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Cabeto Rocker, o cara

20 de dezembro de 2019
3 min. de leitura
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Reprodução | Facebook

O que é a vida? Respostas são tantas para essa questão tormentosa, a qual também suscita uma ampla percepção sobre o ser e o existir. Já disseram que a vida é uma aventura existencial, um milagre divino, um fenômeno biológico, uma dádiva inexplicável, uma viagem, uma contingência, um espanto e sei lá o que mais. Ou, então, que a vida é sofrimento. Se Antonio Abujamra me tivesse perguntado isso, eu talvez respondesse que a vida é uma alegria breve. Mas quando se pensa em uma postura positiva perante a vida, não há como deixar de pensar em Cabeto Rocker Pascolato.
Teria sido no ENDA 2014 que Cabeto, músico e produtor cultural de Campinas, se tornara vegano, empolgado com aquilo tudo que viu e ouviu naquele já tradicional encontro sobre direitos animais promovido por George Guimarães. Não demorou para que ele, de volta pra casa, passasse a se dedicar ao ramo da culinária vegana. Ao lado de sua esposa Maria Castelano, abriu no distrito de Barão Geraldo um recinto simpatissíssimo com direito a café aromatizado, salgados deliciosos, doces tentadores e outras coisitas mais.
No cardápio do COMO?-Espaço Educador Vegano havia sanduíches cujos nomes homenageavam personalidades da causa animal, como Silvana Andrade, Sônia Felipe e, se bem me lembro, Paula Brugger ou Nina Rosa. Certa vez, num gesto de autofagia ou coisa parecida, comi o lanche com meu nome. Era pão sírio com beringela…. Também presenciei defronte àquele lugar mágico apresentações teatrais infantis onde Cabeto, elétrico no palco, interagia com a criançada ao som duma guitarra elétrica. Alegria e eletricidade pra todo lado, seu riso largo e simpatia estampada no rosto cativavam a quem quer que fosse.
O fato é que o COMO cresceu e mudou-se para o lugar atual, quase ao lado da Praça do Côco. Foi ali que, nos ultimos anos, Cabeto promoveu debates animalistas e palestras memoráveis, além de demonstrações culinárias, feirinhas veganas, exposição de discos e papos pra lá de descontraídos. No início de agosto ele dedicou a mim (que honra!) uma noite da pizza, que foi realizada na véspera do Dia dos Pais. Tudo estava maravilhoso: massa, ingredientes, tempero, sabores mil. E o melhor, como sempre, era a imensa generosidade do amigo.
Quando o movimento do público se acalmou, Cabeto sentou-se à nossa mesa para conversar. Falamos de veganismo e direitos dos animais. Falamos de projetos futuros. Falamos do passado. Falamos de Beatles, Secos & Molhados, Clube da Esquina, Maria Bethânia. Falamos de Janis Joplin e Led Zeppelin. Falamos de jazz, de Etta James, de Amy Winehouse. Falamos de tantos artistas inesquecíveis, de conjuntos memoráveis. Falamos da vida e daquilo que a justifica. Falamos de um lugar onde se possa plantar amigos, livros e discos. E nada mais…
Despedi-me dele com um agradecido aperto de mão, prometendo qualquer dia tocarmos juntos em casa. Mas tudo foi tão depressa e não houve outro jeito… No sábado seguinte, data programada para uma roda literária, o COMO permaneceu completamente às escuras. Noite fria e sem esperanças. E às duas da tarde de 19 de agosto de 2019, tristíssima 2a feira, o dia virou noite. Foi justamente o momento em que Cabeto saiu da vista das pessoas para se tornar memória de nossos afetos.


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