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Gigantes da carne são associados a fazendas brasileiras responsáveis por desmatamento da Amazônia

17 de junho de 2020
5 min. de leitura
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Imagem de criação de gado no pasto
Pixabay

Três companhias frigoríficas internacionais adquiriram indiretamente bois e vacas para consumo de fazendas que desmataram uma reserva amazônica protegida e única. É que revela um novo relatório do Greenpeace, que aponta ainda que duas delas mais tarde venderiam carne dessa área para o Reino Unido.

As revelações vêm quando as companhias brasileiras envolvidas, JBS, Mafrig e Minerva, estão sob crescente pressão para se esclarecerem sobre suas cadeias de fornecimento na Amazônia. Sabe-se agora que eles quebraram compromissos assumidos com o Greenpeace e o Ministério Público Federal há mais de uma década atrás.

Todas as três companhias compraram animais de uma fazenda de fora do Parque Estadual Serra Ricardo Franco, que tinha adquirido animais de duas fazendas de dentro da reserva. Um homem que é proprietário ou proprietário parcial das três fazendas foi acusado de crimes ambientais dentro da reserva de 159 mil hectares localizada na fronteira do Brasil com a Bolívia, no estado de Mato Grosso. Em 2017, a JBS contou ao jornal britânico The Observer que tinha suspendido as compras de animais do parque após um pedido dos promotores.

“É assim que os empacotadores de carne continuam contribuindo com a destruição da Amazônia”, disse Cristiane Mazzetti, ativista do Greenpeace e coautora do relatório.

O Parque Estadual Serra Ricardo Franco foi criado pelo estado de Mato Grosso em 1997. “Esta é uma região muita rica em termos de biodiversidade que deve ser protegida”, afirmou Mazzetti.

Porém, o estado nunca implementou o parque corretamente e não tem nenhum plano de gestão. “Não houve proteção efetiva e isso permitiu invasão e desmatamento”, disse Samuel Costa, promotor do estado do Mato Grosso. Em 2015, os promotores iniciaram ações legais para forçar o estado a proteger o parque.

O relatório do Greenpeace cita três fazendas no Parque Estadual Serra Ricardo Franco, Paredão I, Paredão II e Cachoeira, as quais os promotores afirmam que foram limpas após a criação do parque. Milhares de hectares foram desmatados.

As fazendas Cachoeira e Paredão são copropriedades de Marcos Tozzatti e de uma empresa que ele controla. A fazenda Cachoeira e uma das fazendas Paredão também são propriedades de uma empresa onde Eliseu Padilha, ex-ministro do governo, é sócio. Tozzatti foi acusado de crimes ambientais, incluindo a remoção de centenas de hectares de floresta no Paredão. Após ser ordenado a cessar a atividade agrícola, ele mais do que dobrou o tamanho de seu rebanho.

Ele e outros agricultores de dentro do parque contestaram o status de proteção e ganharam uma decisão judicial que lhes permite continuar com as operações até que uma decisão final seja tomada, mas os promotores estão recorrendo da decisão. “Na visão da Promotoria, qualquer desmatamento dentro dessa área é ilegal”, afirma Costa.

O advogado que representa Tozzatti e Padilha não respondeu às perguntas enviadas por e-mail.

O Greenpeace descobriu que as fazendas do Paredão enviaram 4.000 bovinos para a fazenda Barra Mansa, localizada fora do parque, que também está registrada por Tozzatti, entre abril de 2018 e junho de 2019. Em 2018 e 2019, as unidades JBS, Minerva e Marfrig próximas ao parque compraram milhares de animais da fazenda Barra Mansa.

As unidades da JBS e da Minerva exportaram cerca de 50.000 toneladas de produtos de carne, alguns dos quais foram destinados para países europeus, incluindo o Reino Unido, conforme divulgado pelo relatório. Marfrig exportou cerca de 5.000 toneladas para países com Hong Kong e Egito.

Os gigantes brasileiros da carne dizem que lutam para monitorar os chamados “fornecedores indiretos” – fazendas que vendem animais para outras fazendas que então são vendidos para seus matadouros – apesar de prometer fazê-lo em acordos firmados em 2009 com o Ministério Público Federal e o Greenpeace. A Greenpeace abandonou o acordo em 2017.

As companhias disseram que investiram pesado em sistemas de monitorização sujeitos a auditorias independentes e estão trabalhando para controlar os fornecedores indiretos.

“A JBS adota uma abordagem de tolerância zero ao desmatamento em sua cadeia de fornecedores”, declarou a JBS. A companhia afirmou que a fazenda Barra Mansa estava em conformidade com a JBS durante o período citado no relatório.

A partir de 1º de julho, a JBS vai trazer um novo “índice teórico” que usa a produtividade de uma fazenda para calcular se há suspeita de lavagem de gado, e agora verifica as fazendas fornecedoras em relação as áreas embargadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), usando geomonitorização. “Essas inovações devem ter um impacto significativo na redução de casos de lavagem de gado em toda a indústria de carne”.

Marfrig afirmou que a fazenda Barra Mansa era um fornecedor registrado e que de julho de 2018 a julho de 2019 sua unidade havia abatido 180 bovinos que Tozzatti forneceu. “A Marfrig está ciente de que existe um desafio a ser enfrentado na obtenção de informações sobre os fornecedores indiretos”, afirmou em um comunicado, destacando seu sistema RFI (sigla em inglês para solicitação de informações) sob o qual os agricultores registram informações sobre seus fornecedores.

No ano passado, Marfrig informou que 53% dos animais criados na Amazônia veio de fornecedores indiretos. A JBS se recusou a revelar sua participação. Minerva disse que suas compras de gado da Amazônia foram “100% feitas em fazendas monitoradas”, mas que não foi possível rastrear totalmente os movimentos da pecuária da Amazônia sem o acesso total aos dados governamentais, os quais não possuem.

Um porta-voz da Minerva disse que a empresa não sabia quanto dos animais da Amazônia vinha de fornecedores indiretos. A empresa disse que a fazenda Paredão está bloqueada desde 2018, mas que a fazenda Barra Mansa é um fornecedor registrado. “Vamos investigar os fatos com os dados legalmente disponíveis”, afirmou.


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