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Ministério da Agricultura assina acordo para exportar gado vivo para o Cazaquistão

27 de março de 2019
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Realidade dos bovinos brasileiros exportados no ano passado para a Turquia (Foto: Reprodução)

Na última sexta-feira, de forma bem discreta, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) assinou o Certificado Zoossanitário com o Cazaquistão, para que o Brasil exporte gado vivo ao país transcontinental. O documento foi assinado pelo secretário de Defesa Agropecuária do Mapa, José Guilherme Leal e pela vice-ministra de Agricultura do Cazaquistão, Gulmira Isayeva. Leal disse que esse acordo representa mais uma abertura de mercado para a exportação de gado brasileiro.

Estamos diante de mais um compromisso que pesa apenas os aspectos econômicos da exportação de “carga viva” e ignora todas as outras implicações – como o impacto do descarte de dejetos sólidos nas águas e a crueldade contra animais.

Ainda que a exportação de gado vivo seja irrelevante para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, conforme denunciado pelo documentário “Exportando Vidas”, além de trazer consequências negativas para o meio ambiente e também para os animais – que são submetidos a viagens longas e inclusive morrem durante o trajeto, os animais continuam sendo reduzidos a “objetos de exportação”.

Será que o secretário de Defesa Agropecuária do Mapa, José Guilherme Leal, convive com animais domésticos e também os enviaria para uma longa viagem para o Cazaquistão em uma área de confinamento? Correndo o risco de não resistirem à viagem e serem descartados em um moedor?

Nos últimos anos, diversos países começaram a rever suas legislações em relação aos animais e passaram a considerá-los legalmente como criaturas sencientes e, assim, os reconhecendo como seres que necessitam de um mínimo de direitos e proibindo uma série de práticas que implicam na ampliação do sofrimento animal e da supressão de suas necessidades mínimas. Exemplos são a Bélgica, Nova Zelândia, Índia, etc.

O assunto também está sendo levado à discussão no Reino Unido e em outros países europeus, além de haver uma proposição nos Estados Unidos. Porém no Brasil a situação parece outra, já que continuamos desconsiderando vidas e supervalorizando um lucro que nem mesmo beneficia a população.

Quem não se recorda das manobras da Minerva Foods? Empresa de exportação de animais denunciada por impacto ambiental, vazamento de amônia, pagamento de propina, comercialização de carne contaminada e demissão em massa, mas que ainda assim, com a intervenção do Estado, por meio do então ministro da agricultura Blairo Maggi, da Advocacia-Geral da União e do ex-deputado federal Beto Mansur (que teve seu nome associado à trabalho escravo e sonegação de impostos), conseguiu garantir no ano passado a continuidade da exportação de gado vivo.

Mesmo após perícias no Navio Nada, denunciando que os bovinos estavam em más condições, e que havia inclusive um moedor para descarte de animais que não resistiam à viagem, a exportação de gado vivo foi mantida. Será que aqueles que são favoráveis à exportação de gado vivo conhecem realmente a realidade desses animais?

Será que já participaram de vistoria de algum navio? Já subiram na carroceria de um caminhão que transportou bovinos espremidos por até mais de 30 horas por longas distâncias até chegarem ao Porto de Santos? Testemunharam animais que não resistiram à viagem e tiveram seus corpos moídos dentro do próprio navio? E se conhecem, deveriam ignorá-la? É bastante cômodo ignorar a realidade dos animais criados e explorados para lucro e consumo.

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