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Homem sem teto se nega a abandonar cadela para deixar as ruas: 'Ela salvou minha vida'

“Desde o início, eu liguei-me muito à cadela, como nunca me tinha acontecido com os outros animais que tive. Ela é uma cadela diferente de todos os outros cães. Não sei expressar o meu amor pela Kika", disse Luís Pereira,“Desde o início, eu liguei-me muito à cadela, como nunca me tinha acontecido com os outros animais que tive. Ela é uma cadela diferente de todos os outros cães. Não sei expressar o meu amor pela Kika", disse Luís Pereira,“Desde o início, eu liguei-me muito à cadela, como nunca me tinha acontecido com os outros animais que tive. Ela é uma cadela diferente de todos os outros cães. Não sei expressar o meu amor pela Kika", disse Luís Pereira

10 de fevereiro de 2021
Redação ANDARedação ANDARedação ANDA
3 min. de leitura
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FOTO: NELSON GARRIDO/PÚBLICO

Adotado por um casal após ser abandonado aos quatro anos, Luís Pereira tinha casa e família, mas acabou indo parar nas ruas aos 24 anos, depois de ficar viciado em drogas. Hoje, curado do vício, ele se nega a sair das calçadas de Santa Maria da Feira, em Portugal, se não for para levar consigo a cadela Kika, sua fiel companheira.

“A minha vida começou a decair nessa altura. Cheguei a roubar algumas coisas da minha casa para vender e poder ter dinheiro para consumir drogas, o que fez a minha família fechar-se para mim. Mesmo agora que estou limpo”, contou Luís, de 34 anos, ao jornal Público.

“Aqui na Feira e na zona de Aveiro, não há soluções para pessoas sem-abrigo com animais. Até só para sem-abrigo há muito pouco. Eu estou lutando e vou continuar na luta para não abandonar a minha cadela”, completou.

Durante um período, Luís morou na “Condeixa Pa’tudos”, um abrigo para animais abandonados em Coimbra. Em troca de casa e alimentação para ele e para Kika, ajudou com os animais que viviam no local. No entanto, uma doença infecciosa o obrigou a sair do abrigo e voltar para as ruas.

Nos últimos dias, Luís passou a dormir em uma antiga pensão subsidiada pela Segurança Social do município. Na mesa de cabeceira do quarto, ele guarda a cédula de nascimento de Kika. “Nasceu em 29 de Abril de 2019. Ainda nem dois anos tem. Fui buscá-la em um canil do Porto quando vivia lá nas ruas. Eu consumia drogas na época e decidi pôr um fim a essa dependência. Daí quis arranjar uma companhia para me ajudar”, disse. “Desde o início, eu liguei-me muito à cadela, como nunca me tinha acontecido com os outros animais que tive. Ela é uma cadela diferente de todos os outros cães. Não sei expressar o meu amor pela Kika. Ela salvou minha vida”, continuou.

No Natal, após passar três semanas em um abrigo em Coimbra, decidiu voltar para Santa Maria da Feira para encontrar Kika, que estava temporariamente na sede da associação “Cão ou sem Casa”. “No Natal, eu não tive ninguém que me ligasse. Nem família, nem amigos. Só tinha a minha Kika aqui comigo para me fazer companhia”, desabafou.

FOTO: NELSON GARRIDO/PÚBLICO

Colaboradora da entidade “Cão ou Sem Casa”, Ana Tavares reforçou que Luís e Kika têm uma ligação forte. “No caso do Luís, por culpa do contexto, ele perambula sozinho. E a Kika tornou-se algo constante na vida dele. Não importava quantas vezes ele errava, ela estava lá sempre com ele – é um animal fiel. Já pedir isso das pessoas é mais complicado. Elas criam expectativas e, quando existem erros sistemáticos, acabam por se afastar”, disse.

E embora Ana tente ajudar a dupla, ela admite que “não existem soluções, localmente, que congreguem as duas problemáticas do caso – o lado animal e o humano”. “Existem abrigos vazios, sim, mas eles são obrigados a ficar vazios pois estão reservados para eventuais desastres naturais, por exemplo. Não podem receber o Luís e a Kika”, lamentou.

Durante votações sobre o Orçamento do Estado de 2021, o partido político PAN conseguiu que o governo acatasse um projeto que determina que os centros que acolhem pessoas em situação de rua aceitem os animais tutelados por elas. No entanto, a medida ainda não foi implementada.

Em meio a tantas dificuldades, Luís implora por uma oportunidade de trabalho em qualquer lugar de Portugal. “Não tenho medo de trabalhar. Eu vou com a Kika para onde tiver de ir, desde que possa ficar com ela. Não é dinheiro que está aqui em causa, é estar com ela”, reiterou o tutor da cadela, que se desespera ao ver o tempo passar sem que uma solução definitiva apareça. “Ou morro de uma pneumonia na rua, por amor à cadela, ou a coloco para adoção para conseguir uma melhor vida para mim”, concluiu.

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