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A medicina moderna tem se tornado uma verdadeira maldição ambiental

8 de agosto de 2018
3 min. de leitura
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Embora os remédios produzidos pelas indústrias farmacêuticas sejam essenciais para a saúde e o bem-estar de humanos e animais, cada vez menos se sabe sobre os efeitos que eles têm nas fontes de água doce de que dependemos para nossa existência e, consequentemente, seu impacto na saúde humana e no ecossistema.

É que à medida em que a população mundial se expande, os medicamentos e produtos químicos se tornam mais predominantes – e é difícil manter o controle sobre o que acontece após o descarte das substâncias.

Os impactos causados pelas substâncias farmacêuticas no meio ambiente é uma preocupação global. De acordo com um estudo publicado em junho de 2018 nos EUA, instalações de fabricação de medicamentos são uma importante fonte de poluição ambiental. As estações de tratamento de águas residuais são incapazes de filtrar compostos químicos usados ​​para fabricar produtos de higiene pessoal e medicamentos, de modo que esses produtos químicos penetram em sistemas de água doce e nos oceanos.

“As modernas estações de tratamento de águas reduzem principalmente sólidos e bactérias oxidando a água. Elas não foram projetadas para lidar com compostos químicos complexos”, explica ao portal da organização Unenvironment Birguy Lamizana, diretor de gerenciamento do programa ONU Environment e especialista em águas residuais e ecossistemas.

Há evidências de que a poluição química pode estar entrando na cadeia alimentar e alterando as funções sexuais dos peixes e não é de hoje que esse tema surge em pesquisas. O que tem preocupado os cientistas mais recentemente é que os efeitos podem não estar limitados apenas ao peixe; a exposição a produtos farmacêuticos e outros produtos químicos na água potável pode afetar também os sistemas reprodutivos humanos.

Reprodução | Unenvironment.org

De acordo com outro estudo, esse promovido pela UNESCO em 2017 – intitulado Farmacêutica no ambiente aquático da região do Mar Báltico -, o principal caminho dos produtos químicos para o ambiente marinho e de água doce era através das descargas de efluentes das estações municipais de tratamento de águas residuais.

“Apenas nove dos 118 medicamentos avaliados foram removidos das águas residuais durante os processos de tratamento com uma eficiência de mais de 95%, e quase metade dos compostos foram removidos apenas parcialmente com uma eficiência de menos de 50%”, expõe o relatório.

A água, apesar da infra-estrutura construída e da tecnologia ao seu redor, é, em última análise, um bem ambiental que vem e retorna à natureza. A poluição dos ecossistemas relacionados com a água ameaça diretamente a saúde e a subsistência das pessoas, bem como os desenvolvimentos econômicos, políticos e de segurança dentro dos países e em suas relações com outros países.

Globalmente, mais investimentos precisam ser canalizados para melhorar a qualidade da água. “Apenas 4% dos investimentos no setor de água estão indo para soluções baseadas na natureza, ou verdes, apesar dos co-benefícios comprovados, inclusive para a qualidade da água”, diz a especialista em Meio Ambiente da ONU, Elisabeth Mullin Bernhardt.

“É por isso que as soluções baseadas na natureza para a água estarão no centro do Dia Mundial da Água deste ano, do Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento da Água e da Semana Mundial da Água de Estocolmo”.

A remoção de traços de drogas em fontes de água não é apenas um problema para as estações de tratamento de águas residuais, mas também para a indústria farmacêutica e para os governos. Líderes de negócios e formuladores de políticas em todo o mundo devem tomar nota e agir de acordo com o princípio da precaução na tomada de decisões ambientais.

Os ecossistemas de água doce são desproporcionalmente importantes e estão sob ameaça. Lagos, rios e zonas úmidas são essenciais para a vida humana, a saúde e a subsistência. Eles fornecem diretamente nossa água para alimentação, indústria e para fins de consumo.

A Semana Mundial da Água, que acontece em Estocolmo de 26 a 31 de agosto de 2018, será uma oportunidade para aumentar a conscientização e encontrar soluções para as questões mais prementes relacionadas à água de hoje.

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