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Aquecimento no Polo Sul está acontecendo três vezes mais rápido do que no resto do mundo, mostra pesquisa

14 de julho de 2020
6 min. de leitura
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Imagem via satélite do Polo Sul
Pixabay

Há muito tempo, os cientistas climáticos pensavam que o interior da Antártida poderia não ser tão sensível ao aquecimento. Porém, uma pesquisa publicada recentemente mostra uma mudança dramática.

Ao longo dos últimos 30 anos, o Polo Sul tem sido um dos lugares que mudou de forma mais rápida no planeta, ocorrendo um aquecimento três vezes mais rápido do que no restante do mundo.

“Os meus colegas e eu debatemos que estas tendências de aquecimento são improváveis apenas como resultado da variabilidade natural do clima. Os efeitos das alterações climáticas provocadas pelo homem parecem ter trabalhado conjuntamente com a influência significativa que a variabilidade natural nos trópicos tem sobre o clima da Antártida. Juntos, fazem com que o aquecimento do Polo Sul seja uma das tendências de aquecimento mais fortes do planeta”, disse o autor.

O Polo Sul não está imune ao aquecimento

O Polo Sul está localizado na região mais fria da Terra: o platô antártico. As temperaturas médias variam de -60ºC durante o inverno para apenas -20ºC durante o verão.

O clima da Antártica geralmente sofre uma grande variação de temperatura ao longo do ano, com fortes contrastes regionais. A maior parte do oeste da Antártica e da Península Antártica estavam aquecendo durante o final do século 20. Porém, no interior continental do Polo Sul, remoto e de grande altitude _esfriou até a década de 1980.

Os cientistas têm monitorado a temperatura na estação Amundsen-Scott no Polo Sul, o observatório meteorológico mais austral do planeta, desde 1957. É um dos mais longos registros completos de temperatura no continente antártico.

A análise dos dados das estações meteorológicas do Polo Sul mostra que ocorreu aquecimento de 1,8ºC entre 1989 e 2018, mudando mais rapidamente desde o início dos anos 2000. Durante o mesmo período, o aquecimento no oeste da Antártida parou de repente e a Península Antártica começou a esfriar.

Um dos motivos do aquecimento do Polo Sul foram os sistemas mais fortes  de baixa pressão e o clima mais tempestuoso ao leste da Península Antártica no Mar de Weddell. Com fluxo no sentido horário em torno dos sistemas de baixa pressão, tem transportado ar quente e úmido ao platô antártico.

Aquecimento do Polo Sul está ligado aos trópicos

O estudo também mostra que o oceano no oeste do Pacífico tropical começou a aquecer rapidamente no mesmo tempo que o Polo Sul.

Descobriram que quase 20% das variações de temperatura ao ano no Polo Sul estavam ligadas às temperaturas do oceano no Pacífico tropical, e vários dos anos mais quentes no Polo Sul nas últimas duas décadas aconteceram quando o oeste do Oceano Pacífico tropical também estava incomumente aquecido.

Para investigar esse possível mecanismo, foi realizado um experimento de modelo climático e foi descoberto que esse aquecimento oceânico produz um padrão de onda atmosférica que se estende através do Pacífico Sul até a Antártida. Isso resulta em um sistema mais forte de baixa pressão no Mar de Weddell.

Sabe-se de estudos anteriores que as fortes variações regionais nas tendências de temperatura são em parte devido ao formato da Antártida.

O manto de gelo do leste da Antártica, limitado pelos oceanos Atlântico Sul e Índico, se estende mais ao norte do que o manto de gelo do oeste da Antártica, no Pacífico Sul. Isso causa dois padrões climáticos distintos com diferentes impactos climáticos. Ventos mais constantes do oeste em volta do Leste da Antártica mantêm o clima local relativamente estável, enquanto tempestades intensas frequentes no Pacífico Sul transportam ar quente e úmido para partes do oeste da Antártica.

Os cientistas sugeriram que estes dois padrões meteorológicos diferentes, e os mecanismos que conduzem a sua variabilidade, são a razão provável para uma forte variabilidade regional nas tendências de temperatura da Antártida.

O que isso significa para o Polo Sul

A análise revela que variações extremas nas temperaturas do Polo Sul podem ser explicadas em parte pela variabilidade tropical natural.

Para estimar a influência das mudanças climáticas induzidas pelo ser humano, foram analisadas mais de 200 simulações de modelos climáticos com concentrações de gases de efeito estufa observadas no período entre 1989 e 2018. Estes modelos climáticos mostram que aumentos recentes de gases de efeito estufa possivelmente contribuíram com cerca de 1ºC do total de 1,8 ºC do aquecimento no Polo Sul.

Também foram usados modelos para comparar a recente taxa de aquecimento com todas as possíveis tendências de temperatura do Polo Sul de 30 anos que ocorreriam naturalmente sem a influência humana. O aquecimento observado excede 99,9% de todas as tendências possíveis sem influência humana – e isso significa que o aquecimento recente é extremamente improvável em condições naturais, embora não seja impossível.

Parece que os efeitos da variabilidade tropical funcionaram em conjunto com o aumento dos gases de efeito estufa, e o resultado final é uma das tendências de aquecimento mais fortes do planeta.

Estas simulações de modelos climáticos revelam a natureza notável das variações de temperatura do Polo Sul. A temperatura observada no Polo Sul, com medições que datam desde 1957, mostra as variações de temperatura de 30 anos que variam entre mais de 1ºC de resfriamento durante o século 20 para mais de 1,8 ºC de aquecimento nos últimos 30
anos. Isso significa que as oscilações multidecadais de temperatura são três vezes mais fortes do que o aquecimento estimado da mudança climática causada pelo homem, que é de aproximadamente 1ºC.

A variabilidade de temperatura no Polo Sul é tão extrema que atualmente mascara os efeitos causados pelo homem. O interior da Antártida é um dos poucos lugares da Terra onde o aquecimento causado pelo homem não pode ser determinado com precisão, o que significa que é um desafio dizer se, ou por quanto tempo, o aquecimento continuará.

O estudo revela que mudanças climáticas extremas e abruptas fazem parte do clima do interior da Antártida. Estas provavelmente continuarão no futuro, trabalhando para esconder o aquecimento provocado pelo homem ou para intensificá-lo quando os processos de aquecimento natural e o efeito estufa trabalhem em conjunto.

*Kyle Clem é pesquisador da ciência climática da Universidade Victoria de Wellington.


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