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Investigação expõe o trauma de chimpanzés vítimas do tráfico de animais

18 de janeiro de 2018
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A carga foi isenta de tarifas alfandegárias e de quarentena – graças a um suborno de £ 4,400, dizem investigadores, e foi pega por revendedores de pássaros locais em Katmandu. Eles não sabiam que eram observados por um esquadrão especial da polícia nepalesa, que investigava uma importante rede internacional de tráfico de animais selvagens.

Foto: New York Times/Redux/eyevine

Havia também dois bebês chimpanzés encolhidos de medo depois de serem separados de suas famílias mortas em uma floresta africana.

Os animais traumatizados foram transportados por milhares de quilômetros e corriam o risco de morrer sufocados. Eles mal podiam ser detectados escondidos entre as aves e macacos.Os chimpanzés aterrorizados, com apenas um ano, e desidratados são considerados valiosos em um comércio global de grandes primatas que dizima espécies.

Os animais podem ser vendidos por até £ 50 mil para colecionadores abastados na Ásia e no Oriente Médio. Para cada animal sequestrado na natureza, até 10 são mortos por caçadores.

A equipe do Central Bureau of Investigation observou como a caixa de criaturas foi levada para a base próxima de um dos revendedores. No local, os negociantes foram acompanhados por um empresário indiano e seu assistente.

A polícia entrou e prendeu os quatro homens suspeitos de fazer um acordo clandestino para enviar os animais para a Índia, que divide fronteiras abertas com o Nepal.

Foto: New York Times/Redux/eyevine

Um oficial da alfândega, suspeito de ser uma figura central no tráfico de espécies raras, também foi preso, juntamente com outros três embora outros 11 funcionários acusados de possuir relação com a gangue criminosa não terem sido presos.

Outro alvo da Operação Wild Eagle foi preso quando foi para um hotel em Catmandu logo após desembarcar no Nepal, que se tornou um dos principais pólos do do tráfico de animais selvagens.

Um aduaneiro, suspeito de ser uma figura central no contrabando de espécies raras, também foi preso, juntamente com outros três – embora 11 mais funcionários acusados de vínculos com a gangue criminosa não foram presos.

Mas um alvo da Operação Wild Eagle foi apanhado quando ele dirigiu-se a um hotel em Catmandu logo após o desembarque no Nepal, que se tornou um dos principais pólos do mundo obscuro do tráfico de animais selvagens.

Seu nome é Jawaid Aslam Khan, um homem de 55 anos de Karachi, no Paquistão, que finge ser um homem de negócios, um amante de animais e que se vangloria de ter leões e pumas em sua residência.

Os investigadores acreditam que ele pode ser uma figura significativa no mundo do tráfico de animais no qual bebês primatas são enviados em terríveis condições para colecionadores em todo o mundo.

Eles se perguntam se ele pode ser a figura conhecida como ‘Jawaid Chimpanzee’ nos fóruns secretos onde as negociações ilícitas são realizadas.

Há suspeitas de que Khan, cujos sites de mídia social mostram que rotineiramente tem contato com bebês chimpanzés e outros animais raros, como filhotes de tigre branco, juntamente com armas de fogo, tornou-se um dos principais atores de uma indústria cruel.

Os grandes primatas estão entre os animais mais inteligentes e protegidos do mundo e é proibido comercializá-los, exceto por centros de criação certificados. Eles se tornaram uma parte altamente lucrativa do comércio da vida selvagem e bebês gorilas são vendidos por até £ 200 mil.

Foto: New York Times/Redux/eyevine

Ao contrário do comércio de marfim  ou de chifres de rinoceronte, a prática precisa  do trânsito rápido de animais vivos. Muitas vezes, os animais são drogados e amontoados em malas ou outros contentores: um bebê chimpanzé foi descoberto em uma bagagem de mão no aeroporto do Cairo.

Os compradores são famílias ricas do Golfo Árabe e da Ásia, que frequentemente mantêm os animais em jaulas, vestem-nos com roupas infantis, os matam ou os vendem quando eles ficam mais agressivos.

Alguns também são ensinados a fumar, forçados a usar maquiagem ou simplesmente espancados para realizar truques, informa o Daily Mail.

Muitos são explorados para fotos com turistas, em shows ou sofrem aprisionados durante décadas em zoos. Alguns primatas ficam enraivecidos, o que dificulta a reabilitação caso o resgate ocorra.

Especialistas temem que muitos primatas são traficados mensalmente e muitos durante a viagem. “Estamos apenas começando a entender a escala disso. É um mercado incrivelmente brutal com animais muito frágeis”, disse Doug Cress, chefe-executivo do World Association of Zoos and Aquariums.

É por isso que a operação no Nepal representa um avanço significativo, pois geralmente são capturados caçadores e comerciantes de baixo nível na África  e não as pessoas suspeitas de utilizar redes internacionais sofisticadas de tráfico.

Os investigadores nepaleses acreditam que Khan também enviava chimpanzés para Bangladesh, Tailândia e diversos outros países.

Khan, atualmente sob custódia no Nepal, é uma figura familiar para aqueles que combatem a prática, aponta Daniel Stiles, um ativista que mora no Quênia. Ele desenvolveu uma rede de informantes e digitaliza sites e redes sociais obscuros.

As postagens nas mídias sociais de Khan, descobertas por Stiles, também mostram outras imagens de espécies ameaçadas de extinção e armas. Ele faz viagens frequentes ao Kano, na Nigéria – um local conhecido para o tráfico de animais selvagens e realizou diversas viagens a Istambul, um ponto de trânsito.

Outras publicações recentes revelam girafas e hipopótamos colocados em caixas e caminhões. Há fotos de caixas de madeira marcadas como “animais vivos” em uma pista de decolagem próxima a uma aeronave, além de uma mensagem de um funcionário de uma empresa africana relacionada ao de aves e carne de caça.

Muitos traficantes possuem empresas que também comercializam legalmente os animais. Isso ajuda a esconder atividades ilícitas que possuem a ajuda de funcionários corruptos para escapar da alfândega.

Um relatório que tem sido feita pela Global Financial Integrity, um grupo de pesquisa de Washington (EUA), mostrará que o comércio de chimpanzés vale US$ 10 milhões por ano – embora aqueles que capturam os animais ganhem £ 36 por cada animal.

“Este é um negócio muito bem organizado. Você precisa de organização e habilidades para transportar esses animais. Muitos comerciantes gerenciam empresas que manipulam documentos para que as movimentações pareçam legítimas”, disse Channing May, analista de políticas.

Foto: New York Times/Redux/eyevine

O impacto do tráfico é catastrófico. Acredita-se que cerca de 300 mil chimpanzés vivam na natureza, onde enfrentam ameaças de crescimento populacional, perda de habitat, conflitos com humanos e a caça. Eles já foram dizimados em quatro países. Os caçadores destroem suas famílias ou grupos sociais para sequestrar um bebê e vendem os animais mortos.

Os chimpanzés adultos são frequentemente mais fortes que os humanos e podem mostrar sua fúria. Alguns prisioneiros têm os dentes separados, os polegares amputados ou são espancados para serem controlados.

Um estudo histórico da ONU informou que 1800 primatas foram descobertos em 23 países enquanto estavam sendo traficados entre 2005 e 2011. Porém, no mesmo período, houve apenas 27 prisões na África e na Ásia e alguns criminosos saíram impunes.

No entanto, há boas notícias. Os dois chimpanzés de Katmandu ficaram amigos e estão se recuperando bem do trauma no zoo do Nepal. Os especialistas esperam os resultados dos testes de DNA para descobrir se eles são da Nigéria ou de outro país africano para colocá-los em um santuário.

“Eles podem ter um final feliz e, com sorte, viver mais 60 anos. Entretanto, infelizmente, milhares de chimpanzés menos afortunados morrerão devido a esse comércio cruel”, declarou Cress.

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