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Raros abutres africanos voam novamente após serem salvos de uma intoxicação

15 de agosto de 2020
6 min. de leitura
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Três abutres-de-rabadilha-branca reabilitados por especialistas após serem envenenados ano passado, foram devolvidos à natureza na África do sul.

Os pássaros estão entre aqueles resgatados de um envenenamento em massa no final do ano passado, que matou 51 abutres no norte da província de Kwazulu-Natal.

Muitas populações de abutres estão em rápido declínio por toda a África. A causa principal é o envenenamento causado por fazendeiros, cujos alvos originais são outros predadores.

A rápida denúncia da intoxicação possibilita que os locais sejam descontaminados, limitando o número de abutres e outras espécies afetados.

Pixabay

Três abutres-de-rabadilha-branca – classificados como criticamente ameaçados de extinção – foram salvos de envenenamento ano passado e devolvidos recentemente à natureza em Zululand, África do sul. Os envolvidos na conservação local desses pássaros enxergam essa soltura como um passo crucial no trabalho focado na sobrevivência dessa espécie.

O trio foi salvo de incidentes distintos que vitimaram 51 aves no norte de KwaZulu-Natal entre outubro e dezembro do ano passado.

Uma equipe especializada de resgate do grupo conservacionista local Wildlife ACT – que trabalha juntamente com a agência de conservação do governo africano (KZN Wildlife), fazendeiros e comunidades locais, bem como outros grupos de conservação na proteção de 3 espécies raras de abutres de Kwazulu-Natal -, os levaram a instalações de reabilitação onde foram tratados e totalmente recuperados.

Os três abutres-de-rabadilha-branca foram libertados no dia 24 de junho. As duas outras aves, um abutre real e outro abutre-de-rabadilha-branca – que também foram resgatados por envenenamento, foram devolvidos à natureza alguns meses antes.

Chris Kelly, diretor de conservação na Wildlife ACT, disse a Mongabay, que o retorno das aves ao habitat natural delas é crucial quando se pensa na sobrevivência futura dessas espécies que já estão sob séria ameaça de extinção.

Esses tipos de intoxicação são prejudiciais às populações de abutres que já se encontram em declínio. Abutres rapidamente detectam carcaças de outros animais e logo inúmeros deles se concentram, o que facilita o envenenamento de grande quantidade de abutres em questão de minutos, disse ele.

Abutres são reprodutores lentos – eles têm somente um filhote por ano e o índice de sobrevivência natural é baixo, o que significa que essas mortes em massa impactaram muito a população existente até então. As aves que resgatamos e reabilitamos receberam uma segunda chance, garantindo sua contribuição à manutenção da população de sua espécie.

Abutres soltos no Manyoni Private Game Reserve. Cada um equipado com uma mochila GPS e etiquetas que irão monitorar padrões de voo. Imagem de Casey Pratt.

As aves foram equipadas com rastreadores. Isso nos permite monitorar cada indivíduo pelos próximos anos para avaliar o sucesso de suas solturas, disse Kelly. Essas informações também irão fornecer detalhes que ajudarão a identificar rotas de voo, áreas de alimentação, locais de reprodução e preferencias de pouso. Tais dados irão guiar e melhorar nossas práticas de gerenciamento da conservação dessas espécies.

A recuperação e eventual soltura desses pássaros foram descritas por conservacionistas locais como um respiro em um futuro que eles antecipam como sombrio para os abutres na África.

As populações de abutres no país decresceram rapidamente nas últimas três décadas: oito espécies consideradas em uma pesquisa mostraram queda de 62% em média nesse período. Envenenamento foi identificada com a maior ameaça a essas aves. Elas são vítimas por envenenamento secundário, quando comem uma carcaça que está embebida em veneno para atrair e matar predadores, ou pelos caçadores.

Em um dos incidentes em Botswana ano passado, 530 abutres foram mortos quando caçadores furtivos embeberam uma carcaça de elefante com veneno para prevenir que as aves indicassem sua presença aos guardas florestais da região. Outros foram intoxicados para a coleta de suas partes, que tem uso religioso. A Lista Vermelha da IUCN – órgão internacional de conservação da vida animal – atualmente classifica 39% das espécies de abutres como criticamente ameaçadas de extinção.

KwaZulu-Natal (KZN) concentra populações relevantes de abutres, incluindo o abutre-de-cabeça-branca, o abutre-de-rabadilha-branca e o abutre-real. O abutre-de-cabeça-branca e o abutre-de rabadilha-branca figuram na lista da IUCN como criticamente ameaçados de extinção e o abutre-real como ameaçado.

Ano passado, a região norte de KZN observou um aumento vertiginoso em incidentes de envenenamento. A Wildlife ACT relata que, entre 2010 e 2018, seu time atendeu dois incidentes desses por ano. Em 2019, foram quatro episódios diferentes.

Não está claro o que causou esse aumento repentino, mas alguns experts no assunto acreditam que o fato não é necessariamente negativo.

Andre Botha, gerente do programa Abutres para África na EWT – Fundo de Espécies Ameaçadas -, disse à Mongabay: há grande demanda por partes dos abutres e isso pode ser a razão do aumento dos casos. Ou pode ser que a conscientização sobre o assunto aumentou.

Há alguns anos, haveria uma série de incidentes como esses que não seriam reportados. Mas, com maior conhecimento do assunto, os casos estão sendo denunciados, o que aumenta as chances de salvarmos mais aves. Se os envenenamentos tivessem acontecido há 10 ou 15 anos essas aves não teriam sido salvas.

EWT e organizações parceiras em 10 países africanos coordena programas de treinamento para grupos como polícia, conservacionistas, guardas florestais, entre outros, estarem aptos a responder a casos de intoxicação, bem como contribuir para o aumento da conscientização da população sobre o tema.

Três abutres-de-rabadilha-branca, criticamente ameaçados de extinção, foram reabilitados e devolvidos à natureza pela Wildlife ACT, Ezemvelo KZN Wildlife e Raptor Rescue; através do Zululand Vulture Project. Imagem de Casey Pratt.

Botha disse que o aumento na conscientização ajudou na melhora da resposta aos incidentes. Fez uma diferença significativa nas áreas onde esse trabalho é realizado.

Chris Kelly, da Wildlife ACT, disse que a maior conscientização ajuda a garantir que os envenenamentos sejam relatados rapidamente e permitem que a reação a eles seja ágil; o que não só ajuda a salvar os pássaros contaminados mas, também, permite descontaminar as áreas antes que outros indivíduos sejam afetados.

Responder rapidamente a esses incidentes pode ajudar a salvar centenas de abutres, disse ele.

Reagir com agilidade e eficácia aos envenenamentos é crítico na proteção aos abutres, visto que a prevenção permanece um desafio, de acordo com conservacionistas.

A intoxicação geralmente acontece de forma ilegal. Às vezes, de forma acidental. Dito isso, tentar impedir essas ações dentro de um escopo legal é mais difícil, disse à Mongabay Campbell Murn, diretor de conservação e pesquisa na instituição inglesa Hawk Conservancy Trust.

Ben Hoffman da Raptor Rescue, local onde as aves foram tratadas e reabilitadas, disse a Mongabay enquanto as investigações estavam acontecendo ano passado, que é muito difícil identificar os responsáveis nesses casos.

Tudo o que podemos fazer é reagir o mais rápido possível aos casos reportados, disse ele.

O retorno dessas aves recuperadas a natureza trouxe um pouco de esperança aos envolvidos na conservação dos abutres.

Quando uma espécie está ameaçada de extinção, cada indivíduo que é salvo e devolvido a natureza é de extrema importância, disse Botha. Quando isso acontece, é um incentivo enorme e traz muita esperança a equipe envolvida no trabalho com essas aves. Ao presenciar um sucesso desses ficam muito otimistas em relação ao futuro desses abutres.


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