Um estudo recente publicado no “Journal of Ecology” estabeleceu uma nova divisão da flora amazônica com base na distribuição de mais de 5.000 espécies lenhosas (árvores e arbustos). O trabalho, que analisou dados sobre a composição das espécies pela primeira vez, pode contribuir para futuros esforços de conservação.
Segundo os autores – os biólogos Karla Silva Souza e Alexandre Souza, do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – os esforços anteriores de mapeamento se concentraram na fisionomia da vegetação ou em conjuntos de dados que incluíam espécies de animais, plantas e características de habitat.
“Enquanto o método revela padrões universais de distribuição da biota [todos os seres vivos], ele pode esconder padrões importantes para grupos específicos, como é o caso das plantas lenhosas”, explica Silva-Souza.
Na nova metodologia, os pesquisadores compilaram dados sobre a composição de espécies em 301 comunidades de plantas distribuídas em toda a Amazônia. Lugares que estatisticamente compartilharam menos espécies individuais foram separadas em sub-regiões distintas enquanto aqueles com mais espécies em comum foram agrupados sob a mesma sub-região.
No total, o estudo identificou 13 sub-regiões na Floresta Amazônica, que cobre 40% da América do Sul e inclui áreas em nove países. Essas áreas também têm espécies exclusivas, ou seja, que ocorrem apenas em uma determinada sub-região.
Enquanto algumas zonas florísticas são grandes – como a sub-região 1 (as ilustrações estão no link), próximas aos Andes – outras são pequenas e periféricas, como a sub-região 13, próxima ao Cerrado brasileiro. Algumas espécies que caracterizam estas duas sub-regiões são, respectivamente, Jacaranda macrantha (caroba) e Astrocaryum chambira (palmeira chambira); e Astronium fraxinifolium (gonçalo-alves) e Cochlospermum regium (algodão do cerrado).
A mudança climática e o futuro das espécies
Além disso, os cientistas quiseram investigar – também com base em estatísticas-se as características dessas sub-regiões estão relacionadas às atividades humanas e aos fatores ambientais e históricos. Por exemplo, a estabilidade da vegetação ao longo de milhares de anos.
“A importância das atividades humanas que observamos na distribuição das sub-regiões indica limpeza e fragmentação de florestas como resultado da invasão de terras e agricultura em larga escala”, diz Karla Silva-Souza.
“Os números também sugerem que o atual regime de chuvas e temperatura influencia a distribuição das sub-regiões e indica o profundo impacto que a mudança climática poderia ter na organização espacial da flora amazônica”, acrescenta ela.
O co-autor Alexandre Souza explica que o aumento da frequência dos anos secos na região amazônica deve causar expansão de certas sub-regiões florísticas e contração de outras. “Algumas sub-regiões podem ter suas extensões territoriais aumentadas porque têm mais espécies tolerantes à baixa pluviosidade. Estas proliferariam enquanto outras sub-regiões com plantas menos tolerantes à seca perderiam espécies e território”.
O conhecimento da distribuição espacial da flora é essencial para proteger a Amazônia, diz Karla Silva. “Muito pouco se sabe sobre as espécies que existem na região, mas à medida que aprendemos mais sobre elas através de pesquisas florísticas e esforços de identificação, divisões espaciais mais precisas podem ser estabelecidas”.
A Floresta Amazônica abriga 25% da biodiversidade global e é uma das principais forças no equilíbrio climático e biogeoquímico da Terra. Karla Silva diz que esforços de classificação como este podem ajudar a protegê-la. “Conhecer a distribuição espacial da flora nas sub-regiões contribui para aumentar o número de espécies protegidas, uma vez que os esforços de conservação são direcionados de acordo com sua distribuição na vasta região”.
CITAÇÃO:
Silva-Souza, Karla; Souza, Alexandre (2020), Woody plant subregions of the Amazon forest, Dryad, Dataset https://doi.org/10.5061/dryad.kh189322x
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