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Destruição da Amazônia pode levar a surgimento de nova pandemia, diz cientista

15 de maio de 2020
3 min. de leitura
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Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

O desequilíbrio ecológico gerado pelo desmatamento pode levar ao surgimento de uma nova grande pandemia no Brasil, segundo o cientista David Lapola.

“A Amazônia é um potão de vírus”, alertou o pesquisador, de 38 anos, em entrevista à AFP. Segundo ele, destruir a floresta amazônica é colocar a espécie humana à própria sorte.

Apesar de ainda ter áreas preservadas, “cada vez há mais degradação, mais desmatamento”, lembra Lapola. “Quando você gera esse desequilíbrio ecológico, você altera essas cadeias e nessa hora pode acontecer esse pulo do vírus [dos animais para os humanos]”, explicou.

O especialista, formado em Ecologia, lembrou que a humanidade já foi afetada pelo HIV, o ebola e a dengue. “Foram todos vírus que acabaram ou surgindo ou se disseminando de uma maneira muito grande a partir de desequilíbrios ecológicos”, disse.

Lapola explicou que, embora estudos mostrem que a transmissão aconteça mais frequentemente no sul da Ásia e da África, onde vivem majoritariamente certas famílias de morcegos, a biodiversidade da Amazônia poderia caracterizar a região como “o maior repositório de coronavírus do mundo”.

“A culpa não é dos morcegos, não é para sair matando morcego por ali”, afirmou o pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Unicamp. “É mais uma entre ‘n’ outras razões pra gente não fazer esse uso irracional que agora está aumentando ainda mais da Amazônia, a nossa maior floresta”, completou.

Em meio a pandemia, a vigilância da floresta fica ainda mais dificultada, para tornar a situação ainda pior. “Primeiro a gente tem que atacar essa crise sanitária e todo o esforço tem que ir para isso (…) Mas é preocupante porque a gente está tendo um aumento muito expressivo agora, não sendo ainda a estação de desmatamento”, lamentou.

1.202 km2 de floresta foram desmatados nos primeiros quatro meses de 2020, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Trata-se de um aumento de 55% em comparação com o mesmo período de 2019, quando Bolsonaro foi duramente criticado por conta de sua inércia diante das queimadas que assolaram a floresta.

O presidente deseja que a Amazônia seja explorada pela agropecuária e para extração de minério. Nesta semana, Bolsonaro enviou militares para combater o desmatamento, isso porque as Forças Armadas passaram a comandar os órgãos ambientais, que perderam sua autonomia graças a um decreto presidencial.

“A questão mais grave é a gente usar o Exército pra tudo e qualquer questão no Brasil. Isso mostra um pouco uma certa crise das nossas instituições e um Ibama desaparelhado”, disse o especialista à AFP.

“Está provado que a questão do desmatamento é suscetível a quem nos governa. A boa notícia é que os governos são passageiros. Eu espero que numa próxima gestão se dê mais atenção a essa questão e a gente trate com mais zelo esse enorme, talvez o maior, tesouro biológico do planeta”, completou.

Segundo o pesquisador, é preciso “refundar a relação da sociedade com as florestas” porque, embora o surgimento de novos vírus seja “um processo muito complexo pra gente poder prever, é melhor usar o princípio da precaução e não testar muito a nossa sorte”.


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