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Especialistas denunciam ausência de dados sobre poluição do ar em relatório sobre Covid-19

21 de junho de 2020
6 min. de leitura
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Imagem de uma fábrica emitindo gases poluentes por meio de suas chaminés
Pixabay

A falha em considerar a poluição do ar como um fator nas taxas mais altas de mortes por coronavírus entre as minorias étnicas é “espantosa” e “completamente irresponsável” de acordo com críticos de uma revisão da PHE (Saúde Pública da Inglaterra).

Em relatório divulgado recentemente, confirmou-se o impacto desproporcional da Covid-19 sobre as minorias étnicas, porém não mencionou a poluição do ar. Sabe-se que as minorias do Reino Unido, Estados Unidos e de outros países estão expostas a níveis mais elevados de poluição do ar e existem provas crescentes em todo o mundo associando a exposição ao ar poluído com o aumento de contaminações e mortes pelo coronavírus.

Os cientistas afirmaram que a poluição do ar deve ser considerada “absolutamente” e que poderia ter um efeito duplo, com a exposição a longo prazo enfraquecendo os pulmões e os corações, e a exposição a curto prazo potencialmente aumentando a probabilidade de infecção viral.

Antes da pandemia, estimou-se que a poluição do ar seria responsável por 40.000 mortes precoces ao ano no Reino Unido, aproximadamente a mesma quantidade que a apontada no número oficial de mortes por Coronavírus do Reino Unido até o momento. “Acho surpreendente que eles não tenham olhado para a poluição do ar”, disse Rosamund Kissi-Debrah, defensora da saúde e qualidade do ar da Organização Mundial da Saúde.

Sua filha Ella morreu em 2013, decorrente de um ataque de asma grave, que os especialistas agora relacionaram aos picos de poluição do ar. “A poluição do ar está ligada a condições como diabetes, derrames, ataques cardíacos, ataques de asma, e pessoas com condições de saúde vulneráveis estão morrendo mais pela Covid-19”, disse. “Então eu presumi que a comunidade negra e minoritária se sairia pior, porque as desigualdades na saúde são piores na comunidade BAME (sigla inglesa para negros, asiáticos e minorias étnicas), e ainda mais se somadas a um vírus respiratório letal.”

“Algumas pessoas dirão que a poluição do ar, em si, é racismo por que, mais uma vez, afeta desproporcionalmente os negros – e a Covid-19 acaba de torná-lo mais óbvio.”

Geraint Davies, presidente do Grupo Parlamentar Multipartidário sobre a Poluição do ar, disse: “É totalmente irresponsável que a PHE não inclua a poluição do ar e a ocupação. A revisão, portanto, projeta incorretamente a ideia de que as comunidades (minorias étnicas) possam ser mais suscetíveis ao coronavírus, quando em vez disso deveria dizer que elas estão em risco por viverem em áreas mais poluídas e por estarem excessivamente representadas entre os trabalhadores da linha de frente.”

Jonathan Grigg, professor da Queen Mary Universidade de Londres, membro da comissão dos efeitos médicos causados pela poluição do ar, que aconselha o governo, disse: “A poluição do ar deve absolutamente fazer parte da consideração. É completamente plausível e devemos ao menos questionar.”

“Você pode receber uma dose dupla de exposição ao ar poluído a longo e curto prazo”, afirmou. “[Grupos expostos] estarão vulneráveis à Covid devido à poluição do ar, isso influenciará até certo ponto, porém é difícil afirmar até que ponto.”

Francesca Dominici, professora da Universidade de Harvard nos EUA, também disse que a poluição era um fator importante. “Temos uma grande quantidade de evidências de que os riscos à saúde associados à exposição à poluição do ar são mais altos entre as minorias étnicas.” Sua pesquisa mostrou que mesmo um pequeno aumento anteriormente na exposição à poluição está ligado a um aumento de 8% nas mortes de Covid-19.

O relatório da PHE foi fortemente criticado pela falta de recomendações sobre formas de reduzir o impacto desproporcional entre as pessoas pertencentes as minorias étnicas e pela remoção de uma seção que relatava respostas de terceiros, muitos dos quais destacaram o racismo estrutural. Recentemente, o ministro da igualdade, Kemi Badenoch, rejeitou alegações de que a “injustiça sistêmica” era a razão das discrepâncias. Os cientistas dizem que é improvável que qualquer fator genético desempenhe um papel fundamental.

Badenoch disse que era evidente que “muito mais precisa ser feito para entender os principais fatores das discrepâncias”, e disse que a PHE não fez as recomendações porque os dados necessários não estavam disponíveis.

Recentemente, a Comissão da Igualdade e dos Direitos Humanos afirmou que iria realizar uma análise aprofundada e desenvolver recomendações urgentes para lidar com a perda de vidas das pessoas de minorias étnicas.
Um porta-voz da PHE disse: “A revisão analisou fatores, incluindo idade, sexo, geografia, etnia, ocupação e pobreza. Os mesmos foram estabelecidos nos termos de referência para o trabalho. Para entender melhor as discrepâncias, o trabalho da PHE será complementado por estudos a serem realizados em resposta a uma chamada de pesquisa.”

Winston Morgan, toxicologista e bioquímico clínico da Universidade do Leste de Londres, disse: “O fato de que podemos mapear as taxas de mortalidade por Covid-19 para quase todos os outros resultados sociais negativos é toda a evidência de que precisamos para saber que o principal problema é o racismo estrutural.”

“Uma simples causa genética ligada à raça não tem significado científico. Os dados mostram que os grupos afetados transcendem as definições clássicas de raça e etnia. Isso não quer dizer que, futuramente, quando examinarmos todos os dados, não encontraremos uma pequena subpopulação com uma mutação que os torne mais suscetíveis. Porém, muitos acham mais fácil usar a raça do que o racismo como explicação, em parte porque você pode relacioná-la a algo inerente às vítimas.”
Dominici disse: “Eu realmente duvido que os fatores genéticos desempenhem um papel maior do que os fatores ambientais, sociais e o racismo.”

Issy Bray, especialista em estatísticas de saúde na Universidade do Oeste da Inglaterra, disse: “Não podemos descartar isso, pois outras doenças afetam certos grupos étnicos por razões genéticas, por exemplo, anemia falciforme. No entanto, já é claro que a relação entre etnia e risco de coronavírus é pelo menos parcialmente explicada por uma série de fatores sociais, e são essas desigualdades que devemos combater.”

Os cientistas disseram que a influência da poluição do ar poderia ser apontada se for cuidadosamente analisada junto de outros fatores importantes, como densidade populacional, pobreza, ocupação e obesidade, idealmente usando os dados sobre os indivíduos. Bray disse que os aplicativos de smartphone que monitoram os sintomas podem ser úteis ao fornecer grandes quantidades de dados pessoais e de localização.


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