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Considerações sobre a guerra civil síria que já matou mais de 470 mil pessoas

6 de março de 2018
2 min. de leitura
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Crianças têm sido as principais vítimas (Foto: AFP)

A batalha em Ghouta Oriental, na Síria, deixou mais de 600 mortos, principalmente crianças, desde o último dia 18 de fevereiro – 393 mil pessoas estão presas no cerco. De acordo com o Centro Sírio de Pesquisas Políticas, 470 mil pessoas já morreram desde o início da guerra civil síria em 2011. E cerca de cinco milhões já deixaram o país. Os dois lados já cometeram atrocidades, logo crimes contra a humanidade, ao longo dos anos. E claro, já foram financiados por “grandes e persuasivas nações”. Mais uma vez, seres humanos brigando por território ao custo de muitas mortes. De que adianta conquistar um território e perder muitas vidas? Qual é a coerência disso?

Veja a história da humanidade; civilizações e cidades que desapareceram por causa de guerras, restando apenas ruínas. É esse o presente que amargamos e o futuro que esperamos para a humanidade? Acredito que não seja novidade que os verdadeiros comandantes das guerras costumam ser aqueles que na realidade não vão à guerra, e pouco se importam, de fato, com aqueles que morrem nela; menos ainda se são inocentes – algo que chamam de “efeito colateral”. Simplesmente enviam seus intratáveis, inclementes, tolos ou ingênuos asseclas para matar ou morrer.

Quanto mais baixo o nível intelectual, mais fácil a persuasão. Egotismo, fundamentalismo religioso, ufanismo, patriotismo, nacionalismo, antropocentrismo, etnocentrismo ajudando a afundar a humanidade mais um pouco, e arrastando aqueles que nunca tomaram parte nessas ações – ideológicas ou não. Enquanto a vida não for vista como parte de uma unidade geral que deveria ser respeitada porque é essencialmente indissociável em termos de valores, para além das origens e de outras disparidades, vamos continuar cometendo os mesmos erros do passado; erros estes que por sinal podem ter até mais motivação econômica do que ideológica.

Às vezes, o que na realidade significa todo dia, penso em quantos seres humanos e não humanos estão morrendo enquanto digito algumas palavras. A vida vale pouco ou nada para aquele que não respeita nem a sua própria humanidade, logo menos ainda o direito dos outros. Creio, e há muito tempo, que guerra entre mocinhos e vilões é mais parte de uma fantasia, um conto romanesco, do que de uma realidade concreta, ponderando que em uma guerra os excessos são práticas usuais dos dois lados quando se visa atingir um fim.

Se alguém busca reparação por meio da violência, é preciso estar preparado para um possível ciclo interminável, como já havia referenciado Ismail Kadaré no romance “Prilli i Thyer” ou “Abril Despedaçado”. Talvez o símbolo que melhor represente a fealdade e a intransigência humana dos tempos atuais seja um ouroboros, a serpente que engole a própria cauda – e não no sentido simbólico mais auspicioso.

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