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Promotora defende cardápio vegano implementado em escolas na Bahia

15 de novembro de 2019
6 min. de leitura
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O Programa Escola Sustentável oferece aos alunos opções éticas, sustentáveis e saudáveis


A promotora Leticia Baird defendeu o cardápio vegano nas escolas públicas da Bahia. Instituições de quatro municípios – Serrinha, Teofilândia, Biritinga e Barrocas – foram contempladas com a alimentação livre de origem animal graças a importante atuação da promotora.

Foto: Terrence McCoy – Washington Post

A iniciativa é uma diretriz do Ministério Público da Bahia, estabelecida em 2018 em prol da sustentabilidade. Após os municípios serem convidados a assinar um termo de ajustamento de conduta, carnes, ovos e leite estão sendo progressivamente retirados da merenda escolar. Pasta de amendoim, pão vegano, carne de soja e outros alimentos vegetais estão sendo inseridos na alimentação dos alunos.

Atualmente, 40% do cardápio é de origem vegetal. O objetivo é que, no futuro, seja 100%. O projeto é apoiado pela ONG Humane Society International, que defende causas ambientais. As informações são da Gazeta do Povo.

No YouTube, a promotora aparece em vídeos nos quais defende os animais e alerta para o “perigo quase irreversível” dos dejetos de matadouros que contaminam a água e o solo. Ao jornal Washington Post, Letícia afirmou que, na Bahia, “encontrou uma culinária baseada em raízes, e que todos os nutrientes que ela precisa estão nos vegetais, além de estar tentando cortar o glúten”.

“Se uma alimentação à base de vegetais é mais barata financeiramente, custa menos para o meio ambiente e fornece igual suporte nutricional, por que o governo vai ter que comprar carne?”, defende. “Aquecimento global tá aí, emissão de gases do efeito estufa está aí, e qual é hoje a maior fonte de degradação ambiental atrelada a aquecimento global e gases poluentes? Sistema de produção alimentar”, completa.

O Programa Escola Sustentável foi idealizado pelo Ministério Público não só para garantir mais sustentabilidade, mas também para combater doenças causadas por produtos de origem animal, como a obesidade, o colesterol e a pressão alta. O órgão pretende, também, fomentar a agricultura familiar na região através do projeto.

“Modernamente, as entidades de pesquisa mais renomadas, inclusive The Lancet, que é a maior revista de publicação de medicina hoje no mundo, é muito antiga, Harvard, Stanford, Oxford, promovem esse tipo de alimentação”, diz a promotora. Segundo ela, o cardápio vegano garante melhorias na “qualidade da alimentação escolar, prevenção de doenças e melhor gestão de recursos públicos financeiros”.

“Não há na nossa legislação nenhuma norma que obrigue que a fonte seja de origem animal (…) os únicos itens obrigatórios são frutas e hortaliças. Não existe obrigatoriedade, não fala que é obrigatório usar ovo, leite, queijo, não existe”, continua.

Sobre a determinação feita em 2018 pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) a respeito da necessidade de haver proteína animal no cardápio escolar, Letícia disse que “isso foi já em 2018, quando o programa já tinha sido lançado, então não há norma, não há lei”.

Sobre as pessoas que insistem em criticar o programa, a promotora afirmou que “talvez, exista um desajuste de informação quanto ao que hoje diz a ciência com relação à eficiência nutricional de uma alimentação à base de vegetais”. “É um descompasso desses críticos no que, modernamente, se sustenta sobre viabilidade nutricional, numa alimentação a base de vegetais”, reforçou.

De acordo com a coordenadora do projeto na região de Biritinga, Valdiceia Leão, inicialmente o programa encontrou resistência de algumas famílias. “Realmente, houve um impacto, até pela questão da cultura, houve um choque, teve reação”, explica. “Nós dissemos aos pais que seria gradativo e que, ao passo que a criança ia comendo, ia se adaptando”. Orgulhosa, Valdiceia conta que a filha, de 9 anos, não come carne. “Ela não come nada de doce, eu não dou, não deixo de jeito nenhum. E ama verdura. Não come carne, eu não dou carne, nem frango”, diz.

Em entrevista à Gazeta do Povo, a promotora defendeu a manutenção do programa, que oferece aos alunos opções éticas, sustentáveis e saudáveis. Confira abaixo.

Quando vocês substituírem 100%, e as pessoas que não… de repente vai ter alguém que não vai concordar com isso. Como é que fica essa questão?

Primeiro que a gente não chegou lá no 100% ainda, a gente está teorizando.

Mas pode ter gente que hoje mesmo, com 40%, não concorde, não é?

Quando você chega no hospital, para ser atendida, você pergunta se a marca da aspirina que ele vai te dar é x ou y ou você quer saber se a aspirina vai ter o mesmo efeito? É o que eu estou tentando dizer, e que a sociedade brasileira tem uma dificuldade para entender, porque nós ainda vemos o poder público de uma forma pessoalizada. Dinheiro público, recurso público não pode ser visto de acordo com as minhas preferências, meu gosto. Não, dinheiro público é escasso, não tem dinheiro para todas as coisas, então tem que fazer o máximo com o mínimo.

Se isso se mostra producente, sobre todas as perspectivas quando comparado a uma outra opção, o poder público nem pode ter escolha, porque é regido pelo princípio da eficiência. Infelizmente, a eficiência não é um princípio muito observado na prática da administração pública, e talvez por isso haja tanta divergência e essas ponderações das pessoas.

Hoje, por exemplo, se uma criança quisesse uma alimentação dessa [vegana], como é que isso seria? Pense o inverso, uma criança que por razões, não de saúde, até porque o acordo do MP, o TAC, tem uma cláusula muito expressa, se houver uma recomendação médica, de que a criança objetivamente precisa fazer uso, o governo vai ter que dar, se aquilo faz parte da saúde, uma prescrição médica fundamentada. Mas e uma criança que seja vegetariana, se ela for comer hoje na escola, vai ter arroz com charque. E aí? Ninguém pensa o outro lado?

Mas então não seria justo equilibrar o cardápio? E quando chegar em 100%? E essas crianças que querem comer carne?

É aquilo que eu acabei de falar, que talvez você ainda não compreendeu, a gente está falando de recurso público.

Tá, mas o recurso…

Mas o que?! Você vai escolher se o governo vai comprar ambulância branca que custa 100 mil?

Mas quando chegar a 100% vai tender a um lado, ao veganismo. E o outro lado?

Não, a questão não é veganismo. É utilização de recurso público, é isso que eu sempre tento deixar claro.

Mas vão continuar existindo pessoas que querem se alimentar com carne, não é?

Que comam em casa com o seu dinheiro, porque aqui a gente está falando de recurso público.


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