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Juventude chinesa simboliza esperança para um futuro sem exploração animal

31 de janeiro de 2018
5 min. de leitura
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Seu destino era Jilin, um dos principais mercados de carne de cachorro do país.

A China proibiu o comércio de marfim no início deste ano/Foto: Brent Stirton, National Geographic

Um ativista viu o caminhão e começou a blogar a sua localização. Em pouco tempo, cerca de 30 pessoas estavam seguindo o caminhão pela rodovia e a polícia local encontrou o motorista. Comer carne de cachorro não é contra a lei, mas é ilegal transportá-los sem certificações de saúde e esse motorista tinha documentos para apenas 110 dos 400 cães. Voluntários cercaram mais quatro caminhões que transportavam cães e, naquele dia, mais de 2.400 cães foram resgatados. Milhares de pessoas de todo o país se uniram para ajudar a encontrar abrigo para eles. Algumas famílias até recuperaram animais sequestrados.

Em apenas alguns dias, quase todos os cães tinham encontrado um novo lar.   O papel da China na condução de negócios exploratórios e, às vezes, ilegais de animais – desde a carne de cachorro até osso de tigre, bile de urso e barbatana de tubarão – é frequentemente noticiado. Porém, é cada vez mais comum ouvir histórias sobre a compaixão por animais, domésticos e selvagens, como este resgate. Não foi a primeira ou a última vez em que cães foram salvos da morte na China, mas este caso foi um dos maiores. Os ativistas e organizações chinesas lutam há anos para acabar com os assassinatos. “É simplesmente maravilhoso, você não ouve sobre isso na Coreia”, diz Peter Li, professor da University of Houston-Downtown e especialista em política da China na Humane Society International.

Um robusto movimento de proteção animal

É fácil enxergar a China como uma vilã quando se trata de proteger os animais. Na realidade, o país também possui um movimento de proteção animal robusto e em rápido crescimento que inclui o bem-estar dos animais e os esforços para combater a caça e o tráfico de espécies selvagens.
Segundo Li, em 1992, havia apenas uma organização de proteção animal registrada que participou da conferência anual da Humane Society e da Animals Asia. Em 2006, o número aumento. Atualmente, ele diz que há pelo menos 200 organizações de direitos animais registradas. Além disso, existem centenas de abrigos e centros de resgates de animais, revela a National Geographic.

Mary Peng é a fundadora de um desses grupos, o International Center for Veterinary Services, a primeira dessas instalações a ter padrões internacionais na China. Ela fundou o hospital após um problema de saúde com seu gato, Boo Boo, em 2002, e descobriu que a China Agricultural University era praticamente o único hospital animal em Pequim e eles não tinham recursos para cuidar do gato. “Foi muito desesperador. Como tutora de um animal doméstico, antes da abertura do ICVS, não tínhamos recursos. Não tivemos opções”, disse.

Ela estima que, atualmente, Pequim possui cerca de 400 hospitais e clínicas de animais. Isso é insuficiente para os 22 milhões de habitantes da área, mas mostra o crescimento do setor.

De acordo com Li e outros especialistas, as mudanças têm sido conduzidas pela geração mais jovem da China em cidades metropolitanas costeiras. “Devido ao aumento do nível de vida, as pessoas já não estão obcecadas com a comida na mesa”, diz. Isso, somado a uma maior exposição na mídia internacional, desperta a atenção para novas questões, como a proteção animal, revela a National Geographic.

Uma nova definição de riqueza é outro impulsionador. Li explica que a geração mais velha é fixada no marfim como um símbolo de status. Em chinês, a palavra “marfim” é xiangya, que significa “dente de elefante”. Muitas pessoas acreditam  que o marfim pode ser retirado de um elefante sem machucar os animais. Em 2007, o  International Fund for Animal Welfare descobriu que 70% dos entrevistados não sabiam que um elefante era morto para arrancar seu marfim.

Mãe e filha em festival vegano na China/ Foto: Alex Hofford, EPA/REDUX

Já os chineses mais jovens provavelmente são mais conscientes desse problema.  Outro sinal que mostra uma mudança no país é o fechamento recente do mercado doméstico de marfim, que incentiva a caça de elefante africanos.  A repressão à corrupção também ajudou a promover mudanças. As vendas de barbatanas de tubarão, por exemplo, caíram 70% nos últimos anos. A sopa de barbatana de tubarão é considerada uma iguaria luxuosa servida em banquetes para funcionários do governo. Esta prática foi restringida pela campanha de combate à corrupção do presidente Xi Jinping.

Aproximadamente 100 milhões de tubarões são mortos a cada ano, alguns dos quais são espécies ameaçadas ou vulneráveis, principalmente para atender a demanda na China para a sopa de barbatana de tubarão. Arepressão também impactou a sopa de ninhos de pássaros e outras “iguarias” feitas com animais silvestres.

As crianças também estão aprendendo mais nas escolas sobre cuidados com animais, espécies selvagens e proteção. Além disso, o crescente número de animais domésticos nas cidades chinesas também parece ser um grande responsável por esse cenário.

Até recentemente, quase não se sabia sobre cães domésticos no país. Durante a Revolução Cultural, de 1966 a 1976, os animais considerados inadequados não eram bem-vindos, diz Peng.
Depois de 1976, quando a China emergiu da revolução, o número de cães caiu ainda mais. Uma epidemia de raiva entre 1980 e 1990 deixou cerca de 50 mil pessoas mortas, sendo que quase todas foram infectadas pelos animais. Não havia vacinas e os hospitais funcionavam mal. Pequim proibiu a tutela de cães. Foi apenas em 1993, depois que a proibição foi cancelada, que a reputação dos cães começou a mudar.

 

 

 

 

 

 

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