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Explorados pela ciência, macacos são infectados em estudos sobre Covid-19

7 de julho de 2020
4 min. de leitura
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Pixabay/Imagem Ilustrativa

Pesquisadores chineses e norte-americanos estão explorando macacos em estudos sobre a Covid-19. Na China, cientistas da universidade Peking Union Medical College, em Pequim, seis macacos da espécie Rhesus foram infectados com o novo coronavírus e adoeceram, apresentando sintomas leves da doença.

O estudo, publicado na revista científica Science, revelou que os macacos levaram duas semanas para se recuperarem, tendo sofrido as consequências físicas e psicológicas do adoecimento.

Após 28 dias, quatro dos seis macacos explorados desenvolveram imunidade à doença. Isso foi descoberto após os animais serem novamente infectados com o vírus, tendo desenvolvido apenas um leve aumento da temperatura corporal. Três dias depois da infecção, os animais apresentaram um pico de concentração de vírus, o que indica que a Covid-19 estava mais resistente e espalhada pelo organismo.

No caso da pesquisa feita nos Estados Unidos, nove macacos da espécie Rhesus foram infectados e desenvolveram imunidade ao vírus – o que também foi constatado, assim como no estudo chinês, a partir do momento em que os animais foram novamente expostos ao vírus.

O estudo norte-americano, feito pelo Centro Médico Beth Israse Deaconness, de Harvard, também foi publicado na revista Science.

Nos dois casos, os pesquisadores realizaram os experimentos para tentar descobrir se humanos podem ser imunes à doença após um primeiro contágio. Essa maneira de se fazer ciência, no entanto, não só é cruel por envolver animais sencientes, que sofrem, como também é ineficaz, já que os efeitos do contágio de um vírus no organismo de um macaco são diferentes dos apresentados pelo corpo humano, por serem seres vivos diversos.

Ativista por uma ciência eficaz, o médico norte-americano Ray Greek não tem qualquer compromisso com os animais. Ele tenta, há décadas, convencer cientistas de que uma pesquisa de sucesso não deve envolver animais.

“A falácia nesse caso é de que devemos testar essas drogas primeiro em animais antes de testá-las em humanos. Testar em animais não nos dá informações sobre o que irá acontecer em humanos. Assim, você pode testar uma droga em um macaco, por exemplo, e talvez ele não sofra nenhum efeito colateral. Depois disso, o remédio é dado a seres humanos que podem morrer por causa dessa droga. Em alguns casos, macacos tomam um remédio que resultam em efeitos colaterais horríveis, mas são inofensivos em seres humanos. O meu argumento é que não interessa o que determinado remédio faz em camundongos, cães ou macacos, ele pode causar reações completamente diferentes em humanos. Então, os teste em animais não possuem valor preditivo. E se eles não têm valor preditivo, cientificamente falando, não faz sentido realizá-los”, disse o médico em entrevista à Veja.

“Deveríamos estar fazendo pesquisa baseada em humanos. E com isso eu quero dizer pesquisas baseadas em tecidos e genes humanos. É daí que os grandes avanços da medicina estão vindo. Por exemplo, o Projeto Genoma, que foi concluído há 10 anos, possibilitou que muitos pesquisadores descobrissem o que genes específicos no corpo humano fazem. E agora, existem cerca de 10 drogas que não são receitadas antes que se saiba o perfil genético do paciente. É assim que a medicina deveria ser praticada. Nesse momento, tratamos todos os seres humanos como se fossem idênticos, mas eles não são. Uma droga que poderia me matar pode te ajudar. Desse modo, as diferenças não são grandes apenas entre espécies, mas também entre os humanos. Então, a única maneira de termos um suprimento seguro e eficiente de remédios é testar as drogas e desenvolvê-las baseados na composição genética de indivíduos humanos. Para se ter uma ideia, a modelagem animal corresponde a apenas 1% de todos os testes e métodos que existem. Ou seja, ela é um pedaço insignificante do todo. O estudo dos genes humanos é uma alternativa. Quando fazemos isso, estamos olhando para grandes populações de pessoas. Por exemplo, você analisa 10.000 pessoas e 100 delas sofreram de ataque cardíaco. A partir daí analisamos as diferenças entre os genes dos dois grupos e é assim que você descobre quais genes estão ligados às doenças do coração. E isso está sendo feito, porém, não o bastante. Há também a pesquisa in vitro com tecido humano. Virtualmente tudo que sabemos sobre HIV aprendemos estudando tecido de pessoas que tiveram a doença e por meio de autópsias de pacientes. A modelagem computacional de doenças e drogas é outra saída. Se quisermos saber quais efeitos uma droga terá, podemos desenvolvê-la no computador e simular a interação com a célula”, completou.


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