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"Chip Humano" promete acabar com os testes em animais em laboratórios do mundo todo

20 de julho de 2016
4 min. de leitura
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Por Marcela Couto (da Redação)

Foto: Julie Russell/LLNL
Foto: Julie Russell/LLNL

Não faltam evidências de que os testes em animais não são apenas cruéis e arcaicos, como também trazem resultados ineficazes e atrasam o progresso da ciência. Apesar de 115 milhões de animais serem explorados todo ano em experimentos ao redor do mundo, uma média de apenas 25 novos medicamentos são aprovados anualmente pela maior entidade reguladora do mundo, o Food and Drug Administration (FDA) – consequência de falhas clínicas das substâncias, que não possuem o mesmo efeito em corpos de animais humanos e não-humanos.

Para resolver definitivamente esse problema, um time de cientistas e engenheiros do laboratório Lawrence Livermore National Laboratory, na Califórnia, está desenvolvendo o “Chip Humano”: uma réplica em miniatura do corpo humano, integrando a biologia e a engenharia ao combinar microfluidos com condutores de eletrodos múltiplos em um único chip.

A tecnologia é promissora para substituir os testes em animais, já que permite avaliar com precisão o impacto de doenças e substâncias variadas no corpo humano, diferente da vivissecção, que causa imenso sofrimento e ainda produz resultados inconclusivos e equivocados.

O projeto, chamado de iCHIP (Plataforma Investigativa Humana baseada em Chip in-vitro), reproduz os quatro maiores sistemas biológicos vitais do ser humano: o sistema nervoso central (cérebro), o sistema nervoso periférico, a barreira hematoencefálica e o coração.

Foto: Julie Russell/LLNL
Foto: Julie Russell/LLNL

“É uma plataforma de testes para a exposição a agentes cujos efeitos são desconhecidos para os seres humanos”, disse o engenheiro Dave Soscia, que co-lidera o desenvolvimento do dispositivo que reproduzirá o cérebro. “Se você tem um sistema que é projetado para replicar perfeitamente o corpo humano, você evita o longo e cruel processo de testes em animais, que muitas vezes não gera informações relevantes para nós.”

Segundo a engenheira Monica Moya, o chip poderá auxiliar na criação de novos medicamentos para combater o câncer, vacinas ou avaliar a eficácia de medidas contra epidemias.

O iCHip também é especialmente revolucionário porque permite testar as células humanas ao longo de vários dias, para que os dados obtidos sejam aproveitados ao máximo. Quando for preciso testar um produto químico desconhecido, por exemplo, a resposta das células podem ser diferentes semanas ou meses em relação a horas após a exposição. “Esta é uma forma totalmente ética e não-invasiva de avaliar as alterações na saúde e função humanas ao longo do tempo,” conclui a cientista Heather Enright.

Cada mecanismo referente aos quatro sistemas vitais está sendo desenvolvido por uma equipe. Agora, o próximo passo será integrar todos os sistemas em conjunto para criar uma plataforma de teste completo fora do corpo humano, para enfim estudar as questões científicas fundamentais sem explorar animais.

“O objetivo final é representar completamente o corpo humano”, disse Elizabeth Wheeler, uma das líderes do projeto. “O conhecimento adquirido a partir do Chip Humano, poderá, um dia, ser utilizado para personalizar a medicina, entendendo as particularidades de cada organismo.”, finaliza.

Substituição dos testes no Brasil

Enquanto uma inovação tecnológica promete libertar os animais dos laboratórios nos EUA, o Brasil ainda enfrenta a falta de investimentos em substituições para os testes em animais.

No país, 26 laboratórios públicos e privados são ligados à Rede Nacional de Métodos Alternativos do Ministério da Ciência e Tecnologia. Os investimentos, porém, são escassos. Desde sua criação, em 2012, o Renama investiu 6 milhões de reais em pesquisas na área, segundo matéria da CBN.

Uma das iniciativas que se destacou recentemente foi a do Grupo Boticário, que iniciou este ano uma pesquisa para desenvolver a tecologia do Chip Humano para testes de cosméticos, em parceria com uma empresa alemã. O custo para desenvolver esse estudo é de um milhão e meio para e ainda não é possível estimar os valores para colocá-lo no mercado, se for aprovado.

Em outro esforço recente, as pesquisadoras Jane Zveiter e Carolina Bellini da Universidade Federal de São Paulo desenvolveram uma pesquisa em parceria com a Natura para conseguir prever alergias na pele a partir de culturas de células. O modelo foi aprovado, mas ainda não há empresas e laboratórios para oferecerem o serviço no mercado de testes.

Na opinião de Róber Bachinski, pesquisador e ativista pelos direitos animais, a lógica dos métodos de teste em animais no Brasil ainda persiste nos laboratórios: “Não é uma coisa difícil de ser implementada, não é algo de outro mundo. É uma mudança de como se faz a ciência. É uma outra forma de fazer ciência”.

Novas perspectivas globais

Mas apesar dos passos lentos, o cenário global está mudando para melhor, com investimentos cada vez maiores em métodos mais precisos e confiáveis que não envolvam exploração animal. “Ficamos felizes com a nova direção que a ciência está tomando, e agora estamos comemorando a recente proibição de testes de produtos químicos em animais.”, disse Kathy Guillhermo, vice presidente de investigações em laboratórios da PETA.

O Chip Humano está completando três anos de desenvolvimento e já tem sido utilizado com sucesso. Com a tendência mundial de substituir de vez os cruéis testes em animais, espera-se que em breve a solução chegue ao mercado e a exploração animal em nome da ciência se torne coisa do passado.

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