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Carne alemã contribui para desmatamento na América do Sul

29 de março de 2018
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A carne consumida na Alemanha é responsável pelo desmatamento na América do Sul. É o que aponta um relatório da organização de proteção ambiental Mighty Earth.

Soja utilizada para alimentar animais é responsável por expansão do desmatamento (Foto: Reprodução/TV Morena)

De acordo com o estudo, milhares de hectares do Gran Chaco – região localizada na fronteira entre Argentina, Bolívia e Paraguai e que inclui parte do Pantanal brasileiro – são desmatados para o cultivo de soja que alimenta bois explorados para consumo humano na Alemanha e em outros países da Europa.

O desmatamento, porém, não é o único problema. A organização denuncia ainda o uso de “enormes quantidades de fertilizantes químicos e pesticidas tóxicos, como o produto fitossanitário glifosato”.

Três quartos da soja produzida no mundo é utilizada para alimentar animais, segundo a Mighty Earth. Em 2016, um total de 27,8 milhões de toneladas de soja foram exportadas da América Latina para a Europa, sendo que 3,7 milhões de toneladas de grãos e farinha de soja foram destinadas, anualmente, à Alemanha.

“Assim que a soja chega à Alemanha, é comprada por produtores de ração para animais ou de carne e usada para criação de animais. De lá [dessas empresas], a soja chega a supermercados e restaurantes e é comprada pelos consumidores”, alerta a organização.

A organização lembra que redes de supermercado na Alemanha frequentemente vendem salsichas, Schnitzel e hambúrgueres como sustentáveis e de origem local, mas não revelam as terríveis consequências geradas pela produção de grãos utilizados para alimentar os animais que, depois de serem covardemente mortos, dão origem a esses produtos. “[Mas] enquanto o frango e a carne suína e bovina vendidos por eles [supermercados] normalmente são criados na Alemanha, os alimentos desses animais costumam ser comprados a milhares de quilômetros de distância e, assim, têm consequências muito mais amplas para o meio ambiente”, afirma a Mighty Earth.

A Holanda, a França e a Espanha também estão entre os países que mais importam soja da América Latina, ao lado da Alemanha, segundo a organização de defesa do meio ambiente. As informações são do portal G1.

De acordo com as pesquisas da Mighty Earth, a soja utilizada como ração animal na Alemanha contribui para o avanço, especialmente, do desmatamento nos dois principais produtores de soja na América do Sul: Argentina e Paraguai. “Os resultados batem com o nosso estudo anterior sobre o desmatamento em grande escala para a produção de soja no Cerrado brasileiro e na Bacia Amazônica na Bolívia. Somados, esses quatro países são responsáveis pela maior parcela da produção de soja latino-americana”, explica a Mighty Earth.

O estrago causado pela soja destinada à alimentação animal, entretanto, poderia ser evitado. “Há mais de 650 milhões de hectares já desmatados só na América Latina”, afirma a organização, que acredita que essas áreas deveriam ser usadas para o cultivo de soja “sem ameaçar os ecossistemas nativos”.

“Especialistas que conseguiram praticamente eliminar o desmatamento para a soja na região amazônica do Brasil estimam que a ampliação do sistema de vigilância da floresta a outras regiões produtoras de soja latino-americanas – incluindo o Gran Chaco – custaria apenas entre 750 mil e um milhão de dólares”, afirma a Mighty Earth ao falar da chamada “Moratória da soja”, um pacto ambiental firmado em 2006 por ONGs de proteção ambiental e empresas que produzem soja, como a Cargill e a Bunge.

“Infelizmente, essa iniciativa se restringe apenas à região amazônica brasileira, possibilitando a continuidade do amplo desmatamento na Argentina, no Paraguai, na Bolívia e no Cerrado brasileiro”, denuncia a organização.

As respostas dadas por empresas alemãs que utilizam soja nas cadeias produtivas ou de fornecimento, segundo a consultora da Mighty Earth, Tina Lutz, evidenciaram que “não existe um sistema exato o suficiente para que as empresas reconheçam a origem da soja que utilizam ou para que constatem se os seus produtos contribuem para a destruição do meio ambiente”.

O pedido da organização é que as empresas produtoras de soja ampliem o sistema da Moratória da Soja a outras áreas na América Latina, incluindo o Gran Chaco, e que as empresas alemãs compradoras de soja aumentem o controle sobre a origem do grão para que seja adotada uma política de preservação das florestas.

“Já que 97% da soja usada para a produção de ração na Europa são importados, é responsabilidade da Europa exigir que essa soja não contribua para o desmatamento das florestas e [a destruição] dos ecossistemas locais”, conclui a Mighty Earth.

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