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ONGs travam batalha para salvar animais “descartados” pela sociedade

18 de julho de 2015
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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

A quantidade de animais abandonados nas ruas cresce a cada dia que passa. Basta sair de casa apenas por alguns minutos para se deparar com um cão ou gato perambulando pelas ruas. Dados divulgados no ano passado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que no Brasil existem cerca de 30 milhões de animais abandonados – aproximadamente 20 milhões de cachorros e 10 milhões de gatos.
Essa realidade pode ser vista também em Itabuna. As notícias envolvendo animais encontrados pelas ruas da cidade em estados deploráveis se tornaram cada vez mais comuns. Os que trabalham ou, de alguma forma, são engajados em ações que visam à proteção aos animais chegam a se perder nas estatísticas. E por falar em defensores, uma boa notícia: o número de ONGs e de pessoas que dedicam parte da vida ao resgate e cuidados desses animais aumenta consideravelmente. Para eles, o grande índice de abandono é, sobretudo, uma questão de saúde pública.
Segundo a advogada Kátia Lira, especialista em Gestão Ambiental e presidente da ABRAPA – Associação Brasileira Ambiental e de Proteção Animal – e da Comissão de Meio Ambiente da OAB Itabuna, a adoção e a castração precisam ser incentivadas. “Problemas de saúde e o trânsito em risco são apenas algumas das consequências do abandono”, observou.
A presidente da ABRAPA contou que a ONG surgiu com objetivo de dar um amparo a esses animais. “Nós acompanhamos a entidade há alguns anos e trabalhamos em diversas áreas, já que a temática animal está inserida em um contexto mais amplo, e não pode ser vista de forma isolada. O animal é um dos elementos que fazem parte do contexto ambiental”, explicou.
Na tentativa de conscientizar a população, principalmente os mais jovens, acerca do tema, os membros da organização sempre se reúnem e conversam para desenvolver palestras. “É impossível isolar o animal do meio ambiente. As pessoas precisam entender isso. Trabalhamos com planejamento, projetos e políticas públicas”, disse Kátia, que já promoveu diversos seminários pela região.
De acordo com a advogada, os avanços estão acontecendo, mesmo de maneira gradativa. “As pessoas têm a cultura de criar os seus animais soltos e isso não pode acontecer. Pegamos muitos e levamos ao Centro de Zoonoses para a castração. O atual governo está de parabéns pelo trabalho. Já foram realizadas mais de duas mil castrações. Durante muito tempo, o Zoonoses foi um lugar onde aconteciam muitas atrocidades”, ressaltou.
Outro ponto levantado pela defensora foi o projeto Castramóvel, protocolado no ano passado, mas que até o momento não saiu do papel. “Se essa lei fosse aprovada o cenário seria outro”, ponderou.
Animais com determinadas características, como “vira-latas”, por exemplo, ainda sofrem mais. “Os animais sem raça definida, pretos, deficientes e idosos com 14 e 15 anos são os mais abandonados”. O problema em relação aos felinos é ainda maior, pois muita gente realmente acredita em mitos e superstições. “É uma questão que está impregnada na sociedade, que gato preto dá azar”, observou Kátia. Ela revelou, ainda, que a ABRAPA não recebe auxilio e os voluntários tiram do próprio bolso. “Não recebemos de ninguém, eu banco porque me dá prazer, me sinto feliz porque o principal é você está fazendo o bem”, justificou.
Conhecendo a Ronronar e a APDA
Também conhecemos outra pessoa apaixonada pela causa: Viviane Rocha, que fundou, há três anos, a ONG Ronronar, que abriga 49 gatos. “Pouco tempo depois que me mudei de São Paulo para cá, vi a calamidade do abandono de animais na cidade, principalmente de gatos. Nosso projeto tem cinco voluntários ativos, que ajudam de acordo com suas disponibilidades e possibilidades. Não somos uma ONG oficial, nem registrada, porém fazemos um lindo trabalho, como se fôssemos uma”, esclareceu a presidente.
Viviane lembra que as feiras distribuídas pela cidade são um grande foco de abandono, onde ninhadas de gatos com apenas dias de vida são “descartados”. “Comecei a tratar muitos filhotes com Rinotraqueíte na feira. Mas, muitas pessoas os maltratavam e eles sumiam. Por esse motivo, surgiu a Ronronar, um lar onde os filhotes doentes eram resgatados e tratados para que tivessem mais chances de serem adotados”, explicou.
A página da ONG no Facebook ajuda na divulgação de doações de animais, com medicações (quando possuem) e também no contato com veterinários. “Hoje, o custo mensal da Ronronar, somente com manutenção (alimentação, energia, água e aluguel), é de R$1.200,00, aproximadamente, podendo variar para mais com custos veterinários, medicamentos, tratamentos e aumentos nos valores da ração e contas de água e luz”, afirmou Viviane.
Como grande parte das ONGs existentes, a maior dificuldade encontrada pela Ronronar é a questão financeira, já que ela não possui ajuda do governo nem de algum órgão público ou privado. “Raramente recebemos doações em dinheiro para ajudar nas despesas. Temos dificuldade também com ajuda de mão de obra. Vejo muitas pessoas com vontade, mas sem disponibilidade de doarem seu tempo. Muitos querem ajudar, mas não querem ter a responsabilidade disso”, ressalvou.
“Anjos da solidariedade”
Este também é um dos problemas enfrentados pelos membros da APDA (Amigos e Protetores em Defesa dos Animais). “Nossas dificuldades são diversas, não temos apoio do município e nem do poder público, e por consequência disso necessitamos da ajuda de ‘anjos’ que nos fazem pequenas doações, porém de enorme valor para nós”, conta, agradecida, Eduyna Santos, responsável pela arrecadação de fundos para a ONG.
A APDA surgiu em janeiro deste ano, a partir da junção dos voluntários do projeto “Natal dos animais”, com os membros da antiga APDA. Ao todo, a ONG conta com 10 membros oficiais. Segundo Eduyna, a falta de um espaço físico próprio para a ONG dificulta o trabalho dos voluntários. “Com isso, há uma relutância em encontrar pessoas interessadas em adotar ou dar lar temporário (LT) para os que são regatados e ainda não foram adotados”, assinalou.
Como contribuir
Qualquer pessoa pode se tornar um “amigo” desses animais acolhidos pelas ONGs, seja de forma direta ou indireta. Afinal, para ajudar basta ter um coração voluntário. No caso da Ronronar, Viviane avisa que está sempre à disposição para quem quiser contribuir de alguma maneira: ajudando em divulgações, compartilhando informações, disponibilizando um lar temporário para filhotes, doando dinheiro, rações, medicamentos ou ajudando em custos veterinários. “Também podem oferecer amor aos gatinhos do abrigo que ficam boa parte do tempo sozinhos e alimentá-los durante a semana”, completou. “É nossa obrigação como seres ‘humanos’ pensantes cuidar de todos os seres vivos que dependam de nós. Não há dinheiro que pague o amor incondicional que recebemos”, emociona-se.
Já a APDA, além da ajuda que pode ser financeira ou em material pet, Eduyna espera conseguir arrecadar fundos para construir uma sede para a ONG. “Quem quiser ajudar pode entrar em contato comigo pelo 8827-8476. Estamos atualmente precisando de doação de terreno e materiais para construção para fixar nossa sede. Dedicamos nossa vida a esse projeto porque vemos a necessidade dos animais indefesos, abandonados, maltratados e que não tem um Estatuto dos Animais funcional que lhes assegure esse direito. Infelizmente, o Brasil não tem uma lei que garanta o bem-estar dos animais”, finalizou.
Fonte: Diário da Bahia

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