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Procura por amuleto feito de cabelo de rabo de elefante ameaça os animais no Vietnã

28 de setembro de 2018
4 min. de leitura
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Sem o rabo o elefante perde sua ferramenta natural para espantar moscas e manter seu traseiro limpo | Foto: Thanh NGUYEN
Sem o rabo o elefante perde sua ferramenta natural para espantar moscas e manter seu traseiro limpo | Foto: Thanh NGUYEN

Crendices populares e superstições de toda sorte têm sido o centro de ameaças ao bem estar dos animais há séculos. Afrodisíacos, amuletos de sorte e iguarias gastronômicas curativas são as desculpas usadas pelos seres humanos para mutilar e assassinar seres de diversas espécies.

Os ameaçados pela ignorância humana dessa vez são os elefantes do Vietnã – local famoso pela população dizimada e queda vertiginosa nos números de indivíduos dessa espécie na região – a procura pelos “milagrosos” pêlos do rabo dos elefantes, que prometem trazer boa sorte, representam um novo comércio responsável pela morte e mutilação de animais indefesos perante a ganância humana.

“Eu vou cortar o cabelo bem na sua frente, então você terá certeza que não é falso”, diz uma vendedora na aldeia Tri A, localizada nas planícies centrais do país, enquanto segura uma cauda ressecada e cheia de pêlos grosseiros com ar de triunfo. Ela é apenas mais uma entre os representantes do comércio ilegal que se beneficia do tráfico de partes de elefante.

A demanda por anéis e pulseiras embutidos com pêlos de elefante alimenta uma tendência de mau gosto de moda em um país já conhecido por seu comércio ilícito de animais, que vai de chifres de rinocerontes até escamas de pangolim, incluindo dentes de tigre e bile de urso.

Tendência de moda de mau gosto atrai compradores e coloca em risco os elefantes | Foto: Thanh NGUYEN
Tendência de moda de mau gosto atrai compradores e coloca em risco os elefantes | Foto: Thanh NGUYEN

Os poucos elefantes que sobreviveram no Vietnã estão sendo ameaçados por caçadores que os emboscam e cortam seus rabos, membros estes, que são sua defesa principal contra as moscas além de fundamentais na manutenção de sua higiene.

“A cauda é uma parte muito importante da higiene corporal dos elefantes, ao arrancar os pelos ou cortar a parte inferior da cauda, esses caçadores estão deixando o animal em desvantagem”, afirma Dionne Slagter, gerente de Bem-Estar Animal da Animals Asia.

Com apenas 80 elefantes restantes em cativeiro e cerca de 100 na natureza – quando eram cerca de 2.000 em 1990 – Slagter suspeita que a maioria das caudas estão sendo contrabandeadas de países vizinhos ou até de lugares distantes como a África.

No Vitenã restaram apenas 80 elefantes em cativeiro e cerca de 100 na selva | Foto: Thanh NGUYEN
No Vitenã restaram apenas 80 elefantes em cativeiro e cerca de 100 na selva | Foto: Thanh NGUYEN

O apetite por partes de elefantes é uma tendência cruel porém comum em grande parte da região. Nas proximidades de Mianmar os elefantes são mortos para alimentar uma demanda crescente – tanto na própria região como na China – por sua pele, cuja crendice popular prega que cura eczema e acne.
Tudo começou na província de Dak Lak, também no Vietnã, que foi até apelidada de “reino dos elefantes” pelas minorias étnicas M’nong e Ede que habitam a região, em homenagem aos grandes rebanhos que percorriam suas florestas. Até hoje eles mantêm uma profunda reverência espiritual pelos animais.

Diz a lenda da região que encontrar um rabo do animal, por acaso, no chão da floresta é considerado sinal de boa sorte. A tradição local foi transformada impiedosamente em comércio nos últimos anos pelos donos de lojas, que vendem não só as mechas de fios dos rabos, como jóias de marfim e estátuas de Buda que chegam a custar até a 900 dólares.

A perda de habitat e a caça também prejudicaram gravemente o número de elefantes na Tailândia, Camboja e Laos, onde eles já foram adorados durante séculos.

Cortar propositadamente as caudas dos animais ou arrancar seus fios nunca fez parte da tradição desses povos.

Eles amavam e consideravam os elefantes como parte de sua família e jamais fariam qualquer coisa para prejudicá-los”, afirma Linh Nga Nie Kdam, pesquisador da cultura Ede.

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