O pequeno dodô “é a última espécie sobrevivente do seu gênero”, disse Rebecca Stirnemann, que trabalha na ONG Forest & Bird, em entrevista ao The Guardian. “As espécies fijiana e tonganesa do pequeno dodô estão ambas extintas. É o pássaro nacional de Samoa”.
Stirnemann, bióloga e conservacionista da Nova Zelândia, passou os últimos oito anos de sua vida trabalhando em Samoa para proteger a ave quase extinta, que é conhecida localmente como manumea. A bióloga aponta três ameaças à manumea ou ao dodô: destruição da floresta na ilha, mamíferos invasores (especialmente gatos) e a caça aos pombos.
A caça aos pombos não tem como foco o pequeno dodô, mas ao caçadores atirarem no Pacífico imperial visando atingir outras espécies de pombos, às vezes matam o pequeno dodô de forma “acidental”. “É urgente a ação para parar [a caça aos pombos]”, reforça Stirnemann, que recentemente detalhou a crise em um artigo sobre Biodiversidade e Conservação. O comércio de pombos foi proibido em Samoa desde 1993, mas a lei é amplamente desrespeitada.
Há poucas fotos de qualidade que mostrem o pequeno dodô. Muitas vezes, a foto é de um animal morto, ou com um tiro que faz o dodô parecer como um abutre. A espécie é bela e bastante colorida: com a cabeça e peito azul-acinzentados e asas vermelhas. A evidência genética mostra que o pequeno dodô foi o primeiro de seus parentes a ramificar-se, tornando-o o mais antigo dos primos do dodô.
A espécie é tão rara que o programa Edge of Existence da Zoological Society of London (Beira da Existência da Sociedade Zoológica de Londres, em tradução literal) colocou o pequeno dodô como o número 16 na lista das 100 aves evolutivas distintas e globalmente ameaçadas.
Stirnemann e sua equipe conduziram inúmeras pesquisas para a ave, resultando em descobertas que mostram que a espécie está ainda em maior risco do que se acreditava. A melhor estimativa é que menos de 250 aves ainda sobrevivem, e o número real pode ser menor. Entretanto, conservacionistas receberam uma boa notícia em 2013, quando puderam confirmar que a ave ainda está se reproduzindo.
Em entrevistas com cerca de 30 caçadores, a equipe descobriu que quase um terço havia acidentalmente matado mais de um pequeno dodô enquanto caçava. Dois pássaros foram atingidos recentemente em 2016.
Um banco de dados do governo ajudou os cientistas a estimar que o comércio ilegal de pombos em Samoa mata entre 22 a 33 mil pombos por ano. “O governo está aplicando uma campanha para conscientizar esse problema nas aldeias”, disse a bióloga. “Eles estão fazendo um bom trabalho, mas ainda é preciso fazer mais para salvar o pequeno dodô”.
O comércio de pombos na ilha de Samoa não tem relação com a busca por alimento barato, pelo contrário: a população mais rica de Samoa é quem se alimenta de quase metade dos pombos mortos na ilha, já que são a carne mais cara no local – nove vezes mais cara que a carne de frango.
Várias organizações estiveram envolvidas em pequenos esforços de conservação do pequeno dodô, incluindo a Fundação Rufford, a Sociedade de Proteção ao Meio Ambiente de Falease (uma ONG local), o Zoológico de Auckland e o governo de Samoa. Porém, mais fundos e esforços da comunidade internacional são urgentemente necessários para que a espécie seja retirada da beira da extinção.