
Em setembro de 2019 pessoas de todas as classes sociais se reuniram para exigir ação quanto às mudanças climáticas. Pela Austrália, 300 mil pessoas se reuniram nos parlamentos, parques e ruas para a greve do clima, criando o maior protesto climático da história de nossa nação.
Nós imaginamos um futuro diferente. Um futuro sem projetos relacionados ao novo carvão,
óleo ou gás, com a geração e exportação de 100% de energias renováveis e uma transição
justa em que trabalhadores e comunidades vulneráveis sejam apoiadas. Sem essas mudanças, temíamos um futuro com geleiras derretendo, corais degradados, erosão costeira, ondas de calor e queimadas permanentes.
Não esperávamos o futuro que temos agora. Jovens na Austrália perderam a liberdade que nós não valorizamos. Durante o lockdown, vivemos, trabalhamos, estudamos e socializamos dentro das mesmas quatro paredes, geralmente enquanto olhamos essa mesma caixinha que você está olhando agora. Mesmo para aqueles que não estão mais em quarentena, o mundo e suas possibilidades encolheram.
Nossos medos sobre os efeitos da mudança climática, agora seguem lado a lado com nossa preocupação em contrair a Covid-19, contagiar nossos familiares, ver nossas notas na escola afetadas pelo fato de estarmos estudando em casa, a probabilidade de que não haverá empregos para nós e a dívida que nossa geração irá herdar quando tudo isso acabar.
Vimos governos e negócios reagirem à Covid-19 de maneira que não fizeram em resposta às mudanças climáticas. Nossos sistemas para viver, comer, trabalhar e cuidar da saúde mudaram radicalmente em questão de meses. O aumento da pensão para os desempregados e a criação dos subsídios para as empresas durante a pandemia, apoiaram milhões de pessoas no país. O coronavírus revelou que governos tem a capacidade e habilidade de reagir e prevenir crises com a urgência e escala necessárias.
Quando os números da pandemia começaram a melhorar no país, presenciamos um surto em Victoria que nos mandou de volta para o lockdown. Foi um lembrete árduo de que a
normalidade que conhecemos um dia não existe mais. As soluções de ontem – como carvão e gás – não são as soluções que precisamos para prevenir riscos futuros.
Retornar à essas soluções com foco em lucro somente, é reforçar sistemas e instituições que nos trouxeram onde estamos hoje – sistemas que permitem que os ricos prosperem às custas dos pobres e que valorizam lucro e soluções econômicas a curto prazo ao invés de bem estar socioambiental das gerações atuais e futuras.
Não podemos simplesmente voltar ao que éramos. A pandemia nos trouxe a oportunidade de trilhar novos caminhos. De refletir e reconstruir nossas vidas em direção a uma sociedade que é capaz de mitigar e se adaptar adequadamente às ameaças que confrontam a humanidade hoje e no futuro.
A Comissão para o Futuro Humano – formada na Austrália por líderes, governantes e cidadãos comuns – em seu relatório intitulado Sobrevivendo e Prosperando no século 21, identificou 10 ameaças catastróficas que temos que endereçar se quisermos garantir nosso futuro no planeta.
Tais ameaças não incluem somente pandemias e mudanças climáticas, mas também, armas nucleares, escassez de recursos naturais, colapso de ecossistemas que suportam formas de vida, crescimento da população, poluição, insegurança alimentar e tecnologias emergentes.
Ao admitir que muitas dessas ameaças são interconectadas, a comissão reconhece que elas
geralmente surgem de causas comuns e têm soluções comuns. Por exemplo, parar o
desmatamento também poderia reduzir o surgimento de novas doenças, proteger
ecossistemas que suportam a vida animal, aumentar a segurança alimentar e mitigar efeitos de alterações no clima através do sequestro de carbono.
Além disso, a melhor cooperação internacional entre os governos poderia aliviar riscos de severas mudanças climáticas, de uma guerra nuclear, de novas pandemias e aumento da poluição.
Ao nos recuperarmos da Covid-19, jovens exigem que abracemos a oportunidade de
implementar mudanças sistêmicas. Nosso futuro está em jogo. Temos que garantir que as
decisões tomadas hoje enderecem essas ameaças identificadas pela comissão e estabelecer a base para um amanhã mais ambientalmente limpo, justo e seguro. Um amanhã que não volte ao que hoje chamamos de normal ou business as usual.
Rachel Hay é uma ativista climática e estudante de artes e direito do sul da Tasmânia
Hannah Ford é uma ativista climática e formada em estudos de desenvolvimento e ciências
sociais, de Camberra, Austrália.
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