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Dentista no 10º andar

5 de julho de 2009
3 min. de leitura
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Laika
Laika

Quem já está familiarizado com fobias diversas sabe que o medo é algo muitas vezes incontrolável.No caso de medo de elevadores e dentista, mesmo que eu esteja habituada há anos com a rotina de ir a um dentista ou ter de usar um elevador, mesmo que eu saiba como esses equipamentos foram feitos e para que fim se destinam, assim mesmo meu medo é incalculável. Ele pode ser amenizado e posso até enfrentá-lo – que é o que eu faço para poder viver em sociedade – mas sabemos no íntimo o quanto isso pode nos abalar em determinados momentos.

Agora de que forma, sabendo como o medo opera em nós, poderíamos imaginar o que é para um animal submetido a crueldades e pesquisas a dor e o medo que ele sofre? Se nós, que sabemos muito da humanidade por sermos humanos, ainda temos em nosso interior instintos selvagens e indomáveis, imaginemos como deve ser para animais que nunca entraram num laboratório antes, que nunca viram aparelhos utilizados em pesquisas ou manejo.

Uma astronauta em um documentário fez a declaração de que, por mais que os astronautas façam cursos de como é viver no espaço, usando aparelhos simuladores, a realidade é muito diferente porque em nenhum lugar de nosso cérebro estamos preparados para a experiência de estar fora da Terra. Então, por mais que estejam preparados, na hora a coisa é outra.

Lembramos então do Sputnik 2 com a cadela Laika, que foi lançada na madrugada de 3 de novembro de 1957 na Rússia. Em julho de 1998, Oleg Gazenkoconfessou estar profundamente arrependido de ter lançado Laika numa missão sem regresso: “Houve uma hipótese de lançar Laika – e lançamos! Faltou-nos uma análise consciente do que estávamos fazendo”. Apenas um exemplo de estudos desnecessários movidos principalmente por lucro e orgulho.Na época, oficiais russos afirmaram que Laika havia morrido com uma injeção letal. Mas em 2002 Dimitri Malashenkov revelou que ela na verdade havia morrido numa situação de calor e pânico entre cinco e sete horas após o lançamento.

Se já sabemos por experiência de convívio com os cães que eles são profundamente ligados aos seus grupos, que são sentimentais ao extremo e muito inteligentes, podemos imaginar de longe o que deve ter sido para este ser ter de passar por tais treinamentos e por esta experiência indizível.

Um pensamento elementar deveria ser o de que uma outra espécie semelhante à nossa (um animal,um mamífero por exemplo) deve ter sentimentos de medo semelhantes aos nossos e, mesmo sendo semelhantes, jamais poderemos mensurar o que é aquela experiência para aquele indivíduo.

Há os que sofrem verdadeiras convulsões quando se deparam com o “sentimentalismo”, afirmando que somente a razão deve prevalecer. Concordamos que a razão é nossa ferramenta, é a base de nossas ações e da justiça, mas não podemos ser estúpidos ao negar nossa revolta diante do sofrimento do outro.

Quando não podemos medir, e é quase sempre o caso, o sentimento do nosso próximo, o que nos resta é a compaixão. Isto se temos alguma moralidade ou mesmo algum caráter. Nos colocarmos no lugar do próximo (dos animais) é uma forma de respeitá-los e evitar-lhes a dor. Não saberemos jamais o sentimento exato que eles passam nas imensuráveis experiências que já foram realizadas e que ainda vêm sendo feitas, mas isso é apenas mais um estímulo para a compaixão aliada à ação a fim de evitar sofrimentos futuros.

Todas as vezes em que eu passo por situações de medo, me lembro daqueles que praticamente estão nas mãos de outros e num pânico total.

Fonte da imagem e informação sobre Laika: http://www.zenite.nu/

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