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Abandono e maus-tratos de cavalos são retrato de triste realidade na bela Monte Verde (MG)

4 de julho de 2019
5 min. de leitura
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Por David Arioch

Cavalos são vistos revirando lixo, parcialmente cegos e caídos, sem forças, sobre a grama (Fotos: Divulgação)

Distrito de Camanducaia (MG), Monte Verde tem um cenário paradisíaco, repleto de muito verde, que atrai turistas de todas as regiões do Brasil e também do exterior. No entanto, essas belezas têm sido ofuscadas pela irresponsabilidade de pessoas que, além de lucrarem com o aluguel de cavalos, os submetem a uma triste realidade de abandono e maus-tratos.

Esse fato começou a ser denunciado no mês passado quando fotos, vídeos e depoimentos dessa realidade começaram a ganhar visibilidade nas mídias sociais, atraindo mais atenção para a questão da omissão e violência contra cavalos usados como meio de transporte para turistas.

Triste realidade dos animais começou a ser denunciada no mês passado (Fotos: Divulgação)

Moradores relatam que não é nenhuma novidade que Monte Verde sempre teve a cultura do aluguel de cavalos, mas a omissão e maus-tratos contra os equinos se intensificou nos últimos dez anos.

Tudo indica que a situação piorou porque antes quem mantinha um ou dois cavalos no fundo do quintal, e os alugava no final de semana, passou a ter dez, e sem qualquer preocupação com os cuidados que esses animais necessitam. Prova disso é que não é difícil encontrar animais passando fome, sede e sofrendo violência.

“Se você vier pra cá, consegue ver um cavalo morto na rua, tendo que ser sacrificado – piorou muito”, lamenta a administradora da Fazenda Hotel Itapuá, Rebecca Wagner, que também é diretora da Associação de Hotéis e Pousadas de Monte Verde.

Não é difícil encontrar animais vagando por Monte Verde a qualquer hora do dia (Foto: Divulgação)

Quem circula pelas ruas de Monte Verde reconhece o mau estado de muitos animais. Magros demais, com graves ferimentos e incapazes de transportarem turistas por estarem combalidos.

Animais disponibilizados para aluguel no final de semana normalmente são encontrados a partir de segunda-feira nas propriedades da região ou na rua mesmo – para que procurem por comida. Alguns moradores já perderam as contas de quantos cavalos já recolheram abandonados por proprietários omissos.

Cavalos já foram incendiados e encontrados com as quatro patas presas e deixados para morrer. Em junho abandonaram três animais na área da Fazenda Hotel Itapuá – um cavalo, uma mula e um burro. Os três ainda apresentam graves problemas de saúde, e dois deles sofrem de cegueira parcial em decorrência de olhos furados.

Quem circula pelas ruas de Monte Verde reconhece o mau estado de muitos animais (Fotos: Divulgação)

Animais com pneumonia e bem debilitados

“O primeiro caiu dentro de um buraco no hotel e sofreu ferimentos graves, ficando à beira da morte”, relata Rebecca Wagner. Mesmo após moradores registrarem boletins de ocorrência e recorrerem às autoridades, a situação ainda parece distante de um desfecho alentador para os animais.

Quando as denúncias começaram, quem explora a atividade e não oferece nenhuma assistência aos cavalos optou apenas por tirá-los de circulação por uma semana, mas eles já estão de volta às ruas de Monte Verde – inclusive revirando lixo em busca de comida.

“Encontramos animais com pneumonia e bem debilitados, sem forças para se levantarem. E vamos mantê-los sob nossos cuidados até que a promotoria decida o que fazer”, garante Rebecca.

Há animais em condições tão preocupantes que precisam ser transportados por veículos automotores (Foto: Divulgação)

Um dos sobreviventes, Guerreiro, que ainda inspira muitos cuidados, já foi escolhido como mascote do movimento contra maus-tratos aos cavalos em Monte Verde. Ele teve um olho perfurado e deve passar por cirurgia em breve.

Em Monte Verde, foi alçado à vítima emblemática do inconsequente aluguel de cavalos por parte de quem não está muito preocupado em suprir as necessidades mais básicas desses animais.

Um dos sobreviventes, Guerreiro, que ainda inspira muitos cuidados, já foi escolhido como mascote do movimento contra maus-tratos (Fotos: Divulgação)

A omissão dos turistas favorece a crueldade contra os cavalos

Um ponto importante que não pode ser ignorado é que a omissão dos turistas favorece a crueldade contra os cavalos em Monte Verde (MG), assim como em qualquer outra parte do Brasil. Afinal, esses cavalos que são vítimas de maus-tratos não estariam sendo submetidos a essa realidade se não houvesse quem financiasse isso.

“Em Monte Verde, até seis turistas sobem em uma charrete sem antes avaliarem o estado do animal. É comum ver pais com filhos pequenos montando em cavalos visivelmente doentes”, revela Rebecca Wagner.

Ainda assim, há pessoas que acham que está tudo bem em ficar em cima de um cavalo que se “resume à pele e osso” ou que fica o dia todo amarrado em um poste. E infelizmente isso é algo que acontece em muitas cidades do Brasil.

Monte Verde continua sendo um lindo destino para turistas, mas é melhor ainda experimentar bons momentos em um cenário paradisíaco sem ajudar a perpetuar a omissão e violência contra os animais.

Animais vítimas de maus-tratos recebendo atendimento na Fazenda Hotel Itapuã (Fotos: Divulgação)

Saiba Mais

A Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro 1998, tipifica como crime praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. A pena de reclusão é de até um ano e multa.


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