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A realidade cruel da criação de porcos

15 de julho de 2013
9 min. de leitura
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Por Martha Follain ( da Redação)

“Gosto de porcos. Os cães olham-nos de baixo, os gatos de cima. Os porcos olham-nos de igual para igual”. Winston Churchill

Cela de gestação e amamentação. (Foto: Porcos)
Cela de gestação e amamentação. (Foto: Porcos)

A origem do porco doméstico é o javali europeu e, sua domesticação remonta a 5000 anos a.C., e é creditada aos chineses. Os gregos criavam porcos e os destinavam a sacrifícios consagrados aos deuses Ceres, Marte e Cibele.

O consumo da carne de porco, sempre gerou  polêmicas. Moisés e Maomé, por exemplo, proibiam o uso de carne de porco na dieta humana, porque alegavam que era nociva à saúde. Os romanos foram grandes consumidores de carne suína – nos festins ou regularmente, pelos nobres e a plebe. Os ibéricos e gauleses também criavam porcos e, Carlos Magno indicava o consumo de carne de porco aos seus soldados e seguidores. Na época, chegaram a ser editadas leis que puniam com severos castigos os ladrões e matadores de porcos.

Na América, foi o descobridor Cristóvão Colombo, quem introduziu os primeiros animais, em 1493, na região de São Domingo. Dessa ilha, foram levados para a Colômbia, Venezuela e Equador, espalhando-se por todo o continente americano.

No Brasil, os primeiros suínos chegaram ao litoral paulista em 1532, trazidos pelo navegador Martim Afonso de Sousa e, logo em seguida, à Bahia.

Hoje, há noventa raças conhecidas, com mais de duzentas variedades.

Atualmente, em muitos países, os porcos, estão sendo criados como animais domésticos de estimação, por demonstrarem inteligência e emoções – não sendo mais só  encarados como “comida”. Os porcos que vêm sendo utilizados como animais domésticos são o porco do Vietnã ( ele atinge cerca de 20 kg), e o mini porco.

Porcos amontoados numa suinicultura. (Foto: Porcos)
Porcos amontoados numa suinicultura. (Foto: Porcos)

Porcos e suas características (síntese de textos):

A alimentação do porco é constituída, principalmente, de verduras, legumes e grãos. Os porcos vivem de 15 a 20 anos;

É possível treinar este animal, tal como se treina um cão. Um porco aprende a fazer as necessidades em determinado espaço, a andar de coleira e até mesmo a fazer truques ou responder a comandos;

A curiosidade do porco leva-o a participar de brincadeiras, e também a explorar tudo o que o rodeia com o seu focinho;

São afetuosos e brincalhões;

As fêmeas têm um temperamento meigo. Gostam de ter a companhia de outros da mesma espécie;

Porcos são  mais inteligentes do que  cães e  golfinhos;

Porcos têm um alto grau de autoconsciência e maior capacidade de interação do que certos humanos com lesões cerebrais ou em estado de senilidade;

Porcos têm linguagem. Com frequência atendem quando são chamados (por humanos e por outros porcos), gostam de brinquedos (e têm seus favoritos) e são capazes de jogar videogames com controles adaptados aos focinhos;

Têm grande autonomia, tomando as suas próprias decisões de modo a conseguirem alcançar os objetivos que pretendem;

Animais admiráveis, os porcos sonham, reconhecem os seus nomes, gostam de ouvir música, de brincar com bolas e outros objetos e, à semelhança dos humanos, gostam muito de receber massagens;

Porcos têm a necessidade de explorar o seu ambiente, o que tanto gostam de fazer, recorrendo grandemente ao seu nariz tão sensível, dada a sua enorme capacidade olfativa.

São animais que criam laços de amizade fortes e que se protegem uns aos outros. Capazes de reconhecer entre 20 e 30 indivíduos diferentes, incluindo humanos, os porcos habitualmente cumprimentam os seus amigos por contato nariz a nariz ou emitindo sons de saudação;

Nos períodos de acasalamento, os porcos machos têm uma “música de acasalamento” especial com a qual chamam e atraem as fêmeas. Há estudos que demonstram que os porcos têm vidas sociais muito organizadas e complexas que antes só se tinham observado em primatas.
Ele atinge a maturidade sexual bastante cedo, apesar de fisicamente só se tornar adulto aos seis anos de idade;

As porcas são mães muito cuidadosas, podendo caminhar entre 5km a 10km para encontrar um espaço isolado e protegido para construírem um ninho seguro onde têm  suas crias. A mãe e  seus leitões mantêm contato através de diversos  sons com significados diferentes e essenciais para a sua complexa comunicação. Os leitões são gradualmente cuidados pela mãe durante cerca de 17 semanas mas podem ficar com as suas mães apenas até atingirem a maturidade sexual, o que acontece entre as 8 e as 10 semanas;

Durante a sua infância e juventude, e durante basicamente todas as suas vidas, procurarão brincar com outros porcos sempre que puderem – é também algo que estimula a sua inteligência notável;

De acordo com estudos científicos, os porcos são mais inteligentes do que crianças de 3 anos de idade;

O porco é o único animal que se queima com o sol além do homem.

Corte dos dentes dos porquinhos. (Foto: Porcos)
Corte dos dentes dos porquinhos. (Foto: Porcos)

Como a nefanda indústria alimentícia trata os porcos (síntese de textos):

Porcos de granja normalmente são abatidos quando chegam a cerca de 100 kg. Se continuassem a viver, poderiam passar dos 350 kg;

É prática generalizada os porquinhos serem cruelmente mutilados sem anestesia logo depois de nascerem. As caudas são amputadas e os dentes são cortados para minimizar os ferimentos que os porcos possam fazer uns aos outros. Os machos destinados ao consumo são castrados. Não lhes são dados quaisquer analgésicos para os aliviar do sofrimento em nenhuma destas amputações extremamente dolorosas;

Os leitões são habitualmente separados das suas mães depois de 2 a 4 semanas de vida, e são alojados com outros leitões que não conhecem. Se separados muito cedo, eles chamam pelas mães com sons frequentes e distintos e, em alguns casos, parecem mesmo desistir de viver;

Por conta própria, os leitões tendem a ser desmamados com cerca de 15 semanas, mas nas granjas industriais eles são desmamados com 15 dias – com essa idade, não conseguem digerir direito comida sólida, por isso recebem remédios contra diarreia;

Uma série de antibióticos, hormônios e outros produtos farmacêuticos na comida dos animais mantém a maioria deles viva até o abate, a despeito das condições de higiene e confinamento em que são mantidos;

Vivendo em espaços de cimento, sem qualquer elemento mínimo de enriquecimento, nunca é dada a oportunidade de fazer o que de mais basicamente necessitariam: explorar o ambiente e o solo, correr, tomar banhos de sol ou de lama, ou, sequer, respirar ar fresco;

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

As porcas passam a maior parte das suas vidas em celas de gestação – tão pequenas, que elas mal se conseguem mexer e muito menos virar-se. São continuamente engravidadas, até que sejam abatidas. Às porcas usadas para criação mantidas ao ar livre são muitas vezes aplicadas argolas no nariz para impedi-las de tentarem procurar raízes (escavando na terra), o que é extremamente doloroso para estes animais com narizes tão sensíveis e que precisam tanto  ter a oportunidade de explorar o solo. Uma porca mantida numa cela vazia, com chão de cimento, tentará sempre ter o mesmo tipo de comportamento e de movimentos como se estivesse  tentando construir um ninho, mesmo que esteja fisicamente impedida de o fazer e mesmo sem ter quaisquer condições para tal. Os porcos machos são mantidos solitariamente em celas para lhes ser retirado o sêmen;

É muito comum os porcos sofrerem de pneumonia e outras doenças, bem como apresentarem diversos ferimentos físicos. Para minimizar os riscos de doenças, são-lhes administrados rotineiramente antibióticos;

Contrariamente à fama que têm, os porcos são animais muito asseados. Eles gostam de chafurdar na lama, sobretudo para se refrescarem nos dias mais quentes (e porque suas peles se queimam ao sol). Os porcos não conseguem suar, por isso chafurdam na lama para se refrescar. Se tiverem espaço, os porcos nunca fazem as necessidades junto do local onde comem ou dormem. No entanto, nas explorações da indústria, são obrigados a viver permanentemente em cima das próprias fezes e da própria urina;

Não é incomum porcos aguardando o abate terem ataques cardíacos ou perderem a capacidade de se locomover;

As vidas dos porcos são abrupta e violentamente interrompidas depois de uma curta existência. Na natureza, os porcos poderiam viver até os 15 anos de idade. Depois do sofrimento também no transporte, os porcos são mortos nos matadouros por sangria, através do corte da jugular, depois de terem sido eletrocutados para ficarem atordoados. Por causa dos ineficazes métodos de atordoamento, muitos porcos ainda estão vivos quando são atirados para dentro de água  fervente, que serve para lhes retirar os pelos do corpo e para lhes amaciar a pele. Quando são mortos, os porcos machos ainda são pouco mais velhos do que bebês – têm apenas cerca de seis meses de idade;

A suinocultura se expandiu  no mundo inteiro, com exceções de alguns países da África e do Oriente Médio, porque o Islamismo proíbe o consumo de carne de porco. Com 38 milhões desses animais, o Brasil é o quinto maior produtor de carne suína do mundo, atrás de China, EUA, Alemanha e Espanha.

Corpos de leitões no açougue. (Foto: Porcos)
Corpos de leitões no açougue. (Foto: Porcos)

O princípio mais elementar, mais básico em relação à alimentação, diz respeito à sensibilidade para com as outras formas de vida – nossa relação com outros seres vivos e a sua utilização como alimento. O abate animal sempre envolve dor e violência. Para quem é abatido, não existe “abate humanitário”. O princípio holístico de compromisso com a vida envolve integração e compaixão. A postura contra a violência deve traduzir-se na incompatibilidade, na incongruência do consumo de carnes – qualquer carne, e seus produtos. A abstenção da carne não é uma restrição alimentar, uma dieta – torna-se um ideal. Para o vegano, não comer carne é uma das leis da própria existência, lei fundamental para que esta se mantenha. Deve-se ser holístico, na compreensão de que as ações (também o ato de comer) refletem nossa posição em relação à vida e ao mundo como um todo. Temos liberdade que, nada mais é, do que a consciência das alternativas e das possibilidades das escolhas. A liberdade é, na realidade, uma das contingências da consciência. Liberdade de escolha é estar vinculado ao fluxo da vida e à nossa própria integridade. Aquilo que ingerimos passa a fazer parte de nós – temos a liberdade, a capacidade de escolher não ingerir dor nem violência. É uma responsabilidade que, devemos ter conosco.  A alimentação é nosso maior comprometimento com nossos corpos e com nossas almas.

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