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Orelhas de elefante e ossos de leão estão entre os troféus de caça importados para o Reino Unido

26 de março de 2019
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Foto: Ton Koene/Alamy
Foto: Ton Koene/Alamy

Ossos de leões, crânios de leopardo e couro de elefante em uma cadeira otomana, estavam entre as partes do corpo de animais ameaçados de extinção importados para o Reino Unido por caçadores de troféus por meio de uma brecha na lei internacional de 2018, de acordo com informações do The Guardian.

O governo está enfrentando novos pedidos de proibição da importação de troféus de caça de espécies ameaçadas de extinção, após 74 partes raras de corpos de animais terem sido legalmente trazidas para o país por caçadores no ano passado, incluindo dentes de hipopótamo, orelhas de elefante e peles de crocodilo.

Ativistas afirmaram que as partes de leões importadas da África do Sul provavelmente vieram de fazendas de leões, lugares onde os animais são criados especificamente para caçadores de troféus e para atender à crescente demanda de ingredientes para remédios tradicionais nos mercados asiáticos.

Dois animais inteiros taxidermizados, quatro crânios e dois tapetes de pele estavam entre as 12 partes de leões africanos importados para o Reino Unido usando a lei de exceção de caça ao troféu firmada na Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora (CITES) em 2018, segundo dados obtidos da Agência de Sanidade Animal e Vegetal, sob um pedido de liberdade de informação.

Um crescente descontentamento público com a caça de troféus no Reino Unido vem sendo observado depois que o vídeo de um caçador americano atirando em um leão macho adormecido no Zimbábue em 2011 surgiu nas redes sociais. O leão, mostrado se contorcendo de dor após o primeiro tiro, precisou ser baleado mais duas vezes.

O governo prometeu banir as importações de troféus de leões por volta de 2017, a menos que a indústria de caça tenha derrubado a lei, mas até então ela não sofreu alterações.

Christine MacSween, diretora executiva da LionAid, disse sobre os novos números divulgados: “O fato desses produtos (partes) de leões todos virem da África do Sul indica fortemente que os caçadores de troféus estão apoiando a indústria de criação desses animais em cativeiro, que foi amplamente condenada em todo o mundo como crueldade animal, além de ser uma prática antiética e moralmente repreensível”.

“Na verdade, foi o ex-jornalista Roger Cook quem expôs essa indústria de criação de leões, criada para satisfazer os caçadores de troféus em 1997, e apesar da repulsa sobre o que foi mostrado pelo Cook Report, 22 anos depois o governo não fez nada para evitar a importação de troféus de caça para o Reino Unido”, lamenta MacSween.

Alguns conservacionistas argumentam que proibir a caça de troféus seria uma distração, já que a grande maioria das espécies ameaçadas e vulneráveis são mortas por caçadores (para tráfico) de vida selvagem. Mais de 50 elefantes são mortos por dia, segundo o WWF.

Couro de elefante, oito presas e quatro pés estavam entre as 28 partes dos corpos de elefantes importadas para o Reino Unido em 2018, de acordo com os números divulgados. Sob regras internacionais, os troféus podem ser trazidos para o bloco de paises, desde que não afetem a sobrevivência de nenhuma espécie. Os dados da Cites não indicam quando os animais foram mortos.

Em uma uma menção aos troféus de elefantes oriundos da Zâmbia, Eduardo Gonçalves, o fundador da Campanha para Proibir a Caça ao Troféu, disse: “Há um desastre em curso envolvendo a população de elefantes da Zâmbia, que sintetiza a crise que a espécie enfrenta. Na década de 1960, a Zâmbia tinha uma das maiores populações de elefantes na África, estimada em mais de 200 mil animais. Hoje acredita-se que sejam menos de 10 mil..

“Cientistas descobriram que a combinação de caça para abastecer o tráfico e caça de troféus já está superando a taxa reprodutiva de elefantes. Sem uma ação drástica, há o risco de que o elefante africano esteja em um estado de declínio terminal”, diz Gonçalves.

Uma moção inter-partidária exigindo que o governo do Reino Unido suspendesse as importações de troféus foi assinado por mais de 159 deputados.

Respondendo a uma pergunta parlamentar (feita em sessão) sobre as importações de troféus de caça em janeiro, a ministra Thérèse Coffey disse: “O governo leva a conservação das espécies muito a sério”.

“A importação de troféus de caça de espécies ameaçadas para o Reino Unido já está sujeita a controles rígidos. Uma licença só será emitida se não for demonstrado nenhum impacto negativo sobre a sobrevivência de espécies ameaçadas. Isto significa que as importações de certas espécies e de certos países são atualmente proibidas porque são consideradas insustentáveis”, comentou ela.

“Pretendemos realizar uma mesa redonda com organizações de todos os lados do debate, a fim de obter uma melhor compreensão das questões, bem como considerar qualquer aconselhamento científico”, concluiu a ministra.

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