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Mundo trata os sintomas, mas ignora a causa das pandemias, diz ONU

21 de julho de 2020
4 min. de leitura
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Pixabay

O mundo está tratando os sintomas clínicos e econômicos da pandemia de coronavírus, mas não sua causa ambiental, segundo os autores de um relatório da ONU. Como resultado, espera-se que um fluxo constante de doenças passe dos animais para os seres humanos nos próximos anos, diz a organização.

O número dessas epidemias zoonóticas está aumentando, da Ebola ao Sars, da Febre do Nilo Ocidental à febre de Vale do Rift, tendo como causa principal a destruição da natureza pelos seres humanos e a crescente demanda por carne, afirma o relatório.

Mesmo antes da Covid-19, cerca de 2 milhões de pessoas morriam de doenças zoonóticas todos os anos, principalmente nos países mais pobres. O surto de Coronavírus era altamente previsível, disseram os especialistas. “Covid-19 pode ser o pior, mas não é o primeiro”, disse a chefe de meio ambiente da ONU, Inger Andersen.

O maior custo cai sob as nações ricas – U$ 9 trilhões por conta da Covid-19 em dois anos, de acordo com o chefe de economia do IMF. Isso aponta a necessidade de investimentos em países em que a doença emerge, diz o autor.

O relatório afirma que é de importância vital uma abordagem de “saúde unificada” que aborde a saúde humana, animal e ambiental, incluindo mais vigilância e pesquisa sobre ameaças de doenças e os sistemas alimentares que as transportam às pessoas. “Houve bastante resposta à Covid-19, mas grande parte a tratou como um desafio médico ou como um choque econômico”, disse a professora Delia Grace, principal autora do relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária (Ilri).

“Suas origens estão no meio ambiente, nos sistemas alimentares e na saúde animal. Isto é muito parecido com ter alguém doente e tratar apenas os sintomas e não tratar a causa subjacente, e existem diversas outras doenças zoonóticas com potencial pandémico.”

“Um intenso aumento da atividade humana está afetando o meio ambiente em todo o planeta, desde os crescentes assentamentos humanos à (produção de alimentos), até o aumento das indústrias de mineração”, afirmou Doreen Robinson, chefe de vida selvagem do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. “Esta atividade humana está quebrando o amortecimento natural que protegia as pessoas de um certo número de patógenos. É extremamente importante chegar até as causas mais profundas, caso contrário, estaremos apenas constantemente reagindo às coisas”.

“A ciência é certa, se continuarmos explorando a vida selvagem e destruindo os nossos ecossistemas, podemos esperar por um fluxo constante dessas doenças saltando dos animais para os humanos nos próximos anos”, disse Andersen.

A vida selvagem e a pecuária são as fontes da maioria dos vírus que infectam os seres humanos e o relatório cita uma série de fatores causadores de surtos, incluindo o aumento da procura por proteínas animais, agricultura mais intensiva e insustentável, maior exploração da vida selvagem, aumento das viagens globais e crise climática. Também afirma que muitos agricultores, regiões e nações estão relutantes em declarar surtos por medo de prejudicar o comércio.

“Os principais riscos para o futuro transbordamento de doenças zoonóticas são o desmatamento dos ambientes tropicais e a criação industrial de animais em larga escala, especificamente porcos e galinhas em alta densidade”, diz o ecologista especializado em doenças Thomas Gillespie, da Universidade de Emory, nos EUA, um especialista revisor do
relatório. “Estamos em um ponto de crise. Se não mudarmos radicalmente nossas atitudes em relação ao mundo natural, as coisas vão ficar muito, muito piores. O que estamos experimentando agora parecerá suave em comparação.”

O relatório destaca alguns exemplos de onde os riscos zoonóticos estão sendo gerenciados. Na Uganda, as mortes causadas pela febre de Vale do Rift foram reduzidas usando dados de satélite para antecipar os eventos de chuvas fortes, que podem produzir enxames de mosquitos e desencadear surtos.

O relatório é o último aviso de que os governos devem enfrentar a destruição do mundo natural para evitar futuras pandemias. Em junho, um dos principais economistas e a ONU disseram que a pandemia de coronavírus foi um sinal “SOS” para a humanidade. Em abril, os principais especialistas em biodiversidade disseram que mais surtos mortais
de doenças eram prováveis a menos que a natureza fosse protegida.

“No centro da nossa resposta às zoonoses e aos outros desafios que a humanidade está enfrentando deve estar a simples ideia de que a saúde da humanidade depende da saúde do planeta e da saúde de outras espécies”, disse Andersen. “Se a humanidade der à natureza uma oportunidade de respirar, será a nossa maior aliada enquanto buscamos construir um mundo mais justo, mais verde e mais seguro para todos.”


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