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ONG em Itu (SP) fornece um novo lar para saguis e bugios resgatados

20 de novembro de 2013
8 min. de leitura
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Cravo e Canela (Foto Daiane Costa)
Cravo e Canela (Foto Daiane Costa)

As cidades engolem as florestas. As matas sofrem com queimadas. Há caçadores e traficantes de animais por toda parte. Está cada vez mais difícil a vida selvagem sobreviver até mesmo em reservas florestais. Numa tentativa de encontrar alimento e abrigo, alguns bichos adentram vilarejos e caem em novas armadilhas, são perseguidos e mortos. Estamos falando de macacos, grandes e pequenos felinos, cachorro-do-mato, aves e mais uma série de bichos que feridos, mutilados, doentes, explorados em circo ou nascidos e crescidos em cativeiro não podem mais retornar para seu habitat natural. E só lhes resta uma chance de viver em semiliberdade, com um pouco de tranquilidade e qualidade de vida: dentro de santuários – quase sempre mantidos com doações e passando por imensas dificuldades financeiras e de estrutura.

A série Santuários da Vila Silvestre e Selvagem vai falar desses locais onde cada dia é um milagre. Onde trabalham pessoas movidas por uma paixão imensurável por aqueles animais que não estão dentro de nossas casas, mas fazem parte do nosso ecossistema e precisam ser protegidos em caráter de urgência. Pessoas que não medem esforços e entregam suas vidas nessa missão difícil, mas “de honra”, em defesa da vida que brota e agoniza na fronteira com a selva de pedra.

Episódio Dois – O prazer de pagar um mico

Eles são nossos irmãos menores, mas só no tamanho, viu? Saguis e bugios são pequenos primatas muito inteligentes, sensíveis e sociáveis. Infelizmente são também vítimas de tráfico de animais silvestres, queimadas, incêndios e inúmeros acidentes nas cidades para onde eles têm se refugiado em busca de comida. É o caso do Purê, um sagui híbrido que foi eletrocutado circulando pelas redes elétricas de São Paulo e teve que ter uma das pernas e a cauda amputadas. Hoje ele vive com Jiló e Tuquinha (sagui-de-tufo-branco resgatado com sintomas de automutilação e que também perdeu uma perninha).

Foto: Fernanda Inukai
Tuquinha foi resgatado com sintomas de automutilação. (Foto: Fernanda Inukai)

Histórias assim são frequentes no Projeto Mucky, que já tem 28 anos de estrada no resgate e manutenção desses animais. Por isso, a ONG faz um convite a todos aqueles que se encantam e preocupam com esses pequenos macaquinhos: seja padrinho ou madrinha de um dos 220 hóspedes da sede da entidade em Itu (SP). Pague um mico! Nesse total de primatas há 22 bugios (ruivo e preto), dois micos-de-cheiro, um sauá e saguis de diversas espécies como branco-da-Amazônia, sagui-de-tufo-branco, tufo preto, híbrido, sagui-da-serra-escuro e da cara-branca.

“Os animais que recebemos são provenientes do comércio, de maus-tratos (portadores de traumas físicos e psicológicos), áreas que foram desmatadas e acidentes. Portanto, eles têm graves sequelas e não estão hábeis a voltar para a natureza”, explica Lívia Botár, fundadora do Mucky. Ela diz ainda que alguns poucos animais saudáveis muitas vezes são de outras regiões do Brasil, como norte e nordeste e, nesse caso, o correto seria a reintegração do animal em seu habitat original, mas como é um processo bastante complexo, torna-se inviável sem um bom patrocínio. A ONG não é subsidiada pelo governo e vive de doações e associados.

Marshmellow. (Foto: Rosa Verderame)
O sagui-de-serra-escuro Marshmellow. (Foto: Rosa Verderame)
Murphy (Foto: Fábio Colombini)
Murphy (Foto: Fábio Colombini)

Lívia acredita que a situação desses primatas tende a se agravar uma vez que as cidades engolem as matas: “Ressaltamos a importância dos corredores ecológicos, entre os fragmentos florestais, para facilitar o fluxo entre as mais diversas espécies. Os acidentes cada vez mais se repetem em locais onde houve uma interrupção do tráfego num ambiente natural devido as atividades humanas”. Outro problema está na comercialização desses animais como bicho de estimação. Um sagui não se comporta como cão ou gato. Precisa de espaço, de árvores e pode ficar muito estressado e até agressivo se essa liberdade lhe for negada. Alguns se automutilam, outros podem ficar deprimidos. E então são descartados em praças e parques que não correspondem ao seu habitat natural.

Uma fábula de verdade

Chuvisco. (Foto: Daiane Costa)
O sagui-de-tufo-preto Chuvisco. (Foto: Daiane Costa)

Os macaquinhos do Projeto Mucky recebem nomes que lembram histórias infantis. Ou então nomes bem engraçados que abrem margem à imaginação. Chuvisco e Bolota, por exemplo, não formam uma dupla sertaneja, mas arrasaram corações pela internet com seus olhares encantadores. São dois saguis-de-tufo-preto com deformidades ósseas resultadas de maus-tratos. Já ouviram falar que a dor por vezes une dois corações solitários? É o caso da Fiona, uma bugio que foi encontrada praticamente sem nariz comido por larvas em Araraquara (Interior de São Paulo). Uma vez recuperada ela está tendo uma segunda chance e namorando o bugio Urso.

Algodão e Neve (saguis-brancos-da-Amazônia), Gorgonzola e Provolone (saguis-de-tufo-preto) e o trio Salsão, Orégano e Manjerona são outros hóspedes fixos do Mucky. Marshemellow (sagui-da-serra-escuro) foi encontrado sendo apedrejado por crianças numa praça. Mesmo à base de florais e recebendo muito carinho, não se livrou do trauma. Hoje vive com o “colega de quarto” Quindim. O santuário abriga também Murphy, da menor espécie de macaco do mundo: o sagui-leãozinho. Era mantido em uma pequena gaiola e, por desnutrição e descalcificação, seus braços e pernas atrofiaram. Com fisioterapia e hidroterapia se recuperou e até adotou Lennon, um sagui-de-tufo-preto órfão.

Bolota. (Foto: Raiane Marques)
Companheiro de Chuvisco, Bolota, também sagui-de-tufo-preto. (Foto: Raiane Marques)

Como ajudar

Para “pagar um mico” a contribuição deve ser a partir de R$ 30. Um macaquinho custa à entidade, no mínimo, R$ 95 por mês. Isso se estiver saudável. Em tratamento médico o valor pode até dobrar. O colaborador ganha um certificado, uma foto do afilhado, informativos e boletos mensais. No caso de pessoa jurídica é entregue o selo “empresa amiga da natureza”. Os funcionários do Projeto Mucky também podem ser apadrinhados já que o trabalho é árduo, intenso e, como dito antes, não existe uma ajuda do governo.

Contribuições avulsas podem ser depositadas nas contas ITAÚ (Ag. 0796 / C.C. 60400-7) e BRADESCO (Ag. 0627-0 / C.C. 57633-6). O Mucky aceita ainda material de construção, ventiladores, guarda-roupas, eletrodomésticos, leite em pó ou em caixa e cestas básicas, mas não retira essas doações. Por isso, as pessoas também podem ajudar levando essas contribuições com seus próprios veículos.

Além disso, as pessoas podem ser voluntárias atuando em diversas frentes:

  • Transportar animais para exames e cirurgias com veículo próprio
  • Transportar galhos para viveiros com caminhão próprio
  • Receber e armazenar doações
  • Auxiliar na preparação de alimentos para a bicharada
  • Serviços de marcenaria, pedreiro, serralheria, pintura, encanador e eletricista
  • Fotografar animais e eventos
  • Oferecer serviços veterinários
  • Confeccionar materiais para enriquecimento ambiental dos viveiros
  • Participar de campanhas para arrecadação de alimentos, remédios e cobertores
  • Realizar festas, bazares e bingos em prol do Projeto Mucky
  • Ecovoluntariado
  • O Mucky hospeda brasileiros e estrangeiros que queiram passar uma temporada trabalhando na ONG. Os interessados pagam pela estadia e alimentação enquanto aprendem muito sobre toda a rotina que envolve o tratamento dos macaquinhos. Pode servir como estágio para estudantes das áreas biológicas ou apenas como uma fantástica e impagável experiência junto à natureza e executando um trabalho solidário com os pequenos primatas. “O objetivo desse projeto é auxiliar na sustentabilidade da Instituição, além de enriquecer a experiência do ecovoluntário como cidadão e ser humano”, comenta Lívia.

O ecovoluntário trabalha com todos os funcionários do Mucky (zootecnistas, ambientalistas, veterinários, biólogos, tratadores e cozinheiros), em campo (na recuperação dos primatas) e até na manutenção do local. Tem atividades como:

  • Auxílio no preparo e distribuição da alimentação dos animais
  • Manutenção e limpeza de recintos
  • Ajuda no tratamento de recuperação dos animais
  • Monitoramento comportamental das espécies cativas
  • Estudo da importância da espécie na manutenção do equilíbrio ecológico
  • Construção de abrigos
A Bugio Fiona. (Foto: Daiane Costa)
A Bugio Fiona. (Foto: Daiane Costa)

Projeto Mucky

O Projeto Mucky tem esse nome em homenagem ao primeiro sagui resgatado. A ONG encontra-se instalada em uma área de 20 mil m² no município de Itu (Interior de São Paulo) e é registrado no IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) como um Projeto Conservacionista. Conta com o reconhecimento de organizações Internacionais como a WSPA – World Society for the Protection of Animals (Reino Unido) e Fondation Brigitte Bardot (França). Ao longo deste ano com o apoio da FBB foi possível recuperar e melhorar alguns viveiros cuja estrutura é em madeira (que apodrece) ou em ferro (que enferruja e desgasta). Como se trata da segurança dos animais, a manutenção deles é constante havendo sempre necessidade de materiais e principalmente mão-de-obra especializada. Além disso, o Mucky funciona como um hospital 24hs atendendo os mais variados casos da região. Faz também parte do trabalho do Mucky uma série de ações de conscientização ecológica em empresas e escolas.

Para conhecer melhor as atividades da ONG e seus macaquinhos acesse www.projetomucky.org.br.

Contato: [email protected]
Tel. (11) 4023-0143 • Nextel (11) 7892-6130 ID 89*17166

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