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Pelo fim da exportação de animais vivos

28 de novembro de 2019
4 min. de leitura
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A realidade da exportação de animais vivos em qualquer parte do mundo é a mesma – seja na Romênia, no Brasil, na Austrália, etc (Foto: Animals International)

Uma das notícias em evidência esta semana no cenário internacional que discute o bem-estar animal é o caso do navio que virou com 14,6 mil ovelhas a bordo na Romênia. Até agora tudo indica que a causa dessa previsível tragédia no domingo (24) foi excesso de carga, negligência, etc, considerando o histórico do navio Queen Hind, que seguia para a Arábia Saudita.

Mas será que isso é mais relevante do que algo que nos parece tão óbvio? Quero dizer, não basta matarmos animais em nossos países com as mais diversas e desnecessárias finalidades de consumo, também os enviamos para sofrer em longas jornadas e das mais diversas formas até o seu destino final em outro país – onde as leis da nação de origem desses animais, que já não são exatamente favoráveis a eles, nada vale quando já estão sob outra jurisdição – seja em águas internacionais ou solo estrangeiro.

E existe algo de muito malicioso nisso, que é o fato de que a exportação de animais vivos permite um tipo capcioso de maleabilidade. Quero dizer, condenamos determinadas práticas em nosso país, mas não vemos problema em lucrar com essas práticas que reprovamos, mas que serão exercidas em outra nação – sob outra legislação.

Na realidade, as incentivamos quando concordamos com esse tipo de exportação. Ademais, criamos leis de suposto “bem-estar animal” para animais que serão mortos (?), e leis estas que nada valem no momento em que esses animais embarcam. E o que dizer então de quem defende a exportação de animais vivos no Brasil, mas critica o que aconteceu na Romênia?

Quem não se recorda do caso Minerva Foods, em que um navio afundou com cinco mil bois no Pará em 2015? Até hoje a Minerva Live Cattle Exports continua sendo uma das maiores exportadoras de animais vivos do Brasil, e que por força de influência política conseguiu driblar todas as decisões desfavoráveis e proibitivas à exportação de animais vivos nos últimos anos.

O que mudou de lá pra cá? Nada, ainda que tenhamos claros e muitos exemplos de negligência, desrespeito à vida animal e impacto ambiental. A realidade da exportação de animais vivos em qualquer parte do mundo é a mesma – seja na Romênia, no Brasil, na Austrália, etc.

Considere por um momento que submetemos animais a longas viagens e em confinamento – tendo de suportar altas temperaturas e adversidades climáticas. Me parece um tratamento parecido com aquele que a humanidade ao longo da história dispensava a prisioneiros antes da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Essas viagens costumam durar cerca de três semanas. Se esses animais sucumbem a bordo, são moídos, se escapam de um acidente, morrem afogados ou são abatidos pouco depois de chegarem às margens. E se aportam em “segurança” são preparados para o abate sem insensibilização – golpe em forma de meia lua que faz o sangue jorrar enquanto se debate violentamente. A verdade é que, sob a “proteção da lei”, normalmente não dispensamos tal tratamento nem aos piores criminosos.

Ainda assim, é o que acontece com frequência em 20 países do mundo que exportam quantidades surpreendentes de animais vivos criados para consumo – milhares, dezenas de milhares e que somam milhões ao final do ano.

Será que as autoridades que se posicionam favoráveis à prática já participaram de vistoria de algum navio? Já subiram na carroceria de um caminhão que transportou bovinos espremidos por até mais de 30 horas por longas distâncias até chegarem a um porto? Testemunharam animais que não resistiram à viagem e tiveram seus corpos moídos dentro do próprio navio? Criaturas que diante da impossibilidade de fugir ao confinamento durante um “acidente” morreram agonizando.

Nos últimos anos, diversos países começaram a rever suas legislações em relação aos animais e passaram a considerá-los legalmente como criaturas sencientes e, assim, os reconhecendo como seres que necessitam de um mínimo de direitos e proibindo uma série de práticas que implicam na ampliação do sofrimento animal e da supressão de suas necessidades mínimas. Exemplos são a Bélgica, Nova Zelândia, Índia, etc.

O assunto também está em discussão no Reino Unido, em Israel e em alguns outros países europeus, além de haver uma proposição nos Estados Unidos. Sendo assim, por que continuamos sendo coniventes e permitindo tais práticas? Já é mais do que hora de colocar um fim à exportação de animais vivos, que infelizmente é consequência da redução de animais a alimentos e outros tipos de produtos.


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