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Ibama planeja reforçar fiscalização após morte em série de tartarugas gigantes

2 de dezembro de 2018
4 min. de leitura
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Carapaças em Guaratuba: uma delas precisou ser removida com a ajuda de uma retroescavadeira CEM/Divulgação

O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) planeja reforçar a fiscalização sobre as embarcações pesqueiras como resposta às seguidas mortes de tartarugas gigantes nas praias do Paraná. Em menos de 20 dias, nove tartarugas de couro foram encontradas mortas na orla paranaense.

Esta é a maior espécie marinha, podendo ter 2 metros de comprimento e a pesar 500 kg, e a mais ameaçada em todo o mundo: a cada mil filhotes que nascem, apenas um chega à vida adulta. A pesca é uma das causas mais prováveis para explicar a mortalidade.

O superintendente do Ibama no estado, Julio Gonchorosky, afirma que as fiscalizações em alto mar começarão a ser discutidas na próxima semana. O Batalhão de Polícia Ambiental da Polícia Militar também será acionada. Até a próxima semana, haverá equipes disponíveis para o monitoramento.

A tendência é de que as equipes intensifiquem abordagens não só a embarcações industriais, mas também artesanais, para alertar os pescadores da importância da preservação das tartarugas. A fiscalização também vai averiguar se materiais como redes e tarrafas estão dentro do padrão permitido.

“A gente está conversando sobre isso. Inclusive tem um barco da Polícia Ambiental em reforma e vamos ver se conseguimos usá-lo para tentar fazer algumas interações”, acrescentou o superintendente do Ibama. Hoje, já cabe ao Ibama fazer fiscalizações em alto mar, mas, no Paraná, a atividade é esporádica.

As carcaças mais recentes de tartarugas de couro foram localizadas no começo desta semana. Uma domingo (25), na orla entre Matinhos e Pontal do Paraná, e outra na segunda-feira (26), na praia de Nereidas, em Guaratuba, onde já havia sido encontrada outra tartaruga gigante semana passada, na quarta-feira (21), na praia de Caieiras. De tão grandes, os corpos desses animais têm sido retirados com a ajuda de uma retroescavadeira.

Consciência

Apesar do reforço no monitoramento, biólogos alertam que os riscos às vidas das tartarugas gigantes no Litoral do Paraná não serão resolvidos apenas com a fiscalização. “A grande maioria dos barcos de pesca industrial está legalizado, pescando no local autorizado, na época certa e com os equipamentos certos”, explica Camila Domit, bióloga do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (CEM-UFPR).

Segundo a especialista, o problema é que as áreas autorizadas para a pesca são as mesmas usadas pelas espécies ameaçadas. Portanto, a única solução seria criar um processo integrado de manejo da área, conciliando o diálogo entre pescadores, estado e biólogos.

Camila reforça ainda que a pesca artesanal apresenta pouco risco às tartarugas de couro, e em sua maioria, também é composta de profissionais atuando de forma legal. “É importante lembrar que essas pescarias são atividades econômicas importantes, que devem continuar ”, ressalta.

Mortandade

De acordo com a bióloga do CEM-UFPR,não só as tartarugas de couro, mas também de outras espécies têm se aproximado da orla paranaense por causa do avanço das águas vivas, o alimento delas, o que é comum com a proximidade do verão. À frente do caso, o grupo vai investigar o sistema digestivo de todos os animais para averiguar se há plástico – muitas tartarugas morrem por confundirem plástico com águas marinhas.

Mesmo que a causa das mortes ainda estejam em investigação, Camila acredita que o principal motivo tenha sido a captura acidental por diferentes tipos de pescarias industriais. “Pode ser pelas pescarias de espinhel pelágico, que são com anzol, e pelas pescarias de arrasto de parelha, usadas para pesca de camarão e peixe. Ambas industriais”, afirma, pontuando que o número alto de tartarugas encontradas mortas ajuda a reforçar a hipótese.

O superintendente do Ibama também acredita que a atividade pesqueira esteja por trás das mortes dos animais, mas observa que as pescas artesanais também precisam ser monitoradas. “Todo tipo de pesca impacta sobre as tartarugas marinhas. Claro que a industrial sempre tem um contorno maior por causa do tamanho da rede, mas a artesanal também usa rede, linha”, afirma.

Segundo Gonchorosky, apesar de a situação ser realmente preocupante, uma outra justificativa para essa situação inédita nas praias do Paraná diz respeito à própria recuperação da espécie – lenta, mas que está ocorrendo. “As populações dos grandes cetáceos, como as baleias Jubarte e Franca, e a população das tartarugas marinhas estão em franca recuperação no Brasil. Isso significa que cada vez mais a gente vai vê-los na costa do Paraná”.”

Fonte: Gazeta do Povo

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