificações pessoais (conhecidos como ad hominem), posturas irracionais, negações a fatos comprovados pelas ciências naturais, fanatismo carnista, manipulações de estudos e ódio antivegano.
Não é nada raro, inclusive, que promovam tais comportamentos nos veículos de divulgação científica e formação de opinião dos quais são donos, administradores ou colaboradores. Daí vê-se por aí excrescências como blogs “céticos” propagando e incitando ódio contra vegans, vlogueiros “contestando” em vídeos seus os Direitos Animais e não permitindo que telespectadores venham discordar deles, formadores de opinião sobre ciência e ceticismo respondendo vegans com grosseria e falácias absurdas, entre outras.
Além disso, nos debates dos quais esses indivíduos carnistas participam, é comum vè-los, por exemplo, exigindo dos vegans provas científicas legitimadas por parâmetros superrigorosos, como amostra de pessoas pesquisadas maior do que X, publicação em periódicos científicos com um nível de reputação maior do que Y e predominância de referências bibliográficas mais recentes do que Z anos.
Mas curiosamente, quando eles apresentam supostas provas científicas, por exemplo, de que a alimentação vegetariana (estrita) “não é saudável” e “aumenta as chances de diversas deficiências e doenças”, nenhuma dessas pesadas exigências é levada em conta por eles mesmos. E muitas vezes as “provas” apresentadas são notícias sensacionalistas que manipulam estudos que, por sua vez, na verdade não concluíram aquilo que os carnistas estão argumentando.
Esse “ceticismo” seletivo e nada isento de falácias foi demonstrado em dois casos relativamente recentes, de 2014:
1. Uma pesquisa austríaca supostamente “comprovava” que “vegetarianos são menos saudáveis do que onívoros”. E assim foi apresentada em determinados blogs, como se fosse de fato uma prova favorável ao carnismo.
Porém, uma análise séria do estudo constata que mais de 90% dos “vegetarianos” pesquisados consumiam alimentos de origem animal – e mais da metade comia carne branca. E nada mais eram do que pessoas que, pouco tempo antes, haviam largado hábitos que os tornavam vulneráveis a doenças crônicas, como sedentarismo e alimentação desbalanceada, e adotaram uma dieta equilibrada desprovida de carne vermelha;
2. Um estudo experimental descobriu que partes do corpo de uma planta do gênero Arabidopsis reagem bio-físico-quimicamente às ondas sonoras emitidas pelas “mordidas” de suas folhas por lagartas e emitem, como reação ao estímulo físico das vibrações, uma substância oleosa que repele insetos comedores de folhas e caules.
Mas foi exaustivamente propagado por carnistas, incluindo alguns “divulgadores da ciência”, como se fosse uma “legítima prova” de que “plantas podem ouvir a si mesmas sendo comidas” e, por tabela, “têm sentidos e sentimentos”, logo essa descoberta seria uma “má notícia para vegans e vegetarianos”.
Nesses dois casos, era muito visível o uso de falácias, declarações intolerantes e outros artifícios argumentativos contrários ao ceticismo científico sério, dotados do claro interesse privado de “desarmar” a argumentação vegana, desmoralizar os vegano-abolicionistas e tornar legítimo e “inevitável” o consumo de produtos de origem animal.
E outros tantos casos podem ser encontrados no Canal Veganagente e nos arquivos do canal antecessor Consciencia.VLOG.br. Em diversos deles, vlogueiros divulgadores ou entusiastas da ciência mas opositores do veganismo e dos Direitos Animais são devidamente respondidos, e suas falácias e argumentações infiéis aos fatos são desmontadas.
Como exemplos, recomendo esse, esse, esse, esse e esse vídeo. Até o momento em que este artigo foi finalizado, nenhum vlogueiro cientófilo carnista conseguiu responder devidamente aos vídeos dos dois canais. E nos vídeos deles, assim como nos comentários de alguns desses, é possível perceber o uso de falácias, a censura ou o ataque pessoal contra vegans discordantes, os artifícios contrários ao ceticismo científico e os momentos de reação passional ao contraponto vegano.
Com esse conflito de ideias e comportamentos entre o vegano-abolicionismo e o reacionarismo carnista, fica cada vez mais claro que o espírito científico e lógico-filosófico de muitos autodeclarados “entusiastas” da ciência e “céticos” tem limite, e esse limite passa em cima do prato e do copo pelos quais eles se alimentam. Experimente falar de veganismo e Direitos Animais com um deles, e provavelmente você verá, diante de você, alguém mais parecido com um religioso fanático do que com um adepto do espírito científico e refutador de religiões, superstições e “pseudociências”.

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