Escute
|

A água contaminada da usina nuclear de Fukushima, no Japão, contém “níveis perigosos” de substâncias radioativas que têm o “potencial de danificar o DNA humano”, de acordo com um relatório do Greenpeace.
O relatório Stemming the Tide 2020 da organização, faz um alerta para a presença de isótopos radioativos Estrôncio-90 e Carbono-14 na água, e chega o momento em que o governo japonês decide se vai prosseguir com os planos atuais de liberação do líquido “tratado” no mar.
Mais de um milhão de toneladas de água permanece na área de Fukushima, e o governo japonês vem debatendo há anos como descartar o lixo.
Grupos de pescadores e ambientalistas levantaram preocupações sobre o lançamento de resíduos radioativos, mas alguns cientistas consideram o risco para a área baixo.
O líquido em Fukushima contém água que foi usada para resfriar a usina nuclear antes de ser devastada pelo enorme tsunami que se seguiu a um terremoto de magnitude 9,0 em 2011.
A liberação da água do local para o oceano começaria no próximo ano, no mínimo, com os resíduos ainda mais diluídos antes de serem liberados no mar por um período de 30 anos.
Mas o relatório do Greenpeace afirma: “É uma medida que terá consequências graves e de longo prazo para as comunidades e para o meio ambiente, tanto dos arredores quanto de áreas muito mais longe”.
O relatório acusa o governo japonês e a Tokyo Electric Power Company (TEP-CO), responsável pelo local de Fukushima, de ter “construído uma série de mitos para apoiar seu plano”.
O Greenpeace disse que isso inclui: “Que até 2022, não haverá mais espaço para armazenamento de água; a água não está contaminada – o trítio radioativo é o único radioisótopo na água e é inofensivo; e não há alternativas para o despejo da água no oceano.”
Mas o relatório diz que as declarações são “falsas”.
O Greenpeace disse: “O isótopo radioativo carbono-14 tem meia-vida de 5.370 anos. Como resultado, ele persiste no meio ambiente por milhares de anos e é incorporado a toda matéria viva. Concentra-se nos peixes em níveis milhares de vezes superior ao do trítio. O carbono-14 é especialmente importante como um dos principais contribuintes para a dose de radiação humana coletiva e tem o potencial de danificar o DNA humano.”
Na semana passada, o governo japonês adiou a decisão sobre o que fazer com a água.
O Ministro da Indústria, Hiroshi Kajiyama, disse: “Para evitar o atraso no processo de desativação de Fukushima Daiichi, precisamos tomar uma decisão sobre como lidar com a água processada que aumenta a cada dia”, mas ele também reconheceu que as autoridades japonesas precisam abordar as “vozes da preocupação”.
Shaun Burnie, autor do relatório e especialista nuclear sênior do Greenpeace Alemanha, disse: “Quase dez anos após o início do desastre, a TEP-CO e o governo japonês ainda estão encobrindo a escala da crise em Fukushima Daiichi.”
“Eles ocultaram deliberadamente durante anos informações detalhadas sobre o material radioativo na água contaminada. Eles não conseguiram explicar aos cidadãos de Fukushima, no Japão e em países vizinhos, como Coreia do Sul e China, que a água contaminada a ser despejada no Oceano Pacífico contém níveis perigosos de carbono-14. ”
Ele acrescentou: “Estes, juntamente com outros radionuclídeos na água, permanecerão perigosos por milhares de anos, com potencial para causar danos genéticos. É mais uma razão pela qual esses planos precisam ser abandonados.”
O Greenpeace está pedindo às autoridades japonesas que armazenem a água contaminada e continuem a tratá-la.
O atraso em anunciar se o lançamento de água no oceano deve ou não ser feito se deu porque o governo do Japão inesperadamente voltou sua atenção para a crise climática.
O novo primeiro-ministro Yoshihide Suga deve anunciar que o país alcançará emissões líquidas zero até 2050, alinhando suas ambições ambientais com as da UE e de muitos outros países.