EnglishEspañolPortuguês

Demanda por carnes exóticas ameaça espécies protegidas

11 de outubro de 2019
4 min. de leitura
A-
A+
Foto: Reuters
Foto: Reuters

Caçadores africanos estão matando espécies ameaçadas de extinção nas selvas da África Central para vender sua carne nos mercados como forma de sobrevivência.

Pesquisadores alertam que as florestas da região estão sendo esvaziadas de animais a um ritmo alarmante por caçadores de “carne selvagem” que procuram ganhar dinheiro.

Mohamed Esimbo Matongu é funcionário do governo do Congo que também caça os animais protegidos, alegando que é a única maneira de garantir o sustento de sua família.

Uma vez por mês, ele sai de sua casa na cidade congolesa de Mbandaka apenas para caçar animais selvagens.

Foto: Reuters
Foto: Reuters

Embora ele trabalhe para uma agência governamental, o congolês diz que precisa da renda obtida com a venda da maior parte do que mata para sustentar sua esposa e filhos.

“Quando eu era adolescente, tive que viajar mais de 10 km rio acima para encontrar animais para caçar. Mas agora tenho que percorrer 40 km para encontrar um terreno de caça decente”, disse Matongu, que tem 61 anos.

Quando vai caçar, aluga uma canoa e um par de remos e embala um rifle caseiro, uma dúzia de cartuchos e bastante kwanga, um pão tradicional feito de mandioca, o suficiente para durar por alguns dias.

Ele fica em uma cabana próxima de um afluente do rio Congo e percorre a floresta dia e noite em busca de qualquer animal selvagem que possa encontrar, incluindo macacos, antílopes da floresta, crocodilos, pítons e porcos do rio.

Foto: Reuters
Foto: Reuters

Até a década de 1990, caçadores como Matongu matavam para consumo pessoal, mas o crescente apetite por carne silvestre, considerada “exótica” nas cidades, aumentou a escala da caça.

O impacto sobre o número de animais selvagens é claro, de acordo com moradores da região e também entre os pesquisadores.

Pesquisas mostram que cerca de 6 milhões de toneladas de carne de animais selvagens vendidas anualmente são provenientes da Bacia do Congo, cuja floresta se estende por seis países e é a segunda em tamanho, perdendo apenas para a Amazônia.

“Nossas pesquisas mostram que animais de muitas espécies estão desaparecendo nas aldeias”, disse Michel Bakanza, que trabalha em comunidades nas florestas para o World Wildlife Fund (WWF) em Mbandaka.

Foto: Reuters
Foto: Reuters

Muitos animais, incluindo os macacos bonobo e os pangolins, são protegidos pelo direito internacional, mas a falta de supervisão do governo faz com que essas espécies ameaçadas de extinção sejam regularmente mortas.

Matongu diz que seu salário mensal de cerca de 75 dólares não é suficiente para cobrir as necessidades de sua esposa, quatro filhas, dois irmãos e sobrinho que vivem sob seu teto.

“Como devo alimentar, vestir, sustentar tantas pessoas? Às vezes, nem recebo o pagamento no final do mês”, disse ele. “Aqui é o Congo: tentamos fazer o possível para sobreviver”.

Para outros caçadores, como Celestin, um estudante de conservação em Mbandaka que pediu para não ser identificado na íntegra, a necessidade de sobreviver em um dos países mais pobres do mundo pode anular as preocupações com os animais.

Foto: Reuters
Foto: Reuters

“Caçar algumas espécies é proibido, eu sei disso, mas me permite pagar meus estudos e sustentar minha família”, afirmou.

Depois de alguns dias caçando na floresta, Matongu vende a maior parte do que matou – ganhando de 5 mil a 100 mil francos congoleses (cerca de 7 a 60 dólares) – e guarda carne suficiente para sua família por alguns dias.

Sua captura vai para os mercados de Mbandaka, onde milhares de comerciantes se reúnem toda sexta-feira para comprar carne de animais das barcaças que chegam.

Os estandes estão cheios de crocodilos, lagartos-monitor, além de macacos recém-mortos, antílopes e outras espécies que ficam amarradas e expostas nas barracas.

Foto: Reuters
Foto: Reuters

Gratidão por estar conosco! Você acabou de ler uma matéria em defesa dos animais. São matérias como esta que formam consciência e novas atitudes. O jornalismo profissional e comprometido da ANDA é livre, autônomo, independente, gratuito e acessível a todos. Mas precisamos da contribuição, independentemente do valor, dos nossos leitores para dar continuidade a este imenso trabalho pelos animais e pelo planeta. DOE AGORA.


 

Você viu?

Ir para o topo