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Carta emocionante autoriza doação de cão após morte de tutor em guerra

11 de maio de 2018
6 min. de leitura
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Um soldado do Exército dos Estados Unidos foi convocado a servir o país na guerra do Iraque e, sabendo que corria risco de morte, decidiu deixar o cachorro tutelado por ele em um abrigo para animais junto de uma carta autorizando a doação do cão caso ele morresse.

(Foto: Divulgação)

O objetivo de Paul Mallory era regressar da guerra e buscar o cachorro no abrigo e, por isso, a ONG só foi autorizada a doar o cão para outra pessoa caso o soldado morresse.

O temor de Mallory se concretizou e, após ele perder a vida no Iraque, o cachorro, da raça labrador, foi disponibilizado para adoção e, em seguida, encontrou um novo lar. Entretanto, questões comportamentais, como não responder quando era chamado pelo nome e não obedecer ordens, fizeram com que o novo tutor decidisse devolver Reggie, como era chamado o cão, ao abrigo. “Ele roeu alguns sapatos e algumas caixas. Fui muito rígido com ele e ressentiu-se, consegui notar”, disse o homem.

A decisão do tutor de Reggie, no entanto, não durou muito tempo. Isso porque, ao procurar o número de telefone da instituição de proteção animal, para ligar e avisar que devolveria o cão, o homem encontrou a carta do antigo tutor de Reggie que, até então, não havia sido lida. Após ler as palavras do soldado Paul Mallory, o homem desistiu de devolver o cão e decidiu começar do zero, criando uma nova relação com o cachorro.

Na carta, nomeada de “para quem ficar com o meu cão”, Mallory dizia que não estava feliz por ter alguém lendo a carta, já que ele pediu que ela só fosse lida pelo novo tutor de Reggie, e que também não estava satisfeito por escrevê-la. “Se está lendo isto, significa que acabo de regressar do meu último passeio de carro com o meu labrador depois de deixá-lo num abrigo. Ele sabia que algo estava acontecendo. Arrumei a sua almofada e brinquedos e coloquei-os na mala do carro antes da viagem, mas desta vez é como se ele soubesse que algo estava errado. E algo está errado. E é por isso que tenho de fazer a coisa certa”, escreveu o soldado, que afirmou em seguida que escrevia a carta na esperança de que, ao contar sobre o cachorro, o novo tutor tivesse mais facilidade em criar uma ligação com ele.

O documento dizia que Reggie adora brincar com bolas de tênis. “Ele normalmente segura duas na boca e tenta agarrar uma terceira”, afirmou Mallory, que alertou o novo tutor do cão para tomar cuidado ao brincar com ele e não jogar a bola perto da estrada, pois o cão certamente iria atrás e um acidente poderia acontecer. “Uma vez cometi esse erro e quase lhe custou a vida”, lamentou.

Informações sobre como o cachorro deveria ser alimentado e a respeito das vacinas também constavam na carta. “Agenda de alimentação: duas vezes ao dia, uma vez cerca das sete da manhã, e outra às seis da tarde. Comida para cão de loja normal, o abrigo sabe a marca”, disse. “Ele tem as vacinas em dia. Ligue para a clínica na 9th Street e atualize a informação deles com a sua. Eles irão se certificar de lhe enviar lembretes para as próximas. Fique desde já informado: o Reggie odeia o veterinário. Boa sorte na hora de colocá-lo dentro do carro. Não sei como é que ele sabe quando é para ir ao veterinário, mas ele sabe”, acrescentou.

O antigo tutor de Reggie pediu ainda que o novo responsável pelo cachorro dê um tempo a ele, já que o animal estava acostumado a viver ao lado de Mallory e certamente sentiria falta disso. “Nunca fui casado, por isso foi sempre o Reggie e eu toda a vida dele. Ele foi a todo o lado comigo, por isso, por favor, inclua-o nos seus passeios de carro diários, se puder. Ele se senta no banco de trás e não late nem se queixa. Apenas adora estar com pessoas, e comigo em especial. O que significa que esta transição vai ser difícil, com ele indo viver com alguém novo”, contou.

As palavras do antigo tutor não só trouxeram mais informações sobre o cachorro, como explicaram porque ele não atendia quando era chamado pelo nome. “O nome dele não é Reggie. Não sei o que me fez fazê-lo, mas quando o deixei no abrigo, disse-lhes que o nome dele era Reggie. Ele é um cão esperto, vai se habituar e vai responder ao nome, não tenho dúvida. Mas simplesmente não conseguia aguentar dar-lhes o nome verdadeiro dele. Para mim, fazê-lo era como se ao entregá-lo ao abrigo estivesse admitindo que nunca mais o voltaria a ver. E se eu acabar por regressar, e ir buscá-lo, e rasgar esta carta, significa que está tudo bem. Mas se outra pessoa está lendo-a, bem… significa que este novo tutor deve saber o nome verdadeiro. Irá ajudar a criar laços com ele”, disse. “O nome verdadeiro dele é Tank”, completou.

Mallory afirma ainda que se o novo tutor de Tank está lendo a carta é porque o nome do soldado talvez tenha aparecido no jornal através de notícias sobre a morte dele. “Eu disse ao abrigo que não podiam disponibilizar o Reggie para adoção até que recebessem uma palavra do meu comandante de companhia. Sabe, os meus pais faleceram, não tenho irmãos, ninguém com quem pudesse deixar o Tank… e foi o meu único verdadeiro pedido ao Exército quando ocorreu o meu destacamento no Iraque, que fizessem um telefonema para o abrigo no caso de uma eventualidade, para lhes dizerem que o Tank poderia ser dado para adoção. Felizmente, o meu coronel é um tipo que gosta de cães, também, e sabia para onde o meu pelotão se dirigia. Ele disse que o faria pessoalmente. E se está você está lendo isto, então ele cumpriu a sua palavra”, afirmou.

Ao final da carta, o soldado conta que o cachorro foi a família dele nos últimos seis anos e que agora ele espera e reza que o novo tutor de Tank também permita que ele seja parte da família e que o cão se adapte ao novo lar e ame o novo tutor como amava Mallory.

“O amor incondicional de um cão foi o que levei comigo para o Iraque como inspiração para fazer algo altruísta, para proteger pessoas inocentes daqueles que fariam coisas terríveis e para impedir aquelas pessoas horríveis de virem para cá. Se tive que deixar o Tank para o poder fazer, ainda bem que o fiz. Ele era o meu exemplo de amor. Espero que o tenha honrado com o meu serviço ao meu país”, escreveu.

O soldado contou ainda que havia tirado aquela tarde em que escreveu a carta para deixá-la no abrigo. “Acho que não voltarei a dizer outro adeus ao Tank. Chorei muito da primeira vez. Talvez o venha observar e veja se ele conseguiu pôr aquela terceira bola na boca. Boa sorte com o Tank. Dê-lhe um bom lar, e um beijo extra de boa noite – todas as noites – por mim. Obrigado”, disse Mallory ao concluir a carta e assinar o próprio nome.

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