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Ouvidos eletrônicos captam caçadores em importante habitat de onças

Os gravadores acústicos podem captar tiros de arma, conversas e sons da vida selvagem, e ajudar guardas florestais a planejarem suas patrulhas para serem mais eficientes em combater atividades ilegais,Os gravadores acústicos podem captar tiros de arma, conversas e sons da vida selvagem, e ajudar guardas florestais a planejarem suas patrulhas para serem mais eficientes em combater atividades ilegais,Os gravadores acústicos podem captar tiros de arma, conversas e sons da vida selvagem, e ajudar guardas florestais a planejarem suas patrulhas para serem mais eficientes em combater atividades ilegais

17 de março de 2021
Elizabeth Claire Alberts (Mongabay) | Tradução de Gabriela AlvesElizabeth Claire Alberts (Mongabay) | Tradução de Gabriela AlvesElizabeth Claire Alberts (Mongabay) | Tradução de Gabriela Alves
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Foto de onça pintada
Pixabay

Um tiro explode pela floresta tropical, seguido por algo que soa como galhos caindo de uma árvore. Um cachorro late.

“Tito, eu acertei?”, um homem pergunta ao companheiro em espanhol. “Ah sim, eu acertei. Olha, tem sangue escorrendo. Eu atirei dali.”

Esses sons foram gravados por uma unidade de monitoramento acústico desenvolvida pela Panthera, uma organização de conservação de gatos selvagens na Área Nacional Protegida Sierra Caral da Guatemala, uma região próxima à fronteira com Honduras.

“Nós acreditamos que eles atiraram num animal que estava em cima das árvores,” Franklin Castañeda, diretor da Panthera de Honduras, contou ao Mongabay. “Eu acho que pode ter sido um macaco ou algum tipo de grande pássaro mutum (crax)”.

Em 2017, a Panthera começou a usar sistemas de monitoramento acústico para ajudar a fortalecer as suas patrulhas anti-caça ilegal em três áreas protegidas: Cusuco e os parques nacionais Jeannette Kawas, em Honduras, e a Área Nacional Protegida Sierra Caral, na Guatemala. Agora que o programa opera há 4 anos, Castañeda diz que pode ver seu efeito positivo nos esforços de patrulhamento da organização. Por exemplo, em agosto de 2020, autoridades puderam prender três caçadores furtivos em Honduras com base em informações acústicas, de acordo com a Panthera.

“O monitoramento acústico é uma ferramenta que nos dá … informações para melhorar patrulhas, para torná-las mais efetivas”, Castañeda disse. “Por exemplo, agora nós sabemos que caçadores ilegais estão se preparando para sair em noites escuras quando a lua não aparece. Como sabemos disso? Sabemos disso porque … ouvimos muito mais tiros nas noites escuras. Nós raramente escutamos tiros quando há lua cheia”.

Embora qualquer tipo de caça ilegal seja uma preocupação, o time da Panthera está particularmente preocupado com a onça-pintada (Panthera onca), uma espécie ameaçada pela destruição de seu habitat caça furtiva e tráfico de vida selvagem pela América do Sul e Central. A conservação da onça é especialmente importante na Guatemala e em Honduras porque essas regiões ajudam a manter a diversidade genética em todo o corredor da onça-pintada, que conecta populações centrais de onças entre o México e a Argentina, de acordo com Panthera.

“Pegando um mapa da América Central e sabendo que a espécie está extinta em El Salvador, você pode ver como as paisagens de Honduras e da Guatemala são cruciais para a sobrevivência da onça-pintada”, Howard Quigley, diretor executivo de ciências de conservação e diretor do programa de onças para o Panthera, disse ao Mongabay num comunicado enviado por e-mail. “Se não protegermos as onças-pintadas e seus habitats nesses países, isso cortará a conexão dos genes das onças-pintadas e das populações que vivem na América Central e do Sul. Os dados genéticos já mostram um efeito entre onças-pintadas no México e onças-pintadas em Honduras e no sul”.

Estima-se  que há cerca de 1,000 onças-pintadas na Guatemala e 1,200 em Honduras.

Os dispositivos de gravação são uma alternativa econômica às armadilhas fotográficas, de acordo com a ONG. Mas eles não substituem as equipes de patrulha a pé, que são o núcleo dos esforços anti-caça furtiva da Panthera.

“Não é que a opção do acústico seja melhor do que as patrulhas, ou que as patrulhas sejam melhores do que o acústico ”, disse Barbara Escobar, coordenadora da Panthera para a Guatemala, ao Mongabay. “Gostamos de vê-los como complementares porque obtemos informações diferentes que nos permitem tomar decisões.”

A ONG Panthera está atualmente usando unidades de gravação “Swift” em conjunto com um programa de inteligência artificial chamado RAVEN, ambos desenvolvidos no Centro de Conservação Bioacústica da Universidade Cornell.

“O gravador é muito básico, designado para ser confiável e sem muitos ‘sinos e assobios’ ”, disse Peter Wrege, do Laboratório de Ornitologia de Cornell, que ajudou a projetar a unidade de gravação Swift, ao Mongabay por e-mail. “Agora estou chegando a quatro anos de gravação contínua usando 50 deles e o desempenho tem sido excelente”.

Wrege também ajudou a treinar a equipe da Panthera para usar as unidades Swift em uma oficina que realizou na Guatemala, em 2017.

“É fantástico ver esta iniciativa valendo a pena”, ele disse. “É sempre muito gratificante ver ‘ex-alunos’ continuando e usando o conhecimento que nós os ajudamos a obter”.

Castañeda diz que a equipe do Panthera também usa o SMART, uma ferramenta gratuita de monitoramento e relatório espacial comumente usada por conservacionistas e equipes de combate à caça furtiva. Este software os ajuda a manter o controle das datas, horários e locais de cada patrulha, que eles fazem referência cruzada com os dados das gravações acústicas.

“Por meio da acústica e do SMART, monitoramos nosso próprio sucesso e, ao examinar nossos dados, podemos ver que, de fato, nossas equipes de patrulha estão impedindo a caça ilegal”, disse Castañeda.

As unidades de gravação, que geralmente são instaladas em árvores, podem captar o som em um raio de 1 km (1.100 jardas), de acordo com a Panthera. Os tiros são um dos sons mais fáceis de detectar. Os gravadores também podem captar conversas e até ruídos de animais.

“Estamos começando a usar nossas informações para aprender mais sobre a vida selvagem porque estamos gravando todos os sons de mamíferos, rãs e pássaros”, disse Castañeda.

O Panthera não é o único grupo conservacionista que usa registros acústicos para ajudar a combater atividades ilegais em áreas protegidas. Rainforest Connection (RFCx), uma ONG que trabalha para prevenir a extração ilegal de madeira em florestas tropicais, também usa a acústica para rastrear espécies e controlar atividades ilegais.

“Conservação em larga escala requer um sistema de sensoriamento remoto automatizado e inclusivo para monitorar a ocorrência de espécies em tempo real”, disse Chrissy Durkin, diretora de expansão internacional da RFCX, ao Mongabay num comunicado por e-mail. “O monitoramento acústico cria uma capacidade revolucionária de expandir o escopo do monitoramento da biodiversidade ao mesmo tempo em que detecta ameaças”.

“Embora o monitoramento acústico tenha mudado a forma como a Panthera conduz suas patrulhas anti caça ilegal, não necessariamente consertou o problema da caça furtiva”, disse Castañeda.

“Precisamos aumentar nossas patrulhas”, disse ele. “Já sabemos que as patrulhas são eficazes. Mas sabemos que os caçadores furtivos estão entrando no parque quando nossa equipe de patrulha não está lá. Então, precisamos de mais equipes de patrulha. Precisamos contratar mais guardas para manter o parque protegido 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano”.

Escobar concorda com a necessidade de mais patrulhas. Na verdade, ela e Castañeda estão trabalhando em uma proposta de financiamento para contratar e treinar mais guardas florestais para trabalhar na Guatemala e em Honduras, disseram.

“Parece muito óbvio que precisamos de mais guardas florestais”, disse Escobar. “Mas agora temos evidências de que esse trabalho está realmente funcionando. Está tendo um efeito importante na área. Então isso é uma grande coisa”.

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