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Exportação de animais vivos pode fomentar novas pandemias

13 de agosto de 2020
5 min. de leitura
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Animals Now

O prof. Marylouise McLaws, membro do Painel Consultivo de Especialistas do Programa de Emergências de Saúde da OMS para Prevenção de Infecções e Preparação, alertou que a exportação de animais pode ajudar a espalhar doenças e fomentar novas pandemias. O epidemiologia aponta que além da crueldade intrínseca envolvida nesse tipo de transporte, é um risco à segurança alimentar. “Assim que você empurra o ambiente natural para dentro e eles não têm para onde ir, humanos e animais se misturam, e não respeitosamente. Acho que está chegando a um estágio em que não pode ser seguro e não é bom ver o sofrimento dos animais”, disse o especialista, que acredita ser enfático que essa prática tenha um fim definitivo.

Mclaws lamenta que medidas, como a proibição do consumo de animais selvagens na China e Vietnã, só sejam tomadas quando já é tarde demais ou quando um grande dano já esteja feito. “Os animais são importados da Austrália e da Europa, em longas viagens marítimas, que podem levar semanas. Durante a viagem, os animais são mantidos em grande densidade, chafurdando em suas fezes e de seus companheiros, e sofrem com o calor intenso, colisões e outras lesões graves. Muitos deles estão doentes e muitos não sobrevivem”. Em condições insalubres e impróprias, vírus e patógenos se misturam e modificam sua constituição bioquímica para suportar condições extremas e podem se tornar ainda mais letais e resistentes.

A organização em defesa dos direitos animais Animals Now afirma que é lamentável que interesses econômicos estejam acima da consciência e compaixão. “A indústria do transporte marítimo de animais vivos está interessada em uma coisa: dinheiro. Qualquer outra consideração, bem-estar animal ou saúde pública simplesmente não os interessa. Os empresários dessa indústria estão embalando animais em uma densidade inimaginável por dias e semanas, chafurdando nas próprias fezes, então é claro que as doenças correrão soltas. Para o bem dos animais, para o bem da nossa saúde, nós deve se apressar e promover a legislação para impedir que esse transporte cruel continue”, disse um representante da ONG.

Sistema alimentar global

Um artigo publicado pelo portal britânico The Guardian escrito pelos autores Jan Dutkiewicz, Astra Taylor e Troy Vettese aponta que o modelo alimentar atual é o principal responsável pelo surgimento de epidemias e novas doenças. Segundo o Dr. Anthony Fauci, o principal epidemiologista dos Estados Unidos, a ligação entre a exploração animal para consumo e o surgimento de doenças infectocontagiosas é nítida e usa como exemplo os “mercados úmidos” chineses. “Me surpreende como, quando temos tantas doenças que emanam dessa interface humano-animal incomum, que não o fechamos”, disse em entrevista à Fox.

Os autores destacam que é preciso uma análise interdisciplinar. Eles acreditam que o principal fator causador de doenças zoonóticas (transmitidas de animais para humanos) é a agricultura industrial de animais. A invasão e destruição de habitats de espécies selvagens oportuniza que vírus e micro-organismos que viviam em equilíbrio na natureza migrem para áreas ocupadas por seres humanas. “A agricultura industrial também cria suas próprias doenças, como gripe suína e gripe aviária, em fazendas infernais. E contribui para a resistência aos antibióticos e as mudanças climáticas, os quais exacerbam o problema”, diz o artigo.

A publicação enfatiza ainda que chegou o momento de dialogar honestamente sobre o impacto das ações humanos no meio ambiente e sobre a forma como nos alimentamos, que fomenta uma série de doenças e danos incalculáveis à natureza. “Coletivamente, devemos transformar o sistema global de alimentos e trabalhar para acabar com a agricultura animal e reutilizar grande parte do mundo. Estranhamente, muitas pessoas que nunca desafiariam a realidade das mudanças climáticas se recusam a reconhecer o papel que o consumo de carne desempenha em risco à saúde pública. Comer carne, ao que parece, é uma forma socialmente aceitável de negação da ciência”, diz os autores.

Pesquisadores emitem avisos há anos sobre as consequências do atual sistema alimentar baseado na exploração de animais. Após o surto de Sars, em 2003, um ensaio publicado no American Journal of Public Health que era necessário reduzir ou abolir completamente o consumo de animais e seus derivados, como laticínios. Em 2016, o Programa Ambiental da ONU alertou que a “revolução da pecuária” era um desastre zoonótico esperando para acontecer. Autoridades não levaram em conta os avisos e incentivam cada vez mais o consumo de animais em benefício da economia. A revanche da natureza chegou.

Dutkiewicz, Taylor e Vettese acrescentam que culpar apenas a China é negar a realidade. “Na realidade as zoonoses surgem em todo o mundo e o fazem com crescente regularidade. A gripe espanhola de 1918 provavelmente veio de uma fazenda de porcos no meio-oeste. Nos anos 90, a desestabilização ecológica no sudoeste dos EUA levou ao surto de hantavírus Four Corners. Os vírus Hendra e Menangle têm o nome de cidades australianas. O vírus Reston é uma cepa do Ebola que leva o nome de um subúrbio de DC. O vírus Marburg surgiu na Alemanha. Essas duas últimas doenças surgiram de macacos importados para uso em laboratório – os chineses não são os únicos com um grande e perigoso comércio de animais silvestres. Sars, Mers e Zika são apenas três de muitas novas zoonoses que ocorrerão no novo milênio”, reforça o artigo.


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