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A bioética e os animais

27 de maio de 2009
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O seminário que ocorreu na PUCRS nos dias 19 e 20 de maio, com o nome ‘Bioética em debate: os animais’ foi um sucesso, pois nos colocou claramente dois aspectos da discussão sobre o uso de animais na ciência:

1. As argumentações em favor da utilização de animais são inexistentes, mais baseadas em falácias e desvios do assunto, tentando intimidar os ouvintes e distorcendo informações.

2. A plateia era composta de pessoas interessadas, mas a grande maioria ria e só sabia comer salgadinhos e falar ao celular, mostrando que a universidade não é mais aquilo que imaginávamos ser. Ao observar uma foto do evento, notei que as pessoas olhavam para todos os lados, menos para o que estava ocorrendo na palestra. O que nos mostra que está nas mãos de poucos – muito poucos – o destino dos animais na ciência. Se esperarmos por aqueles distraídos que assistiram ao evento, muitos estudantes de Medicina, biólogos e demais áreas ligadas ao tema, a coisa está ainda nublada, entre risos e distrações. Obviamente não estou falando das pessoas interessadas de verdade, e dos pesquisadores sérios que lá estavam. Isso fica para outro artigo.

A forma de tratar assuntos profundos de modo pueril, raso e com muitas justificativas baseadas no passado, por haver falta de argumentação, nos faz ficar curiosos sobre quando é que algumas pessoas vão alcançar um modo de conhecimento prático.

Quando é que a sabedoria irá finalmente se unir à prática diária, pelo menos dentro dos centros de estudo e pesquisa de onde esperamos algum modelo? Pois vemos, ali dentro, as balelas da enrolação, o ‘quem sabe um dia’, o ‘ainda é necessário’, as mil e uma falácias já superadas há séculos em outros países.

A vivissecção (utilização de animais vivos em estudos), esse modo arcaico de fazer pesquisa, ainda é utilizado pela ciência, centros de estudos em Medicina e Veterinária, salas de aulas e até em lugares pretensamente educacionais, mas que mais se parecem com centros de lazer do que outra coisa. Muitos estudiosos afirmam que a utilização de animais é movida ainda pela indústria das cobaias, jaulas e utensílios de laboratórios usados em pesquisas com animais, e que abolir o uso seria um grande problema de ordem econômica. Sabe-se que há mais de 30 anos já existem, em países como a Inglaterra, regulamentação legal e alternativas ao uso de animais. Que há mais de um século já se considera o uso de animais algo superado e discutível. Mas o Brasil carece desses estudos, pois seus pesquisadores, na grande maioria, ainda compram a ideia antiga e superada do uso do modelo animal. E os poucos estudiosos que se ocuparam da abolição animal, da ética voltada aos animais e das alternativas que existem, são os que abrem uma luz para que, aqui, este tema seja mais corrente e gere uma mudança na mentalidade das pessoas.

As alternativas existem, mas aqui elas são desconhecidas pela maioria dos cientistas e mais ainda pela população, que acredita que pesquisas com animais são indispensáveis, que ‘salvam vidas’, que ‘vão encontrar a cura do câncer’. Se, até agora, segundo uma instituição citada no seminário, cerca de 92% dos trabalhos com vivissecção, são considerados irrelevantes; e se formos considerar, como afirmou Carlos Naconecy em sua brilhante palestra, que a maioria das doenças que mais matam no mundo não é cogitada para as pesquisas de ponta, que não há investimentos de grandes empresas para essas doenças e tampouco se chegou perto de uma possível melhora de vida de quem tem tais doenças, para não falarmos em cura, nos fica clara a falácia de acreditar que usar animais está nos assegurando a cura de doenças graves, quando na verdade em muitos casos usar animais significa um atraso para a cura.

Em muitas pesquisas com animais, há formalidades que atrasam a pesquisa clínica, que é a pesquisa efetiva, já que somos humanos e não ratos ou macacos. Embora haja muitas semelhanças entre todos estes animais e até mesmo com plantas, porque os genomas têm muitos genes em comum, sabemos que há sutilezas que variam de organismo para organismo, e mais ainda de espécie para espécie. E estas diferenças podem atrasar a pesquisa e ainda colocar a vida humana em risco, como já ocorreu com diversos medicamentos descobertos, que foram testados em animais com sucesso, mas falharam em humanos, de modo grotesco. Um texto retirado do Americans for Medical Advancement, com 50 consequências fatais do uso de experimentos com animais, não deixa muitas dúvidas a respeito disso.

Para reflexão sobre como ainda temos que amadurecer na teoria e na prática, um fragmento do texto escrito pelo escritor e psicólogo Ezio Flávio Bazzo:

“Para dizer a ‘verdade’, para ser ‘verdadeiro’, ‘objetivo’, ‘fiel-a-si-mesmo’ é necessário, diante de qualquer situação, ter antes de tudo, uma boa saúde mental, e muitos estão comprometidos pela patologia. O longo processo de escravidão e terror pelo qual passou a humanidade em geral e o povo brasileiro em particular, fizeram com que as pessoas mergulhassem precocemente na caquexia e adulterassem suas apreciações sobre tudo. Numa reunião entre 10 e 15 pessoas – por exemplo – onde elas são convidadas a opinar sobre tal ou qual assunto, personalidade, administração etc., se presencia um espetáculo asqueroso de meias palavras, de simbolismos, de ditos-mas-não-ditos, de avanços e recuos e de vaselina que inviabilizam toda e qualquer conclusão sobre o tema. Parece mentira, mas pessoas adultas, vacinadas, universitárias, algumas até aposentadas e outras, inclusive, com a situação econômica resolvida, quando devem expressar seus sentimentos e sua compreensão sobre o óbvio, ficam ariscas, cagam-se de medo, enchem-se de pânico, um pânico de serem descobertas, tachadas, identificadas. As culturas do relho foram tão fundas nas estruturas psíquicas dos indivíduos a ponto de forçá-los a buscar neurótica e vergonhosamente o anonimato, a não identificação e a conciliação em tudo, em absolutamente tudo, mesmo quando sabem que esse comportamento significa a marcha triste e grotesca em direção aos fornos e à forca”.

Abaixo, dicas de livros de onde foram tiradas as inspirações para este artigo e onde podemos saber mais a respeito das alternativas à vivissecção:

Instrumento animal: o uso prejudicial de animais no ensino superior. Organizador: Thales de A. Trez. Bauru, SP, 214p.

Prostitutas, bruxas e donas de casa – notícias do Éden e do calvário feminino. Ezio Flávio Bazzo

50 consequências fatais de experimentos com animais:

http://vidaanimalivre.blogspot.com/2008/02/50-conseqncias-fatais-de-experimentos.html

Americans For Medical Advancement – AFMA:

http://www.curedisease.com/index.html

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