EnglishEspañolPortuguês

Quando a rejeição ao veganismo esbarra na contradição da realidade

13 de agosto de 2018
3 min. de leitura
A-
A+
Arte: Steve Cutts

Não faz muito tempo que a Consumers International publicou uma pesquisa informando que 80% da população brasileira ignora o impacto da alimentação em suas vidas. Ou seja, isso significa que temos 80% de uma população que não se preocupa, de fato, em se alimentar errado, caso esses dados sejam realmente precisos.

E para além disso, segundo a CI, apenas 12% da população brasileira acredita que a má alimentação é responsável por mais mortes humanas do que guerras, álcool, tabagismo e doenças como Aids e malária – o que, independente de percentual, é um fato, já que vivemos em um mundo em que lidamos copiosamente com dois tipos de morte frequente – pessoas que têm condições se alimentando mal o tempo todo (por opção) – logo contraindo graves doenças em decorrência desses maus hábitos, e vulneráveis ou desvalidos que não têm condições morrendo por não ter o que comer. Estúrdio, não?

Nesse contexto absurdo, de um mundo rico e ao mesmo tempo miserável com população mundial de 7,6 bilhões e que movimenta mais de 80 trilhões de dólares em Produto Mundial Bruto (PMB), temos também uma massa de pessoas com acesso à informação e condições de fazer alguma diferença no mundo que não entendem ou preferem não entender que o seu organismo funciona como uma máquina, e que se você negligenciar as necessidades dessa máquina, você vai comprometê-la mais cedo ou mais tarde. E muitas dessas pessoas, que por improvidência levam um estilo de vida censurável do ponto de vista nutricional, julgam como sendo impraticável ser vegano.

Ou seja, não tenho condições de ser vegetariano ou vegano, de consumir alimentos menos industrializados ou mais baratos do que alimentos de origem animal, mas tenho condições de consumir laticínios, carnes e alimentos baseados em calorias vazias. Afinal, tudo isso custa barato e calorias vazias são essenciais à nossa vida, não? Imagine se os maus alimentos que consumimos no cotidiano fossem substituídos por uma alimentação mais ética para nós e para os animais não humanos? Ou seja, que não custasse privação, sofrimento e morte de criaturas sencientes. Todos sairiam ganhando. Não digo que salvaríamos o mundo, mas já reduziríamos significativamente o nosso impacto.

Então, realmente, sou da opinião de que a rejeição ao veganismo por parte de quem tem acesso à informação parte basicamente da mesma premissa de sempre – o paladar e a primazia da conveniência. Quero dizer, pessoas morrem todos os dias em decorrência da fome ou da má alimentação voluntária, mas ser vegano continua sendo considerado ínvio por tanta gente que se recusa a ver que seus hábitos nunca foram seus, mas apenas resultado de um condicionamento industrioso e deletério que ultrapassa gerações.

Ademais, em um contexto mundial, esses hábitos significam a morte de mais de 60 bilhões de animais terrestres por ano. Isso não deveria exortar alguma reflexão? Para além da primacial questão ética, é importante ponderar também que pessoas não adoecem ou morrem por não se alimentarem de animais, mas sim por negligenciarem suas necessidades nutricionais. Afinal, se isso não fosse verdade, não teríamos pessoas se recusando a se alimentar de animais desde os tempos da Grécia Antiga, e até antes.

Você viu?

Ir para o topo