Um audiência conjunta das Comissões Extraordinária de Proteção dos Animais e de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) foi realizada para discutir o uso de charretes em cidades históricas.
Os críticos à utilização dos veículos de tração animal afirmam ser inconcebível que a tradição histórico-cultural sirva de justificativa para maus-tratos aos animais. Segundo eles, a substituição dos cavalos por veículos motorizados trariam apenas benefícios às famílias que ganham a vida com o turismo na região.
O deputado Noraldino Júnior (PSC), entusiasta da causa e que solicitou a audiência, inclusive sugeriu à Prefeitura de Tiradentes a adoção de um projeto-piloto no município. A ideia é substituir, gradativamente, os animais por quadriciclos. Os veículos disponibilizados para que a iniciativa seja testada seriam custeados com emendas parlamentares de sua autoria.
Noraldino Júnior contou ter presenciado, em visitas à cidade, agressões a cavalos, que também sofreriam com a sobrecarga de peso – às vezes, famílias inteiras seriam transportadas pelas charretes.
Outro ponto abordado pelo parlamentar é o destino desses cavalos, comumente abandonados ou vendidos para matadouros clandestinos quando não possuem mais condições físicas para o trabalho.
Deputados como Ivair Nogueira (PMDB) e Fabiano Tolentino (PSB) defenderam a utilização das charretes. Ivair afirmou que eventuais desvios, como o tratamento inadequado dos animais, devem ser combatidos com ações de conscientização e fiscalização.
O vice-prefeito de Tiradentes, Luiz Carlos Barbosa, também favorável às charretes, informou que a administração municipal contratou um veterinário para prestar assistência aos charreteiros e está providenciando um espaço onde possam ser instaladas baias. A ideia é que os cavalos possam descansar e se alimentar no local no intervalo dos passeios. A proposta, entretanto, lamentavelmente não coloca fim à exploração dos cavalos, já que trabalha com a ideia de mantê-los no trabalho forçado.
MAUS-TRATOS – Membro do Núcleo de Assistência à Saúde Veterinária da Polícia Militar, Bárbara Goloubeff relatou não ser incomum encontrar animais desnutridos, doentes e exaustos sendo obrigados a carregar peso.
Em relação à tradição dos passeios de charretes nas cidades históricas, ela lembrou que lutas mortais entre gladiadores e outras práticas hoje consideradas absurdas já foram parte importante da cultura de muitas sociedades. “Em Paquetá (RJ), há veículos movidos à energia solar estilizados para parecem charretes”, citou, como um exemplo que pode ser seguido.
Ativista alega ter sido agredida por charreteiros
A audiência também foi convocada para que fosse discutida a agressão sofrida pela protetora dos animais Luanda Conrado. Um mal-entendido estaria por trás do incidente: Luanda participou, na companhia do deputado Noraldino Júnior, de uma reunião na Prefeitura de Tiradentes sobre a castração gratuita de animais abandonados. Os charreteiros, no entanto, acreditavam ser ela a responsável por levantar a questão da proibição dos passeios de charrete no município, iniciativa encampada pelo parlamentar.
Luanda afirma que ela e seu marido foram encurralados na rua e agredidos. Ela mostrou vídeos do incidente e áudios de charreteiros se vangloriando por tê-los repreendido de maneira agressiva.
Todos os participantes da audiência destacaram a gravidade do fato e condenaram as agressões. “Já fizeram o mesmo com jornalistas, donos de pousadas e outros ativistas. Não tive o apoio de nenhuma autoridade da cidade”, relatou Luanda. “Já que me colocaram no meio dessa questão das charretes, me prontifico a defender os cavalos de abusos”, acrescentou.
Nota da Redação: solicitar medidas de conscientização e aumentar a fiscalização não são ações suficientes quando se trata da exploração de cavalos obrigados a puxar charretes. Cavalos, assim como qualquer outro animal, devem ser vistos como sujeitos de direito e, como tais, precisam ter a garantia de não serem colocados para trabalhar de forma forçada, sem que recebam nada em troca, além de exploração.
Cavalos não podem ser obrigados a puxar charretes para benefício humano, já que todo animal existe para viver de acordo com seus propósitos, instintos e vontades, e não para servir às pessoas. O lugar do cavalo é na natureza, livre para realizar as atividades que ele mesmo decide fazer e não preso a uma charrete, sendo obrigado a obedecer às ordens dos seres humanos.
As informações são do portal da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.