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Leão que seria morto em caça ao troféu é resgatado por ativistas e enviado a santuário

29 de outubro de 2019
6 min. de leitura
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Foto: Lord Ashcroft
Foto: Lord Ashcroft

Quando foi resgatado, Simba estava maltratado, desnutrido, drogado e claramente tinha sido vítima de abuso. O leão estava destinado a se tornar o troféu de algum caçador em uma “caça enlatada”: aquela em que o leão é baleado em um espaço propositalmente pequeno e fechado, onde não tem chances de escapar.

O leão maltratado foi salvo da morte certa quando vagava em uma área de caça na beira do deserto de Kalahari, na África do Sul.

Simba foi resgatado pela equipe de investigação disfarçada da ONG Lord Ashcroft, criada pelo político e filantropo Michael Ashcroft, que é formada por ex-agentes das Forças Especiais, e especialistas no resgate de animais selvagens.

O animal havia sido criado por uma das várias fazendas de reprodução de leões em cativeiro, prática cada vez mais comum na África. Essa indústria envolve milhares de leões criados artificialmente que acabam sendo mortos pelo comércio de ossos, principalmente para o mercado do Extremo Oriente, ou como troféus de caça, geralmente para o mercado dos EUA e da Europa.

Um leão macho adulto com uma juba grande pode ser vendido por mais de 40 mil libras (cerca de 200 mil reais).

Semana passada, o leão foi finalmente transferido definitivamente para um local secreto na África do Sul, depois de passar um tempo em alojamentos temporários. Agora ele tem um novo lar, espaçoso e permanente, segundo informações do Daily Mail.

Acredita-se que o leão tenha cerca de 11 anos e agora finalmente viverá em paz e segurança pelo resto de seus dias.

Segundo a ONG, o paradeiro de sua nova casa deve permanecer em segredo porque, mesmo agora, aqueles que participam do desprezível setor de criação de leões podem tentar prejudicá-lo ou matá-lo.

Simba foi descrito como um animal “profundamente traumatizado” imediatamente após seu resgate. No entanto, ele deve agora viver por mais dez anos, possivelmente mais, e, com esperança, o tempo será um grande curador de suas feridas emocionais e físicas.

Foto: Lord Ashcroft
Foto: Lord Ashcroft

Um de seus novos cuidadores, que pediu para não ser identificado, disse ao Daily Mail: “Ele é um verdadeiro cavalheiro. Mesmo nas poucas semanas em que ele esteve conosco, houve uma enorme diferença em seu comportamento”.

“Quando ele chegou, vivia escondendo-se e rosnando. Agora, pouco a pouco, ele está mais confiante e nos permite estar a 30 pés (cerca de 9 metros) dele”.

“O melhor é que os leões perdoam e se atrevem a confiar novamente e a amar incondicionalmente. É nesse ponto que os humanos tem muito a aprender com os animais”, diz o cuidador.

“A criação de leões, por outro lado, expõe o lado mais sombrio da humanidade: essa atividade cruel é puramente ligada ao ego humano, dinheiro, ambição e ganância”.

Simba agora vive sozinho em um recinto cercado de dois acres e meio onde ele é alimentado e pode circular livremente. Ele tem uma área elevada, um platô, onde pode tomar sol, mas também tem a sombra das árvores para descansar. Alguns doadores anônimos fizeram uma doação substancial para garantir que Simba seja bem cuidado pelo resto de sua vida.

Momento em que o britânico Miles Wakefield atira em Simba com um dardo tranquilizante em um recinto cercado | Foto: Lord Ashcroft
Momento em que o britânico Miles Wakefield atira em Simba com um dardo tranquilizante em um recinto cercado | Foto: Lord Ashcroft

Apesar dos anos de abuso e da recente provação enfrentada, Simba recebeu um atestado de saúde emitido por um veterinário. Mesmo antes do resgate, Simba já havia sido baleado duas vezes por um morador da região que queria “ter o prazer de acertar o animal” com dardos tranquilizantes.

O britânico, Miles Wakefield, pagou milhares de libras pela “oportunidade”, que a equipe da ONG disfarçada filmou, para poder junto balear o leão junto com seus cúmplices. Os caçadores foram mostrados rindo e fazendo piadas, enquanto Simba cambaleava após ser ferido com os dardos e drogado.

Com a repercussão do caso, Wakefield disse na época que foi enganado e acreditava estar participando de uma “operação legal para realocar um leão no interesse da saúde do animal”, acrescentando que nunca havia participado de uma caçada ao leão e que não tinha “absolutamente nenhum interesse em fazê-lo”.

Quando o leão estava semiconsciente, seus agressores posavam para fotos manipulando-o, mantendo a cabeça do animal erguida, em uma pose que os caçadores chamavam de “o tiro mortal”.

Simba teve sorte de escapar ao destino que seus algozes planejavam para ele – muitos não partilham do mesmo final feliz. Agora ele se tornou um símbolo da campanha em que a ONG e outras instituições de caridade, organizações e indivíduos criaram para lutar contra a criação de leões.

Miles Wakefield com Simba drogado | Foto: Lord Ashcroft
Miles Wakefield com Simba drogado | Foto: Lord Ashcroft

Simba é um dos 12 mil leões que as estimativas apontam como animais criados em cativeiro mantidos nas mais de 200 fazendas e complexos na África do Sul.

Ele fez parte de uma indústria cruel, abusiva e mal regulamentada. Incrivelmente, agora existem quase quatro vezes mais leões criados em cativeiro no país do que leões selvagens.

A indústria de criação de leões, unicamente baseada em dinheiro, coloca as fortunas que os caçadores pagam para matar esses animais indefesos, nas mãos de um pequeno número de “empresários” que criam leões em cativeiro e organizam as “caçadas enlatadas”.

Isso significa que os benefícios econômicos para o estado, a sociedade em geral e a conservação são insignificantes.

Simba em seu novo lar | Foto: Lord Ashcroft
Simba em seu novo lar | Foto: Lord Ashcroft

Howard Jones, executivo-chefe da Born Free Foundation, organização internacional de defesa de animais selvagens que busca acabar com a criação de leões e a caça enlatada, disse ao Daily Mail: “Esta é uma indústria brutal e desprezível que esconde o que está fazendo”.

O ativista pediu ao governo da África do Sul que seja honesto e transparente: “Por que as autoridades do pais estão vinculadas a uma indústria corrupta e cruel?”

As autoridades sul-africanas recusaram um convite para uma reunião com o patrono da ONG, Michael Ashcroft, mas o político e filantropo afirma que esta fazendo lobby junto ao governo britânico para que o Reino Unido acabe com sua cumplicidade com essa indústria bárbara.

Em um recente discurso da rainha, o governo britânico anunciou sua intenção de proibir a importação de troféus de caça de espécies ameaçadas para o Reino Unido. Os Estados Unidos e o Reino Unido são os dois maiores importadores mundiais de troféus de caça.

A África do Sul, por outro lado, anunciou recentemente que os leões agora são um dos 33 animais selvagens que serão classificados no futuro como “animais de fazenda”, dessa forma haverá menos restrições legais à sua proteção e bem-estar.

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