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Bebês elefantes são espancados e condenados a uma vida em cativeiro na China

5 de outubro de 2017
6 min. de leitura
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Essas capturas geralmente são mantidas o mais secretas possível. Neste caso, foi adotado o procedimento rotineiro. Primeiro, um rebanho ”viável” foi identificado. Em seguida, um helicóptero pega os elefantes mais jovens com um sedativo disparado de um rifle. Conforme os animais entram em colapso, o piloto joga uma bomba no local, de modo que o resto do grupo, que tenta ajudar os animais caídos, é mantido a distância. Uma equipe se aproxima a pé dos elefantes sedados e os arrasta para os caminhões.

Elefanta é repetidamente chutada na cabeça
Elefanta é repetidamente chutada na cabeça/ Foto: The Guardian

Uma série de clipes e fotografias isoladas fornecidos ao The Guardian por uma fonte anônima associada à operação documenta o momento em que os agentes correm para a floresta e amarram um jovem elefante. Os elefantes se reúnem em um recinto de espera próximo ao principal acampamento turístico de Hwange.

Na parte mais perturbadora do vídeo, uma pequena elefanta, que deve ter em torno de cinco anos, é vista em pé no caminhão. Seu corpo é fortemente amarrado com duas cordas ao veículo. Apenas alguns minutos depois de ser arrancada da natureza, ela ainda se sente atordoada com o sedativo e é incapaz de compreender que os oficiais querem que ela volte para o caminhão. Por isso, eles a espancam, torcem sua tromba, puxam-na pelo rabo e repetidamente chutam sua cabeça.

No total, 14 elefantes foram sequestrados durante este período, de acordo com a fonte, que pediu anonimato por medo de retaliações. A intenção era conseguir mais elefantes, mas o helicóptero caiu durante uma das operações. Estima-se que entre 30 e 40 elefantes tenham sido capturados no total. Os animais agora estão presos em uma instalação dentro de Hwange chamada Umtshibi, informou a fonte.

Uma especialista que revisou as fotografias, Joyce Poole, especialista no comportamento de elefantes e co-diretora da organização ElephantVoices, sediada no Quênia, disse que os elefantes estavam “agrupados” porque ficaram apavorados.

Audrey Delsink, ecologista comportamental de elefantes e diretora- executiva da Humane Society International Africa, também analisou as fotos e filmagens. Ela acredita que a maioria dos elefantes tem entre dois e quatro anos. “Basicamente, esses bebês acabaram de ser desmamados ou estão a um ano ou dois do processo de desmame”, aponta.

Na natureza, os elefantes dependem completamente do leite da mãe até os dois anos e não são totalmente desmamados até completarem cinco anos. Segundo ela, vários filhotes exibiam sinais de estresse. “Muitos dos gestos indicam comportamentos apreensivos e de deslocamento – torção da tromba, curvatura da tromba, toque de rosto, balanço do pé, tremor da cabeça, entre outros”, explicou. A Zimparks foi procurada, mas não se manifestou.

O comprador dos jovens animais é um cidadão chinês, revelam fontes internas. Em 2016, ele foi associado a um caso envolvendo 11 hienas selvagens, que foram descobertas em um caminhão no aeroporto internacional de Harare. Os animais foram deixados sem comida ou água durante 24 horas na estrada e estavam em condições de extremo estresse, desidratados e magros e, em alguns casos, seriamente feridos.

O comércio legalizado de animais selvagens

Bebês elefantes capturados e aterrorizados
Bebês elefantes capturados e aterrorizados/ Foto: The Guardian

A captura dos bebês elefantes é apenas uma das inúmeras operações que ocorreram no Zimbábue e em todo o continente ao longo de várias décadas. Nove elefantes foram exportados da Namíbia para o México em 2012, seis da Namíbia para Cuba em 2013 e mais de 25 do Zimbábue para a China em 2015.

Em 2016, os EUA importaram 17 elefantes da Suazilândia, apesar dos protestos do público e de ativistas. De 1995 a 2015, mais de 600 elefantes africanos selvagens e 400 paquidermes asiáticos selvagens foram comercializados em todo o mundo, de acordo com uma base de dados da Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (Cites).

Sob a Cites, o comércio de elefantes vivos é legalizado, com algumas regras. O destino deve ser “apropriado e aceitável” e a venda deve “beneficiar” a proteção no país de origem. Porém, os ativistas criticam a prática cruel que dilacera famílias e não contribui para proteger as espécies.  “Não existem critérios que definem o que significa ‘apropriado e aceitável’ e o que realmente contribui para a proteção”, explicou Daniela Freyer, da Pro-Wildlife, uma organização alemã que luta para melhorar a legislação internacional sobre animais selvagens.

“Atualmente, é responsabilidade das autoridades dos países importadores definir e decidir. Não há regulamentos comuns e nenhum monitoramento das condições de captura, do número de animais que têm sido comercializados, onde eles acabarão ou as condições em que serão mantidos no seu destino”, acrescentou.

Também não há monitoramento do requisito de que uma conservação de benefício de venda. Por exemplo, o Zimbábue e a China são os maiores participantes do comércio de elefantes vivos, mas Iris Ho, gerente de programas de animais silvestres da Humane Society International (HSI), diz ter encontrado pouca informação a respeito da chegada dos animais nos importadores: “Não sabemos quantas instalações na China receberam os elefantes importados do Zimbábue durante os últimos anos. Desconhecemos o status desses animais”.

Em 2016, uma delegação de inspetores do Zimparks e da ZNSPCA viajou para a China para visitar as instalações e descobriu que a maioria dos zoos “mostrou sinais de  mau tratamento dos animais”.

No dia 16 de Setembro, a imprensa chinesa anunciou que três elefantes – duas fêmeas e um macho de aproximadamente quatro anos – chegaram ao Lehe Ledu Zoo. As fotos dos elefantes foram examinadas por Poole, que observou que o rosto de uma das fêmeas parecia comprimido e estressado.

A elefanta parecia ter colocado suas presas nas barras em decorrência da frustração. Poole acrescentou que o olhar fundo, os olhos escuros e a pele manchada são constantes em jovens elefantes sequestrados. “Na natureza, você só vê o olhar comprimido e fundo em elefantes doentes ou órfãos”, enfatiza.

A China continua importando os elefantes vulneráveis a uma velocidade semelhante à de uma correia transportadora. De acordo com Ho, algumas pressões para acabar com a prática começam a ser sentidas, mas o país é “influenciado pela visão de que a criação significa proteção. E então, é claro, existe um parceiro disposto no Zimbábue e a emoção dos visitantes de observar os elefantes africanos”,  observa.

É uma vitória para ambas as partes, para os que se beneficiam financeiramente do comércio legalizado de bebês elefantes. “Mas é uma perda  para os animais, tanto os importados quanto os deixados para trás”, finaliza.

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