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Cadela idosa que não aceita tutores homens aguarda por um lar em São Paulo

9 de dezembro de 2018
4 min. de leitura
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Doce, carinhosa e cordata, a cadelinha idosa Gorgonzola aguarda por um lar amoroso depois de anos de sofrimento | Foto: Roberta Roperto
Doce, carinhosa e cordata, a cadelinha idosa Gorgonzola aguarda por um lar amoroso depois de anos de sofrimento | Foto: Roberta Roperto

Gorgonzola já era uma senhora quando chegou ao CCZ de São Caetano do Sul (SP) em abril de 2017 após ser abandonada por dias seguidos dentro da casa onde vivia com seu tutor. Ex-militar, já em idade avançada e cercado de rumores sobre maus-tratos aos animais, um deles sobre a morte de um cão a tiros disparados por ele em frente à casa onde morava, era conhecido por ser uma pessoa de gênio forte. Os vizinhos contam que ele vivia sozinho com as duas cadelas: Gorgonzola e Pretinha.

Pretinha foi adotada por vizinhos, menor e mais dócil, ela não ofereceu resistência em ir para um novo lar. Já Gorgonzola, ao menor sinal de aproximação, já mostrava os dentes e rosnava de forma a afastar quem tentasse se aproximar. O adotante de Pretinha e vizinho da casa onde as cadelas viviam, tinha a intenção de adotar a ambas, mas a recepção “nada calorosa” de Gorgonzola logo mudou os planos dele.

Vizinhos contam sobre as frequentes agressões que as cadelas sofriam, os barulhos de espancamentos e ganidos horríveis que ouviam.

Os demais vizinhos então, vendo que ninguém aparecia para alimentar ou dar água para o animal e que a casa havia sido posta à venda, chamaram o CCZ de São Caetano para tentar garantir a Gorgonzola ao menos uma chance de ter um lar.

Voluntária do CCZ há 7 anos, Janete Nicolau, conta que o nome Gorgonzola foi dado a ela no dia em que foi resgatada e deu entrada no CCZ: “O cheiro que ela exalava era tão forte (falta de banho, abandono, fome) que o nome acabou pegando e ficou”. Após tomar banho, ser examinada e tratada, Gorgonzola entrou para a longa lista de cães que aguardam por um lar na instituição. A idade estimada para ela foi de 11 anos e a cadelinha foi diagnosticada com um sopro no coração.

Com o decorrer do tempo e na convivência dia a dia, logo foi identificado que a agressividade da Gorgonzola estava ligada a homens, quando eram mulheres a lhe dar banho e alimento a cadelinha aceitava de forma passiva e cordata. Caso o representante do sexo oposto insistisse em se aproximar, Gorgonzola atacava sem temor. As raízes do comportamento defensivo do animal certamente estão no passado de abuso e maus-tratos que a cadelinha sofreu.

Uma aliada e protetora

Atuante na causa animal há mais de 20 anos, e moradora da região, a protetora Roberta Roperto, já realizava um trabalho de divulgação e encaminhamento dos animais do CCZ quando ficou sabendo do caso de Gorgonzola. A protetora, que tem mais de 20 mil seguidores no Facebook, faz o compartilhamento de fotos e dados dos animais nas redes sociais na intenção ajudá-los a conseguir um lar.

Ao fazer a divulgação do caso de Gorgonzola, Roberta recebeu um contato de interesse na adoção da cadelinha, como se tratava de uma adotante já conhecida da protetora, que inclusive havia adotado outro cão que estava aos seus cuidados há alguns anos, Roberta tirou Gorgonzola do CCZ, e a levou até a casa da adotante.

Gorgonzola tomou banho, passou perfume e colocou enfeitas para ir para a casa da adotante | Foto: Roberta Roperto
Gorgonzola tomou banho, passou perfume e colocou enfeitas para ir para a casa da adotante | Foto: Roberta Roperto

A felicidade de Gorgonzola foi breve, sem dar muitas explicações a adotante devolveu a cadelinha dois dias depois e Roberta para evitar devolvê-la ao CCZ a mantém em um hotel canino na zona norte de São Paulo até hoje, onde ela aguarda por um lar. “Ela ficou tão feliz, foi toda bonita de banho tomado, cheirosa e enfeitada para a casa da adotante, eu simplesmente não tive coragem de devolver ela ao CCZ, depois de tudo o que ela passou, e ainda idosa, eu não poderia aceitar que ela voltasse para lá”, desabafa a protetora.

Roberta mantém Gorgonzola no hotel, onde ela com certeza está melhor acomodada que no CCZ, onde os cães ficam baias com espaço limitado. Atualmente desempregada, a protetora faz doces sob encomenda como fonte de renda e conta com a ajuda de algumas raras doações e em sua maioria utiliza recursos próprios para pagar o hotel canino. Atualmente ela tem 24 animais sob seus cuidados. “Acredito que cada um de nós nasce com uma missão, a minha é essa, salvar vidas de 4 patas”, concluiu a protetora.

Atualmente o CCZ São Caetano do Sul possui 12 cães e 9 gatos disponíveis para adoção. Não compre, adote. Animais não são objetos para serem vendidos, ao comprar um animal você está colaborando para que outros sejam usados como matrizes de reprodução e alimentando uma indústria sórdida e cruel.

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