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Proteger a natureza é a melhor forma de combater as mudanças climáticas

6 de julho de 2020
7 min. de leitura
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Pixabay

Este mês, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) lançou uma nova animação para explicar o conceito, que se torna cada vez mais popular, de adaptação baseada em ecossistemas (EbA).

Restaurar e proteger a natureza é uma das melhores estratégias para combater as mudanças climáticas, mas não apenas pela razão óbvia de que a vegetação “suga” o carbono do ar. Florestas, pântanos e outros ecossistemas atuam como tampões contra o clima extremo, protegendo casas, culturas, abastecimento de água e outras partes da infraestrutura essencial à vida.

A estratégia de usar a natureza como defesa contra os impactos climáticos é chamada de adaptação baseada em ecossistema (EbA) – em essência, cuide da natureza e ela cuidará de você.

Aqui vão seis maneiras que a natureza pode nos defender dos impactos das mudanças climáticas:

1. Seca

Para garantir o abastecimento de água as sociedades têm utilizado tradicionalmente “infraestrutura cinza”, como dutos, barragens e reservatórios feitos pelo homem. No entanto, a “infraestrutura verde” utiliza sistemas naturais ou semi-naturais para fornecer benefícios semelhantes e com consequências ambientais positivas a longo prazo.

Por exemplo, pântanos naturais como córregos e lagos agem como esponjas, absorvendo água pelo solo e recarregando o suprimento dos lençóis freáticos. Quando saudáveis, esses ecossistemas capturam água durante chuvas intensas e a armazenam para momentos de seca. Da mesma forma, florestas saudáveis recarregam o abastecimento dos lençóis freáticos absorvendo água através de suas raízes, e ao fazê-lo, filtram a água potável para milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo mais de 68.000 comunidades em todo os EUA.

O Estado do Rajastão, na Índia, sofreu uma seca devastadora em 1986. Nos anos seguintes, as comunidades locais começaram a regenerar florestas na região, levando a um aumento de vários metros nos níveis dos lençóis freáticos. Em Gâmbia, um dos maiores projetos de desenvolvimento da história do país está atualmente centrado na restauração de ecossistemas para aumentar o abastecimento de água.

2. Incêndios

Primeiro na Amazônia, depois na Califórnia, depois na Austrália – os incêndios florestais foram catastróficos em 2019. Nossos esforços preventivos para reduzir a propagação de incêndios florestais muitas vezes envolvem a remoção de vegetação para criar um aceiro, ou seja, uma faixa de terra desprovida de flora, para impedir o alastramento do fogo pela falta de “combustível”.

Mas há uma nova estratégia para combater incêndios florestais que envolve mais natureza, não menos. Essa descoberta foi feita após um grave incêndio florestal na Espanha em 2012, onde as árvores cipreste mediterrâneas foram capazes de resistir às chamas. Os ciprestes mantêm altos níveis de água em suas folhas, mesmo diante de um calor sufocante e as folhas caídas formam um ambiente molhado na base do tronco. Planos estão em andamento para plantar as árvores como “aceiros naturais” em toda a região do Mediterrâneo.

3. Ondas de calor

As áreas urbanas são significativamente mais quentes que o meio rural circundante. Esse “efeito ilha de calor urbano” tem muitas causas, incluindo a propensão do concreto e do asfalto a absorverem calor. Além disso, em uma ironia absurda, nossos sistemas de ar condicionado produzem quantidades surpreendentes de emissões de carbono, que aquecem a atmosfera. Nossas casas ficam frias, mas o planeta não.

Arborizar as áreas urbanas é uma solução ganha-ganha para nossas cidades. As árvores esfriam o ar ao redor liberando água através de suas folhas, semelhante à forma como os humanos mantêm sua temperatura interna pela transpiração. Imagine o poder de resfriamento de dez unidades de ar condicionado – isso é o quanto uma única árvore saudável fornece em apenas um dia ensolarado de evaporação. E isso sem falar na sombra gerada pelas árvores, que de acordo com um estudo nos EUA, pode reduzir de 20 a 30% os custos de ar-condicionado em casas mais distantes.

As grandes cidades agora estão se voltando para a natureza como uma solução de resfriamento. Melbourne, na Austrália, está plantando mais de 3.000 árvores por ano para combater ondas de calor, quase dobrando sua arborização em urbanas até 2040.

4. Inundações costeiras

Até 2050, o nível do mar pode aumentar tanto que 300 milhões de pessoas em comunidades costeiras enfrentarão inundações graves, pelo menos uma vez por ano. Existem alguns ecossistemas costeiros que podem atuar como muros marinhos econômicos, combatendo as duas principais ameaças de elevação dos mares: inundações costeiras e desintegração costeira.

Manguezais e recifes de corais, por exemplo, fazem que as ondas quebrem antes de atingirem a costa, diminuindo tanto a força quanto a altura da ondulação e reduzindo, assim, a probabilidade de o mar quebrar nas áreas habitadas. Um estudo realizado em 52 locais descobriu que os habitats naturais eram de 2 a 5 vezes mais econômicos do que as estruturas projetadas com o propósito de reduzir o tamanho das ondas.

Na cidade de Kisakasaka, no leste da Tanzânia, a água do mar estava entrando nas fazendas e matando as plantações. Isso ocorreu até que os aldeões decidiram reagir e reflorestaram centenas de hectares de manguezais. Em dois anos foi possível mitigar o problema do “envenenamento” por sal marinho em suas plantações e os poços voltaram ao normal.

5. Deslizamentos de terra e erosão

Os padrões climáticos imprevisíveis, associados às mudanças climáticas, já estão agravando os deslizamentos de terra em muitas partes do mundo. No posto avançado canadense de deslizamentos de terra da Ilha Banks, os deslizamentos de terra aumentaram 6.000% nas últimas décadas, em grande parte devido ao degelo do permafrost (gelo permanente do subsolo) causado por uma sequência de verões mais quentes que a média.

Todos os deslizamentos de encostas são causados por terra “solta”. Existem duas maneiras de preveni-los: aumentar a “capacidade de fixação” do solo; e reduzir a erosão do solo pelo escoamento da água superficial. A vegetação ajuda em ambos os problemas, tanto absorvendo água quanto ancorando o solo no lugar. Diante disso, o governo de Comores, no continente africano, está plantando 1,4 milhão de árvores para proteger fazendas em áreas montanhosas ou de encostas.

6. Desertificação e tempestades de areia

A desertificação é uma ameaça constante em lugares onde o clima está se tornando cada vez mais seco e onde há perda de biodiversidade e desmatamento para criação de pastagens. Quando derrubamos florestas, o deserto se expande ainda mais porque as árvores são responsáveis por reter a umidade no solo. Desde 1920, o Deserto do Saara expandiu-se em 10%, dizimando poços d’água e terra cultivável.

Esta foi a motivação por trás da Grande Muralha Verde na África. Para deter a expansão do Saara e suas consequentes tempestades de areia, 21 países africanos estão trabalhando juntos para cultivar uma “maravilha natural” de 8.000 km de árvores e arbustos em toda a extensão latitudinal da África. A iniciativa tem potencial para criar 10 milhões de empregos verdes até 2030, de acordo com a Convenção das Nações Unidas para Combater a Desertificação.

No Sudão, a desertificação deu origem à violência em algumas áreas, à medida que os grupos entram em disputas diante da diminuição dos recursos. Em 2017, o governo lançou um projeto para ajudar as comunidades a se adaptarem ao clima cada vez mais seco, plantando “cinturões de proteção”, linhas de árvores ou arbustos que protegem uma determinada área – especialmente de cultivo agrícola – contra os climas extremos. O projeto está construindo uma resiliência climática na esperança de instilar a paz, tornando os cinturões de proteção não apenas uma solução natural para as mudanças climáticas, mas também para conflitos.


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