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Agropecuária pode favorecer surgimento de outras pandemias

15 de abril de 2020
3 min. de leitura
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Pixabay

Para muitas pessoas talvez soe estranho ou impossível de acreditar quando alguém diz que a agropecuária pode favorecer o surgimento de pandemias como a do novo coronavírus. No entanto, isso é mais simples de entender do que parece.

Na atualidade, com a agropecuária já ocupando 77% das áreas agricultáveis do mundo, há uma demanda por novos espaços naturais a serem desmatados para serem convertidos em pastagens e áreas agrícolas para produção de ração para animais que serão abatidos para consumo.

Ciclo de vida alterado

Com isso, os habitantes desses espaços, que são os animais silvestres, têm o seu ciclo de vida alterado e se veem obrigados a terem mais contato com outras espécies com as quais não teriam nenhum tipo de proximidade em uma situação natural livre da intervenção humana.

Isso é o suficiente para que patógenos que, em condições naturais, não seriam transferidos a outras espécies, já que é comum animais acumulá-los sem que isso se transforme em doenças ou mesmo um problema, acabem por transferi-los para outros animais em condições de infectar seres humanos.

As zoonoses associadas aos morcegos, por exemplo, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), surgiram devido à perda de habitat em consequência do desmatamento e da expansão agropecuária – o que é muito problemático considerando a importância dos morcegos nos ecossistemas – já que eles atuam como polinizadores noturnos.

Consequências piores do que imaginamos

A perda de cobertura florestal pode trazer consequências piores do que imaginamos dependendo da proporção ou mesmo localização, e o histórico acumulativo de zoonoses que afetam seres humanos é um exemplo disso – como o surto de ebola na África Ocidental que surgiu como consequência da derrubada de florestas. Com isso a disseminação da doença se deu também pela perigosa proximidade entre animais silvestres e pessoas.

O Pnuma observa que essa interação pode nos expor cada vez mais à disseminação de possíveis patógenos, que podem evoluir – migrando de hospedeiros e intensificando ações e consequências. “Para muitas zoonoses, os rebanhos servem de ponte epidemiológica entre a vida selvagem e as doenças humanas”, alerta.

Ou seja, quando transformamos o meio ambiente por meio de atividades como a agropecuária, essas mudanças alteram o funcionamento dos ecossistemas e criam um cenário de possibilidades indesejáveis envolvendo a disseminação de novas doenças zoonóticas.

Mais doenças zoonóticas do que nunca

“A integridade do ecossistema evidencia a saúde e o desenvolvimento humano. As mudanças ambientais induzidas pelo homem modificam a estrutura populacional da vida selvagem e reduzem a biodiversidade, resultando em condições ambientais que favorecem determinados hospedeiros, vetores e/ou patógenos. A integridade do ecossistema também ajuda a controlar as doenças, apoiando a diversidade biológica e dificultando a disseminação, a ampliação e a dominação dos patógenos”, reforça o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Isso significa que enquanto forem desenvolvidas atividades que impactem de forma negativa no meio ambiente será impossível evitar o surgimento de novas epidemias zoonóticas ou mesmo prever de onde ou quando surgirão.

“Nunca tivemos tantas oportunidades para as doenças passarem de animais selvagens e domésticos para pessoas”, avalia a diretora-executiva do Pnuma, Inger Andersen em publicação do site da ONU Meio Ambiente.

Outro ponto que merece reflexão é que há anos o mundo também está lidando com doenças que estão se espalhando por meio da criação intensiva de animais para consumo – que é outra face dos impactos acumulativos da pecuária – como tem ocorrido com frequência envolvendo galináceos e suínos – mantidos em um ambiente propiciador desses perigos.


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