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Touro é levado de volta a matadouro após fugir para se livrar da morte

Em uma luta desesperada pela vida, o touro expôs o transtorno psicológico sofrido pelos animais por conta da exploração para consumo humano,Em uma luta desesperada pela vida, o touro expôs o transtorno psicológico sofrido pelos animais por conta da exploração para consumo humano

29 de janeiro de 2021
Mariana Dandara | Redação ANDAMariana Dandara | Redação ANDA
3 min. de leitura
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(Foto: Pixabay)

Um touro fugiu de um matadouro na cidade de Santa Cruz, a 111 quilômetros de distância de Natal, no Rio Grande do Norte, e correu assustado pelas ruas do município na manhã da última quinta-feira (28).

Em uma luta desesperada pela vida, o touro expôs o transtorno psicológico sofrido pelos animais por conta da exploração para consumo humano.

Não foram divulgadas muitas informações sobre os fatos que antecederam a fuga, mas com base no que já se sabe sobre a forma como são tratados os animais pela agropecuária, entende-se o porquê do animal ter, conforme divulgou a prefeitura do município, pulado o muro do matadouro para fugir.

Tratados como mercadorias a serviço do lucro e do paladar humano, animais como os touros são condenados a vidas miseráveis. Queimados com ferro quente para que sejam identificados como produtos, eles têm sua condição de ser vivo senciente – isso é, capaz de sentir – ignorada. Não bastasse a dor de ser queimado, eles são comumente eletrocutados com picanas elétricas usadas para forçá-los a caminhar quando, paralisados de medo, eles decidem recuar.

A caminho do matadouro, são transportados dentro de caminhões superlotados. Sem água e comida, muitos deles suportam viagens longas, com horas de duração, durante as quais são expostos às condições climáticas. O trajeto é baseado numa junção de práticas cruéis. Confinados nas carretas, eles não dispõem de espaço suficiente para se movimentar, tampouco para deitar e descansar durante a viagem. Defecam e urinam na carroceria do caminhão e são obrigados a viajar em meio aos próprios excrementos. Não raro, caem uns sob os outros quando as carretas freiam – havendo risco, inclusive, de pisoteamentos e ferimentos.

Ao final do horror do transporte, outra crueldade se inicia: o momento em que os animais são mortos para consumo humano. E eles costumam, antes da morte, sofrer o terror psicológico de assistir outro animal, semelhante a eles, ser morto. Esse abalo emocional ficou comprovado por um estudo realizado em 2012, que deu origem a um manifesto assinado por neurocientistas do mundo todo e concluiu que os mamíferos, as aves e outros animais, como os polvos, têm consciência. Em entrevista à revista Veja, o neurocientista canadense Philip Low explicou que as estruturas cerebrais responsáveis pela consciência “são semelhantes entre seres humanos e outros animais, como mamíferos e pássaros”. “Isso quer dizer que esses animais sofrem. É uma verdade inconveniente”, disse Low, que afirmou que iria se tornar vegetariano porque “é impossível não se sensibilizar com essa nova percepção sobre os animais, em especial sobre sua experiência do sofrimento”.

O estudo concluiu que, além da dor física, os animais sentem medo, tristeza, felicidade, pavor, angústia e outros sentimentos que apenas quem possui consciência é capaz de sentir. Por isso, os matadouros são cruéis não só por tirarem vidas, mas por condenarem esses animais a sofrimento físico e psicológico, inclusive quando eles percebem que seus semelhantes estão sendo mortos e que eles serão os próximos.

Quando, em situações raras, os animais conseguem fugir, costumam ser levados de volta ao matadouro. Poucos são aqueles que têm a sorte de parar em um santuário. O touro do Rio Grande do Norte não teve essa sorte. Após a fuga, ele derrubou uma moto na região central da cidade e em seguida foi contido por uma equipe da Secretaria Municipal de Agricultura, que o amarrou a um poste e, depois, o encaminhou ao matadouro para que ele tivesse sua vida ceifada.

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