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Menina vegana de apenas 11 anos dá lição de amor e compaixão pelos animais

5 de janeiro de 2020
9 min. de leitura
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Arquivo pessoal

O reconhecimento dos direitos animais sempre esteve presente na vida de Luiza Pinheiro (11). Seu desejo de transformar o mundo em um lugar mais amigável e pacifico para todas as espécies despertou cedo, quando tinha apenas sete anos. Luiza cresceu em um lar vegetariano, onde o respeito à vida e aos direitos animais nunca foram um tabu. Os pais de Luiza, a professora Marta Passos (45), vegetariana, e o designer gráfico Luiz Augusto (49), vegano graças à influência da menina, sempre buscaram conscientizar a filha sobre os impactos causados pelo consumo desenfreado do ser humano. “Nós não éramos veganos, mas o vegetarianismo nos despertou para uma preocupação com os animais e com o meio ambiente. Então esse cuidado, essa consciência sempre esteve presente em nossa casa. Não usamos produtos de origem animal, por exemplo. Luiza nunca teve um sapato de couro”, conta Marta em entrevista à ANDA.

A preocupação com a saúde de Luiza sempre foi a prioridade de seus pais e graças a essa atenção cuidadosa que o veganismo encontrou uma porta para entrar na vida da menina. “Luiza, que já era vegetariana, teve que parar de ingerir leite e ovos para verificarmos uma possível alergia a esses alimentos. Ela estava com sangue nas fezes, sintoma comum nos bebês que têm alergia a leite. Como ela passou por isso quando bebê, achamos melhor fazer o teste, seguindo orientações da nutricionista. Vou confessar que quando dois gastroenterologistas me garantiram que ela não tinha alergia, que foi uma coincidência, tentei convencê-la a voltar a consumir leite e ovos. Ficava preocupada com seu crescimento, com a ingestão de proteínas. Mas não teve jeito: Luiza não aceitou mais leite e ovos. Estava com sete anos e decidida a ser vegana. Nossa nutricionista nos ajudou muito a aceitar essa escolha e nos deu segurança ao passar uma dieta adequada e suplementação de B12”, lembra Marta.

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Além do cuidado com a alimentação, o carinho e a preocupação com o bem-estar animal são valores que Luiza herdou dos pais. “Antes de sermos pais de humanos, fomos de duas cachorrinhas. Uma delas faleceu há três anos e a outra, Clara – brincamos que foi babá da Luiza –, está com 16 anos. Luiza e seu irmão, Miguel, são apaixonados por ela e todos nós a consideramos um membro de nossa família. Quando gostamos e respeitamos os animais, eles sentem esse amor. Nas vezes em que vamos a hotéis fazenda, é difícil ver aquele momento em que as pessoas sobem nos cavalos e nos bodes, passeiam de charrete, ordenham as vacas. Vemos que os animais estão sofrendo, estão tristes, muitas vezes não aguentando o peso dos humanos. Não gostamos de ver essas cenas e está cada vez mais difícil frequentar esses lugares. Procuramos dar carinho e tranquilizar os animais”, afirma Luiz Augusto.

A história inspiradora de Luiza também enfrentou turbulências, com a saúde em dia e uma família com empatia e compressão de sobra, coube à escola oferecer os primeiros obstáculos ao estilo de vida compassivo da menina. De um a oito anos de idade, Luiza estudou em uma escola onde existia a possibilidade de almoçar e ficar no contraturno, horário pós-aula. No mesmo ano em que adotou completamente o veganismo, Luiza precisou ficar neste horário estendido duas vezes por semana e o bullyng e a intolerância mostraram seu lado mais cruel, como lembra a mãe da menina: “Como havia almoço na escola, expliquei que Luiza tinha que levar sua comida, para garantir a ingestão de todos os nutrientes. Aceitaram, mas, logo na primeira semana, resolveram afastar Luiza dos demais colegas na hora do almoço. Luiza disse que todos ficaram curiosos com sua comida. Resultado: ela almoçava sozinha, antes de sua turma, para que não houvesse problema. No primeiro dia, Luiza não comeu direito e ficou muito triste. A coordenadora do contraturno me disse que eram ordens da direção. Depois de uns meses deixaram Luiza almoçar com sua turma, mas o estrago já estava feito”, diz Marta.

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A professora lembra ainda que esse período deixou marcas profundas em Luiza. “Hoje Luiza não quer passar perto dessa escola. No mesmo ano, a turma foi ao zoológico para fazer um trabalho. Luiza não quis ir porque tem essa consciência do que significa prender animais para divertimento e curiosidade do ser humano. Conversei com a coordenadora, sugeri a visita a santuários de resgate de animais. Não teve jeito. Foram ao zoológico e Luiza teve que bancar sua escolha. Como se tratava de um trabalho escolar, foi difícil pra ela aguentar as perguntas e piadas dos colegas. Na época um deles disse que não ia convidá-la para sua festa de aniversário porque ela era vegana e que não havia comida vegana na festa. Sabemos que essa criança não disse por mal, estava reproduzindo a falta de conhecimento da sociedade e da escola onde estudavam. Mas não é fácil ter sete anos e ouvir isso, passar por essas situações”, acrescenta.

Para Luiza, seu estilo de vida está acima dos desafios. Ela está dando os passos para construir o mundo em que deseja viver no futuro. “Sonho com um mundo vegano, sem violência. Quero ajudar ONGs com trabalho voluntário e também quero cuidar dos idosos”, disse a menina em entrevista à ANDA. Sábia, Luiza rapidamente demonstra que adotar a filosofia vegana pode ser um ideal desmistificado e acessível a todos. Para a menina “o veganismo é o ato de não comer nem explorar os animais e de cuidar de todos os seres vivos e do meio ambiente”, explica.

Aos oito anos, Luiza e seus pais decidiram que ela precisava ir a um lugar onde tivesse uma oportunidade maior de florescer sem abrir mão de suas convicções. Moradora de Belo Horizonte (MG), Luiza participou do processo de ingresso do colégio particular Santo Agostinho, em Contagem, na Região Metropolitana da capital mineira. Além de ser uma instituição de ensino tradicional e bem avaliada, outra coisa atraía Luiza. O Santo Agostinho é dirigido pela educadora vegana Aleluia Heringer, incentivadora de uma proposta de ensino que une pessoas, planeta e animais. Aleluia também é colunista e consultora educacional da ANDA.

Ela conta que foi muito feliz e satisfatório ter Luiza entre o corpo estudantil. “Para mim, que já sou vegana há muitos anos, foi uma grande alegria encontrar uma pessoa que tem a mesma motivação que eu, mas me causou uma surpresa num sentido muito positivo, por saber que é uma outra geração que tem sensibilidade e por ser uma criança. Isso [a entrada de Luiza] foi tranquilo para a escola, pelo fato da escola saber que eu sou vegana. Então, já havia um entendimento do que é, o que pensa, o que faz, o que não faz, o que come, o que não come, não teve nenhum tumulto em relação a isso, foi bem tranquilo”, disse a diretora do Santo Agostinho.

A chegada de Luiza ao colégio não só ofereceu a oportunidade de compartilhar conhecimentos, mas também de inspirar histórias de sucesso. “O legado da Luiza é que nas turmas que ela estudou, com certeza os colegas tiveram esse privilégio de ver de perto uma menina que tão nova tem posições tão firmes. Essa é a ideia da inclusão, quando você convive com pessoas com necessidades físicas, pedagógicas e as mais diferentes possíveis, a gente aprende muito com isso, como pessoa. Então, primeiro com os colegas, com os professores dela, que, também, de uma certa forma tiveram que entender melhor o que é isso [o veganismo], porque ela sempre manifestava opinião e eu acho que foi a presença dela no programa Amplos, que é o programa integral, de fazer com que a cantina, que é terceirizada, que faz os salgados, os doces, mexesse também no seu cardápio, fizesse pesquisas e pudesse oferecer também proteínas de origem vegetal. E, para além disso, a criação da empresa Fora da Forminha, que é a produção de doces, chocolates, coisas muito gostosas e que as crianças gostam muito. Ninguém, para ser vegano, vai precisar deixar de comer coisas gostosas”, reforça Aleluia.

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A educadora diz ainda que as instituições de ensino e a família representam um papel importante do empoderamento dos alunos que desejam optar por um estilo de vida compassivo e livre de crueldade. Ela considera que o melhor que eles podem fazer é “não impedir, não criar dificuldades para essa criança, porque uma criança depende muito dos pais, depende dos adultos para tudo, para comprar, para cozinhar, para fazer, para escolher. Se essa criança tem a ajuda de um adulto, no caso de um professor, que olha para isso de uma forma positiva, elogiosa, isso fortalece essa criança. Agora, se nesse meio ela percebe que isso é uma coisa negativa, que é uma coisa pouco valorizada, ela vai desistir no meio do caminho. O papel da escola é acolher, valorizar e facilitar”, afirma.

Aleluia pontua que felizmente a conscientização entre os jovens é cada vez maior. “Eu percebo um crescimento maior entre adolescentes. Aqueles que já começam a ter acesso às redes sociais, porque as crianças, elas ainda são protegidas pela família e como o fator cultural e da tradição é muito forte, elas são desencorajadas logo na primeira manifestação. Quando elas começam a perguntar de onde vem isso, de onde vem aquilo, logo a família já desencoraja. Agora, quando ela se torna adolescente e começa a perguntar as coisas, há um convencimento maior. Eu percebo, na
escola na qual sou diretora, que têm muitos estudantes vegetarianos ou em transição e um número não tão expressivo já de veganos”, conclui.

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Luiza agora irá para uma nova escola. Fortalecida, ela reforça que a compaixão pode superar qualquer desafio. A menina conta que isso faz parte da sua rotina em casa e fora dela. “Eu cuido da minha cachorrinha e sempre que vejo um animal sofrendo tento ajudar. Os animais humanos também”, diz. Apesar de confessar ainda ter dificuldades para encontrar alimentos totalmente livres de crueldade fora de casa, durante passeios, ela deixa uma mensagem para todos – crianças, jovens e até mesmo adultos – que desejam optar por um estilo de vida vegano: “Nunca desista, seja persistente que um dia tudo mudará!”, profetiza.

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